Ficha do Proponente
Proponente
- CRISTIANE MOREIRA VENTURA (IFG)
Minicurrículo
- Cristiane Moreira Ventura é professora no Instituto Federal de Goiás (IFG), Câmpus Cidade de Goiás, docente do Bacharelado em Cinema e Audiovisual, doutoranda em Performances Culturais (UFG), mestre em Estudos de Linguagens (CEFET-MG), bacharel em Letras (UFMG). Realizadora audiovisual, pesquisa e desenvolve trabalhos de cinema expandido e documentário.
Ficha do Trabalho
Título
- A cinematografia brasileira híbrida: metodologias e constelações
Resumo
- O texto consiste em demonstrar a eleição dos filmes que compõem o corpus da pesquisa, sua organização a partir da metodologia comparatista das constelações fílmicas e, como a fenomenologia de identificação cinematográfica orienta a constelação imaginada. Abordo ainda, como as entrevistas realizadas com cineastas, técnicos e atores-personagens auxiliam na identificação de elementos comuns nas estratégias de realização híbrida que é marcada por uma afetividade emancipatória.
Resumo expandido
- Na última década (2010-2020), as estratégias de realização do cinema independente brasileiro têm se transformado no que se refere à presença e atuação do ator-personagem. Despontou-se uma tendência em se utilizar uma estratégia em que atores-personagens performam ações cotidianas, improvisam a partir de dispositivos ficcionais e fabulam a partir de seus conflitos sociais. Esse modo de realização, tem despertado muito interesse por romper com forma utilitarista de representação, e por construir de modo ético uma narrativa que contemple as subjetividades dos sujeitos historicamente marginalizados, lhes dando o direito à ficção.
A pesquisa de doutorado “A performance do ator-personagem na cinematografia brasileira híbrida: Ritualidades e transformações na produção cinematográfica”, tem entre seus objetivos compreender a prática da realização de filmes que se valem de atores-personagens (ou atores não profissionais) que performam a si mesmos, e as potencialidades deste gesto. Partindo da ideia que tais filmes, nascem dentro do contexto da produção documentária e do filme de baixo orçamento, temos como referências bibliográficas brasileiras Cinema – primeiro filme: descobrindo, fazendo, pensando de Carlos Gerbase (2012) Como fazer documentário: Conceito, linguagem e prática de produção de Luiz Carlos Lucena (2012) e Roteiro de Documentário: Da pré-produção à Pós-produção de Sérgio Puccini (2012). Fernão Ramos no prefácio da obra de Puccini, destaca sobre a falta de valorização da pesquisa sobre a prática no Brasil. E, dentro deste contexto da escassez de livros que se dedicam a tal estudo, é possível notar que estas poucas obras estão ancoradas em práticas de realização convencional, seja documentário, seja ficção. Ainda é incipiente estudos sobre as práticas de realização que se valem da sócio-mise-en-scène e da automise-en-scène.
Com a finalidade de organizar e sistematizar o conjunto dos filmes eleitos na pesquisa, utilizamos o método comparatista das constelações fílmicas de Mariana Souto (2019) para estabelecer ligações, aproximações e distanciamento no que diz respeito aos procedimentos de realização que oscilam entre a ficção e o documentário. Baseando-se nas entrevistas com os diretores e na fenomenologia de identificação cinematográfica da experiência espectatorial dos filmes não-ficcionais, proposta por Vivian Sobchack (1999), trabalharemos com uma espécie de escala de intensidade e engajamento, em que a personagem se intensifica na tela na medida em que se ficcionaliza e ganha autonomia das relações extra-realidade fílmica, tornando-se potente dentro do contexto da mise-en-scène criada.
Investigamos processos de realização, examinando os métodos que alguns cineastas têm adotado tanto na elaboração de projetos, quanto os procedimentos adotados em seus sets de filmagem. Entrevistamos diretores, integrantes da equipe e atores-personagens, a fim compreender as ritualidades e as estratégias de realização dos filmes: A Vizinhança do Tigre (Affonso Uchoa, 2014), Branco Sai, Preto Fica (Adirley Queirós, 2014), Ela volta na quinta (André Novais, 2014), Baronesa (Juliana Antunes, 2017), Mascarados (Henrique Borela e Marcela Borela, 2020). As entrevistas realizadas com base no método etnográfico, semi-estruturada, feitas por videoconferência (em decorrência da pandemia), contribuíram para o entendimento do processo de criação e execução das obras, suas referências e desdobramentos dentro da comunidade cinematográfica. Foi possível entender a importância e a contribuição dos atores-personagens na construção de tais filmes, compreendendo essa prática-política como uma ferramenta de transformação, em diferentes níveis.
Ainda com fins metodológicos, realizamos a etnografia de uma produção cinematográfica híbrida, acompanhando o processo de elaboração do projeto, a pré-produção, a produção e pós-produção, sendo também um processo de pesquisa participante.
Bibliografia
- GABARRÓN, L. R.; LANDA, L. H. Pesquisa participante: a partilha do saber. In: BRANDÃO, C.R.; STRECK, D. R. (Org). O que é pesquisa participante? Aparecida, SP: Ideias&Letras, 2006.
GERBASE, Carlos. Cinema – primeiro filme: descobrindo, fazendo, pensando. Porto Alegre: Artes e Ofícios, 2012.
LUCENA, Luiz Carlos. Como fazer documentário:Conceito, linguagem e prática de produção. São Paulo: Summus, 2012.
PUCCINI, Sérgio. Roteiro de Documentário: Da pré-produção à Pós-produção.Campinas: Papirus, 2012.
SOBCHACK, Vivian. Toward a Phenomenology of Nonfictional Film Experience .In: Collecting Visible Evidence, ed. Michael Renov and Jane Gaines (Minneapolis: University of Minnesota Press, 1999), 241-254.
SOUTO, Mariana. Constelações fílmicas: um método comparatista no cinema. Trabalho apresentado ao Grupo de Trabalho Estudos de cinema, fotografia e audiovisual do XXVIII Encontro Anual da Compós, PUC-RS, Porto Alegre, 2019. Disponível em: , acesso: 15 de abr. 2021.