Ficha do Proponente
Proponente
- Letícia Coelho Lenz Cesar (UFF)
Minicurrículo
- Graduada em Cinema e Audiovisual pela Universidade Federal do Ceará (2017). Possui pós-graduação MBA em Direção de Arte para Propaganda, TV e Vídeo pela Universidade Estácio de Sá (2020). Atualmente é mestranda do programa de pós-graduação em Cinema e Audiovisual da Universidade Federal Fluminense. Exerceu o cargo de professora substituta do Curso de Cinema e Audiovisual da Universidade Federal do Ceará na área de Som/Realização entre 2018 e 2020.
Ficha do Trabalho
Título
- A Nostalgia como guia narrativo e estético do filme O Menino e o Mundo
Resumo
- Este trabalho realiza uma análise acerca da nostalgia presente na narrativa e na estética visual do filme O Menino e o Mundo, do diretor Alê Abreu. A pesquisa é executada a partir de uma revisão bibliográfica analítica concentrada no campo de estudo da nostalgia, partindo de uma visão moderna para explorar definições nostálgicas e estabelecer relações com o filme.
Resumo expandido
- A presente pesquisa trata da nostalgia estética e narrativa no filme O Menino e o Mundo, de Alê abreu. Primeiramente, é necessário destacar que o significado da palavra nostalgia é historicamente instável, portanto, consideramos para este trabalho uma abordagem moderna que, conforme o autor Andrew Higson (2013, p.123) afirma, reconhece referir-se a um estado de espírito que pode estar associado às memórias de um tempo passado:
Em primeiro lugar, é claro, a versão moderna da nostalgia é em parte sobre a memória, sobre a lembrança de um tempo anterior, ou as coisas, pessoas, condições ou valores associados a esse tempo. Esta não precisa ser uma memória literal e pode de fato ser um sentido mais geral de lembrança de tempos passados, ou do passado em geral; é, nesse sentido, um ato da imaginação. O processo de lembrar nesta versão de nostalgia está intimamente ligado a um desejo de retornar no pensamento ou de fato àquele tempo anterior – mesmo quando é claro que tal retorno só pode ser uma fantasia.
Nesse sentido, o filme dialoga com diversos aspectos dessa definição. A obra apresenta a visão de um menino que mora feliz no campo com sua família, até que o pai precisa ir embora para a cidade, em busca de trabalho, o que leva a criança a enfrentar dias tristes, melancólicos e de memórias confusas. Para romper com esta rotina, o menino decide partir à procura de seu pai, chegando por fim a um cenário urbano, marcado pela desigualdade social, onde irá se deparar com versões mais velhas dele mesmo, que trazem consigo objetos que remetem a sua vida no campo. Apesar de todas as questões referentes à cidade-campo presentes na obra, podemos afirmar que a nostalgia do filme está relacionada a um momento da vida da criança. A autora Boym discorre sobre o processo nostálgico afirmando que:
(…) nostalgia parece ser a saudade de um lugar, mas é na realidade um anseio por um tempo diferente – o tempo de nossa infância, dos ritmos mais lentos de nossos sonhos. Em um sentido ainda mais amplo, a nostalgia é uma revolta contra a ideia moderna de tempo, o tempo da história e do progresso. (Boym, 2017, p.154)
Desse modo, as memórias que o menino produziu da sua infância feliz são caracterizadas na obra a partir dos seus decorrentes devaneios lúdicos, que assumem formas, cores e sons presentes no seu passado. A paleta de cores do longa-metragem atua refletindo o estado sentimental do protagonista, de modo que tudo aquilo que se refere às lembranças que ele guarda da sua vida no campo apresenta um colorido forte, com cores alegres e vivas, em contraste com as cores da cidade, que tendem a ser mais escuras ou neutras, traduzindo uma certa melancolia.
Outros aspectos que compõe a estética visual do filme é a técnica de animação em 2D e colagem, tratando-se de um modo de produção atualmente obsoleto, após a inserção do filme animado em 3D no mercado. O desenho com lápis e giz de cera feito a mão em uma folha em branco, remete, automaticamente, o público adulto espectador a sua criança passada e às suas memórias de um tempo perdido.
Desse modo o objetivo geral deste trabalho é analisar a nostalgia presente na narrativa e na estética do filme O Menino e o Mundo. De forma específica, tem-se como objetivos explorar as definições de nostalgia, apresentar o leitor às formas de nostalgia abordadas, proceder uma análise de como a nostalgia se faz presente na estética visual do filme e proceder uma análise da narrativa nostálgica presente na obra.
A pesquisa é realizada por meio de uma revisão bibliográfica analítica concentrada no campo de estudo da nostalgia, a fim de estabelecer relações entre os conceitos explorados e elementos do filme.
Ao final da pesquisa, conclui-se que a nostalgia funciona tanto como um guia narrativo, quanto estético para o filme, apresentando boa parte da jornada do protagonista baseada em sentimentos nostálgicos, o que repercute nas decisões estéticas, como cor, traços do desenho e técnica de animação.
Bibliografia
- BOYM, Svetlana. Mal-estar na nostalgia. História da Historiografia: International Journal of Theory and History of Historiography, Ouro Preto, v. 10, n. 23, p. 153-165, 7 abr. 2017.
HIGSON, Andrew. Nostalgia is not what it used to be: heritage films, nostalgia websites and contemporary consumers. Consumption Markets & Culture, [S.L.], v. 17, n. 2, p. 120-142, 18 mar. 2013.
LUCENA JÚNIOR, Alberto (2005). Arte da animação: Técnica e estética através da história. São Paulo: Senac, 2005
O menino e o mundo. Direção: Alê Abreu. Brasil, 2014. 80 min.