Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    João Carlos Massarolo (UFSCar)

Minicurrículo

    Cineasta e Roteirista. Professor associada da Universidade Federal de São Carlos. Doutor em Cinema pela Universidade de São Paulo. Coordenador do GEMInIS – Grupo de Estudos sobre Mídias Interativas em Imagem e Som. E-mail: massarolo@terra.com.br

Coautor

    Dario de Souza Mesquita Júnior (UFSCar)

Ficha do Trabalho

Título

    Cinema Online: rearranjos da distribuição audiovisual nas plataformas

Resumo

    O processo disruptivo do streaming perturbou o cinema brasileiro, provocando um rearranjo da cadeia de distribuição, exibição e circulação de filmes, no qual o tempo de janela exclusiva do cinema é reduzido ou abolido, criando espaços para o cinema online com a sua multiplicidade de telas nas plataformas online. Pretende-se discutir de que forma as plataformas de streaming alteram o modelo tradicional da distribuição cinematográfica, fomentando serviços online de entrega de filmes ao público.

Resumo expandido

    Tempos pandêmicos são períodos propensos a rupturas e profundas reestruturações políticas, culturais e econômicas (HAN, 2020). Neste contexto, o fechamento das salas de cinema e o aumento de consumo de conteúdo via televisão e plataformas online, acelerou o processo de plataformização da produção audiovisual. Segundo pesquisa do Katar Ibope Media, em 2020 as pessoas ficaram em média 37 minutos mais tempo assistindo televisão se comparado ao ano anterior, e o consumo de vídeo sob demanda (VOD) cresceu 11% em relação ao ano de 2019. A reabertura das salas de cinema no Brasil e no mundo segue os protocolos sanitários (DALTON, 2021), com o adiamento de lançamentos de títulos, motivo pelo qual agentes econômicos do segmento cinematográfico optaram por fazer lançamentos de novos títulos nas plataformas online. Em julho de 2020, a Universal Pictures entrou em acordo com a rede cinemas norte-americana AMC para reduzir o tempo de janela de 90 para 17 dias. A Disney optou por lançamentos simultâneos nos cinemas e na plataforma Disney+, com a cobrança de uma taxa de aluguel. Em 2020, seu longa de animação Mulan (Niki Caro, 2020), teve um tempo de janela de 90 dias antes de ser disponibilizado sem taxa para assinantes, enquanto, em 2021, o filme Raya e o Último Dragão, de Carlos López Estrada e Don Hall (2021), teve 49 dias. Por sua vez, a Warner Bros., que pertence ao mesmo conglomerado da plataforma HBO Max, optou por lançar em 2021 todos seus filmes simultaneamente nas salas de cinema e streaming, disponibilizando para outras plataformas após 31 dias. Para 2022, o estúdio fez um acordo com as redes de exibidores que estabelece um tempo de janela de 45 dias entre as salas de cinema e sua plataforma (SHARF, 2021). No Brasil, o cinema Pietra Belas Artes criou uma plataforma própria de streaming: Belas Artes À Lá Carte (LOURENÇO, 2020), e os festivais brasileiros de cinema online tiveram exibição gratuita – como o Festival É Tudo Verdade, em 2021, em parceria com a SPCine Play – ou com o pagamento de aluguel, a exemplo da 44º Mostra Internacional de Cinema. A SPCine Play teve um aumento de visualizações de 1.051% (LOURENÇO, 2020), e o Globoplay alcançou a marca de 20 milhões usuários únicos (entre assinantes e não assinantes), contra 20 milhões da Netflix e 10 milhões da Amazon Prime Video (GUIMARÃES, 2020). Esse processo disruptivo afetou o lançamento de filmes nacionais em 2020, que caiu de uma média de 100 por ano para 30 (Ancine, 2021), queda também intensificada pela suspensão de recursos pela Ancine (RISTOW, 2019). Por outro lado, nas três principais plataformas de VOD no Brasil (Netflix, Amazon Prime Video e Globoplay), houve o lançamento de 14 séries e 7 filmes nacionais diretamente para streaming, com destaque para o Globoplay que concentra 47% dessa produção. Deste modo, os conteúdos nacionais da TV Globo, que se encontram disponíveis no catálogo do Globoplay, são estratégicos na chamada ‘guerra do streaming’ em território brasileiro (LOTZ, 2021). Neste trabalho pretende-se analisar de que modo esse processo disruptivo ‘perturbou’ o cinema brasileiro, levando em consideração o rearranjo da cadeia de distribuição, exibição e circulação de filmes, no qual o tempo de janela exclusiva da tela grande é reduzido ou abolido, criando espaços para o cinema online com a sua multiplicidade de telas nas plataformas. Esse processo disruptivo alterou o modelo tradicional da distribuição cinematográfica, fomentando os serviços de streaming para entrega de filmes ao público. Na guerra do streaming, os produtores independentes brasileiros se deparam com os novos modelos de entrega de conteúdo em fase de experimentação pelas plataformas estadunidenses. Além do mais, os produtores esbarram em questões políticas, como o impasse sobre a regulamentação do VOD e a paralisação de recursos da Ancine, o que dificulta ainda mais o enfrentamento do domínio das plataformas multinacionais em relação às incipientes iniciativas nacionais.

Bibliografia

    ANCINE. Resultados Mensais do Cinema Brasileiro – Dados Sadis Detalhado Dezembro 2020. Observatório Brasileiro do Cinema e do Audiovisual – OCA, 2021.
    DALTON. B. Cinema reopening dates around the world: latest updates. ScreenDaily,
    HAN, B. La emergencia viral y el mundo de mañana. In: AMADEO, P. (Org.). Sopa de Wuhan: pensamiento contemporaneo en tiempos de pandemias. ASPO, Barcelona, 2020
    GUIMARÃES, Anderson. Globoplay está com 20 milhões de usuários únicos no Brasil. Minha Operadora, 2020.
    LOTZ, A. Media Disrupted: Surviving Pirates, Cannibals, and Streaming Wars. MIT Press, Epub, 2021.
    LOURENÇO, B. Como a pandemia afetou a produção (e o legado) do cinema nacional. Revista Galileu, 2020.
    KATAR Ibope Media. Inside Video – A (re)descoberta, mar. 2021.
    RISTOW, F. Presidente da Ancine suspende repasse de verbas para o audiovisual. O Globo.
    SHARF, Z. Warner Bros. Strikes First Deal to Return Films to Theaters Only in 2022 with New 45-Day Window. IndieWire, 2021.