Ficha do Proponente
Proponente
- Bruno Leites (UFRGS)
Minicurrículo
- Pesquisador na área de Cinema e Fotografia. Publicou artigos em revistas acadêmicas como “Deleuze and Guattari Studies”; “Intexto”; “Aniki”; e “Famecos”, entre outras. Atualmente, está em processo de finalização do livro “Cinema, Naturalismo, Degradação: Ensaios a partir de filmes brasileiros dos anos 2000”, com publicação prevista para 2021. Coordena o ST “Teoria de Cineastas” da SOCINE. É professor adjunto de Fotografia na FABICO/UFRGS e professor permanente no PPGCOM/UFRGS.
Ficha do Trabalho
Título
- Os critérios de Aumont
Seminário
- Teoria de Cineastas
Resumo
- Nesta comunicação, pretendo recuperar o núcleo dos estudos de Jacques Aumont acerca da questão das “teorias dos cineastas”, do “pensamento dos filmes” e do “ato teórico fílmico”. Os livros O que pensam os filmes e As teorias dos cineastas exploram diferentes caminhos no agenciamento que liga cinema, pensamento e teoria. O objetivo é problematizar os critérios de Aumont, assim como destacar especificidades do objeto de pesquisa e da função do pesquisador em cada uma dessas linhas de investigação.
Resumo expandido
- O trabalho de Jacques Aumont “As teorias dos cineastas” aparece como uma das principais referências nos textos da Rede Teoria de Cineastas, que vem ganhando forma na SOCINE, na AIM e em eventos paralelos denominados “Encontros de Teoria de Cineastas”. Esta comunicação pretende recuperar o núcleo dos estudos de Jacques Aumont acerca da questão das “teorias dos cineastas”, do “pensamento dos filmes” e do “ato teórico fílmico”, que foram trabalhadas pelo autor em livros e artigos ao longo de aproximadamente 10 anos, quais sejam: “O que pensam os filmes” (AUMONT, 1996); “O cinema como ato de teoria: notas sobre a obra de Kurt Kren” (AUMONT, 1997); “As teorias dos cineastas” (AUMONT, 2004/2002); “Pode um filme ser um ato de teoria?” (AUMONT, 2008/2007).
Cada um dos trabalhos explora uma direção no agenciamento que liga cinema, pensamento e teoria. As direções conduzem a caminhos tão diversos quanto são os livros “O que pensam os filmes” e “As teorias dos cineastas”, todavia existe uma fundamentação comum no entendimento das relações básicas que existem entre a palavra, a imagem, a teoria, o pensamento e o cinema.
Se Aumont (2004; 2008) opta por pesquisar as teorias dos cineastas enunciadas em discursos verbais, é porque compreende a teoria como uma construção abstrata, que produz um “corte” no “fluxo” da experiência e se realiza em um espaço mental sem imagens ou figuras. Outra característica é notável nessa definição de teoria: ela seria “responsável”, não prazerosa, justamente porque tende para a abstração, distante das experiências do corpo. Nesse sentido, a teoria seria plenamente obtida na linguagem, e aqui fica claro que Aumont reserva o termo linguagem para o domínio da palavra.
Entretanto, devemos notar que, em “O que pensam os filmes” (1996), o pensamento é aquele dos próprios filmes, dotados da capacidade de pensar por figuras, montagens, intervalos, intensidades etc. Aqui, notavelmente, o pensamento é dito “dos filmes”, e não exatamente “dos cineastas”. No caso do pensamento, ele é caracterizado como algo passível de ser produzido no seio da experiência sensível e figurativa que caracteriza o filme. Nesse sentido, é possível que o “pensamento dos filmes” proposto por Aumont se beneficie de um diálogo crítico com outras abordagens que investigam o pensamento das imagens, por exemplo, pelas vias da pensatividade (RANCIÈRE, 2012) e das sobrevivências (DIDI-HUBERMAN, 2013).
Entre o “pensamento dos filmes” e as “teorias dos cineastas”, notamos ainda a introdução do conceito de “ato teórico fílmico”. Embora não possa fazer teoria, Aumont entrevê possibilidades em que o filme pode fazer “ato de teoria”: restringindo o escopo do seu objeto de conhecimento; produzindo experiências; inovando. Nos dois últimos casos, o filme serve sobretudo para provocar o espectador e convocá-lo à teorização. (AUMONT, 2008/2007).
A presente comunicação dedica-se a refletir sobre a abordagem de Jacques Aumont como um sistema integrado, que compreende o pensamento dos filmes, a teoria dos cineastas e o ato teórico fílmico e, para tanto, pretende: apresentar a definição desses conceitos; destacar as especificidades do objeto de pesquisa e da função do pesquisador em cada uma dessas linhas de investigação.
Finalmente, será o caso, ainda, de abordar o que poderíamos chamar de “critérios de Aumont”. Para a definição de teoria, os critérios são especulação, sistematicidade/coerência e força explicativa (AUMONT, 2008/2007). Para a escolha dos cineastas que inclui em seu livro, os critérios são coerência, novidade e aplicabilidade (AUMONT, 2004/2002). Tais critérios não são equivalentes, inclusive divergindo quanto à questão da “aplicabilidade”. No entanto, ambos encaminham para uma certa “exigência” de coerência e sistematização por parte de cineastas, além de uma suposta “originalidade” que, desde logo, já associa teoria de cineasta com alguma ordem de destaque, de diferencial “autoral” no que concerne à escolha de cineastas pesquisados.
Bibliografia
- AUMONT, Jacques. À quoi pensent les films. Paris: Nouvelles Édition Séguier, 1996.
AUMONT, Jacques. As teorias dos cineastas. Campinas, SP: Papirus, 2004/2002.
AUMONT, Jacques. Le cinéma comme acte de théorie: Notes sur l’œuvre de Kurt Kren. Cinémathèque, n° 11, p. 93-107, printemps, 1997.
AUMONT, Jacques. Pode um filme ser um ato de teoria? Revista Educação e Realidade, v.33, n.1, p. 21-34, jan-jun, 2008/2007.
BAGGIO, Eduardo; PENAFRIA, Manuela; GRAÇA, André Rui. Teoria dos cineastas: uma abordagem para a teoria do cinema. Revista Científica/FAP, v. 12, p.19-32, 2015.
DIDI-HUBERMAN. A imagem sobrevivente: história da arte e tempo dos fantasmas segundo Aby Warburg. Rio de Janeiro: Contraponto, 2013.
PENAFRIA, Manuela. Fazer a teoria do cinema a partir de cineastas. Entrevista concedida a Bruno Leites, Eduardo Baggio e Marcelo Carvalho. Intexto, Porto Alegre, UFRGS, n.48, p.6-21, jan./abr. 2020.
RANCIÈRE, Jacques. O espectador emancipado. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2012.