Ficha do Proponente
Proponente
- Raphael Aragão de Carvalho Cavalcante (UFPB)
Minicurrículo
- Mestrando no Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFPB na linha de pesquisa Culturas Midiáticas do Audiovisual e graduado em Cinema e Audiovisual na mesma instituição. Interessa-se pelos estudos de narrativas seriadas, roteiro e processo criativo. Tem experiência como diretor de fotografia, montador, finalizador e produtor audiovisual em curtas e longas-metragens.
Ficha do Trabalho
Título
- Processo criativo na escrita da série original Netflix “Boca a Boca”
Seminário
- Estudos de Roteiro e Escrita Audiovisual
Resumo
- O trabalho busca investigar o processo criativo na escrita do roteiro e construção da narrativa na série brasileira original Netflix Boca a boca (2020). A equipe é formada por cinco roteiristas e tem como showrunner Esmir filho, e se organiza no formato de sala de roteiristas a partir do conceito americano de writer’s room. Partimos então para estudar esse percurso criativo através de entrevistas e análise de documentos de processo.
Resumo expandido
- A Netflix é uma das principais empresas de serviço de streaming de vídeo sob demanda no mercado, uma vasta biblioteca online de filmes e séries licenciados de diversos produtores e empresas, mas que também produz conteúdo original, contexto em que se encaixa a série brasileira Boca a boca (2020). A série se passa na fictícia e conservadora cidade de Progresso, uma típica cidade pecuarista do interior central do Brasil, e sua trama gira em torno de um grupo de adolescentes que se veem ameaçados por uma doença que se espalha de forma epidêmica através do beijo. Segundo a sinopse divulgada no site da Gullane, produtora da série, a trama é contemporânea e misteriosa, retratando os desejos de uma juventude conectada em uma realidade física repleta de medo e desconfiança.
Ao escrever narrativas seriadas para televisão “você nunca trabalhará sozinho. Séries são como famílias, e mesmo que cada episódio seja escrito por um roteirista, o processo é colaborativo a cada passo” (DOUGLAS, 201, p. 18, tradução minha). Esse ambiente em que as séries são criadas e desenvolvidas é chamado de writers’ room, sala de roteiristas no Brasil. É na sala onde tudo acontece, desde as primeiras conversas sobrea ideia inicial até as últimas versões dos roteiros. Na hierarquia da sala o showrunner é quem gerencia e tem o cargo mais alto, ele é o que conhecemos como produtor executivo, mas, é, sobretudo, roteirista. É também de quem normalmente parte a ideia inicial da história. A sala da série Boca a boca (2020) é composta por Esmir Filho como showrunner, Juliana Rojas, Thais Guisassola, Jaqueline Souza e Marcelo Marchi como roteiristas trabalhando criativamente juntos.
No âmbito da criatividade de acordo com Di Masi (2005, p.22 e 23, apud Salles, 2016, p. 21) “passamos gradualmente de formas individuais a formas coletivas de criatividade, que aprendemos a não depender de gênios singulares, ou melhor, a somar a genialidade individual deles à genialidade coletiva dos grupos organizados para criar emoções e conhecimentos, ciência, arte e tecnologia”. Essas interações entre os sujeitos, que carregam suas constituições culturais e localizações históricas, se somam, se chocam, se multiplicam dentro do processo de criar, são eles “que viabilizam as produções em equipe, que visam uma ação geral ou projeto comum” (SALLES, 2016, p.30). Como se dá esse processo criativo em Boca a Boca dentro do contexto Netflix?
No livro Portals (2017), Amanda Lotz levanta algumas questões de como essas plataformas de distribuição não-linear e baseadas em assinatura podem influenciar no processo criativo. A princípio percebe-se uma liberdade em relação a “limitações características da televisão linear, mantida por anúncios, em que a duração e estrutura dos conteúdos era extremamente reguladas” (LOTZ, 2017, tradução minha), além de inúmeras “considerações” dos estúdios e dos executivos das emissoras. Portanto, nos interessa investigar o processo criativo na escrita dos roteiros e escolhas narrativas da equipe da série Boca a Boca para também refletir como acontece dentro de um ambiente em que a regulação e as lógicas não têm precedentes, e em que “criadores não tem ideia de quantos assinantes assistem as séries e estão dependentes de dados que não são verificáveis externamente”. (LOTZ, 2017, tradução minha).
Parte-se então de uma análise assíncrona, em que não se segue o processo ao mesmo tempo em que acontece, mas o faz de forma retroativa, ao analisar entrevistas com a equipe e documentos produzidos durante o processo de reuniões e escrita da equipe. Salles (2016) ainda chama a atenção dos processos em grupo em que há a “existência de documentos pessoais e outros de natureza mais coletiva, refletindo a inter-relação dos projetos individuais e aqueles do grupo. ” Esses documentos também revelam uma outra função, a de “experimentação”, como diz Salles (2016), o que muito nos interessa.
Bibliografia
- BOCA A BOCA. Criador: Esmir Filho. Brasil. Netflix, 2020.
DOUGLAS, Pamela. Writing the TV Drama Series: How to Succeed as a Professional Writer in TV. 3 edição. Los Angeles: MWP, 2011.
LOTZ, A. D. Portals: A Treatise on internet-distributed television. Published by: Ann Arbor, Ml: Michigan Publishing, University of Michigan Library, 2017. Disponível em :. Acesso: 20 de abril de 2021.
SALLES, Cecilia. A Complexidade dos Processos de Criação em Equipe: uma reflexão sobre a produção audiovisual. Pós-doutorado – Departamento de Cinema, Rádio e TV – Escola de Comunicações e Artes, Universidade de São Paulo, 2016.