Ficha do Proponente
Proponente
- Fabio Luciano Francener Pinheiro (UNESPAR)
Minicurrículo
- Doutor (História, Teoria e Crítica) pelo Programa de Meios e Processos Audiovisuais (ECA-USP). Mestre em Ciências da Comunicação (ECA-USP). Possui Especialização em Produção Independente em Cinema pela UNESPAR e em Administração pela UNIFAE. É graduado em Comunicação Social pela PUC-PR. Cursou Letras na UFPR. Professor Adjunto da Graduação em Cinema da UNESPAR II, onde desenvolve pesquisa sobre Gêneros Cinematográficos e História e projeto de extensão em Narrativas de Horror.
Ficha do Trabalho
Título
- Cinema e segregação racial nos Estados Unidos no período silencioso
Resumo
- Esta comunicação aborda a experiência e a memória das sessões segregadas de cinema nos Estados Unidos nas primeiras décadas do século XX. Seguindo o conjunto de leis e práticas segregacionistas conhecido como Jim Crow, os afro-americanos foram excluídos de espaços públicos e opções de entretenimento, incluindo as salas de cinemas. Nos estados do Norte, sua presença era permitida em sessões após a meia noite. Em algumas cidades como Chicago, um circuito próprio supria esta demanda.
Resumo expandido
- O consumo e a recepção dos filmes são elementos tão importantes quanto as próprias produções cinematográficas. STAM (2000) destaca o enriquecimento das pesquisas em cinema com contribuições oriundas da análise da espectatorialidade, em que se deixa de falar de forma vaga sobre o “público” para se estudar o “(…) espectador real como indivíduo com corpo, raça, gênero e inserção histórica” (Stam, p. 257). Ao criticar as limitações do modelo psicanalítico constituído pelo aparato, DIAWARA (1993) aponta a exclusão do espectador negro, lembrando que públicos de raças, gêneros e orientações sexuais distintas farão leituras diversas do mesmo filme. Assim, representações estereotipadas e exibições segregadas fornecem subsídios importantes para compreender este processo de exclusão.
A segregação racial se impôs nas primeiras exibições de filmes nos Estados Unidos. A Edison Company exibia filmes curtos como The Watermelon Contest, de 1896, no qual são vistos dois homens negros comendo melancia com rapidez. Uma versão mais longa, de 1900, mostra quatro homens disputando quem come mais rápido. A Biograph, outra companhia pioneira, realizou filmes como Oh! That Watermelon, Watermelon Feast, Dancing Darkies, and Hard Wash. Neste último, uma mulher negra demonstra sua frustração ao esfregar seu filho e ver que ele não se torna branco. Além do apelo a estereótipos cômicos, como o escravo louco por melancia ou frango – derivados do espetáculo de minstrel do século XIX – as primeiras décadas do cinema americano popularizam práticas como o blackface, em que um personagem negro era interpretado por um ator branco com rosto pintado de preto.
Tais representações traduziam no final do século XIX e no início do XX o espírito de segregação conhecido como Jim Crow, que se pautavam por restringir a presença e circulação de afro-americanos em espaços públicos. Tratava-se de um conjunto de práticas judiciais e legislativas impostas nos estados do Sul dos Estados Unidos, como reação à Emancipação dos escravos e à concessão do direito de voto aos libertos. Na prática, tais restrições significavam uma outra escravidão. As leis restringiam a circulação de negros nos transportes públicos, a frequência a escolas e comércios e incentivavam a separação de banheiros, bebedouros, restaurantes, bibliotecas, parques e cinemas. Como consequência, foram criadas exibições exclusivas para plateias negras, às sextas-feiras, depois da meia-noite, ou após o término da última sessão para o público branco. Outra prática incluía o acesso por uma escada externa para o balcão, em uma área reservada ao público negro.
Em resposta, comunidades de afro-americanos desenvolveram polos econômicos, políticos, religiosos e de entretenimento, criando suas próprias opções de lazer e seus espaços de convívio, como teatros e cinemas, sobretudo em Nova York e em Chicago. Empreendedores negros criaram os race films, produções concebidas, filmadas e protagonizadas por afro-americanos, distribuídas em circuitos alternativos.
Esta comunicação aborda a dinâmica e a memória das sessões segregadas e o impacto das leis Jim Crow sobre a frequência e o consumo de filmes por afro-americanos nas primeiras décadas do século XIX. A base teórica envolve a pesquisa em história oral de VALK e BROWN (2010), em que mulheres negras recordam da frequência ao cinema na Carolina do Sul e a espectatorialidade negra nos cinemas de Chicago (Stewart, 2005), além de outras fontes.
Bibliografia
- DIAWARA, Mantia. Black American Cinema. Nova York: Routledge, 1993.
GAINES, Jane. Fire and Desire: mixed race movies in the silent era. Chicago e Londres: The University of Chicago Press, 2001.
MAURICE, Alice. The cinema and its shadow : race and technology on early cinema. Minneapolis: University of Minnesota Press, 2013.
ROBINSON, Cedric J. Forgeries of memory and meaning : Blacks and the regimes of race in American theater and film before World War II. Chapel Hill: The University of North Carolina Press, 2007.
STAM, Robert. Introdução à Teoria do Cinema. Caminas: Papirus: 2003.
STEWART, Jacqueline Najuma. Migrating to the movies : cinema and Black urban modernity. Berkeley e Los Angeles: University of California Press, 2005.
VALK, Anne, BROWN, Leslie. Living with Jim Crow : African American women and memories of the segregated South. Nova York: Palgrave Macmillan, 2010.
YOUNG, Earl James, Jr. The life and lork of Oscar Micheaux : pioneer black author and filmmaker. 1884 -19