Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    Beatriz Avila Vasconcelos (Unespar)

Minicurrículo

    Doutora em Letras Clássicas pela Universidade Humboldt de Berlim. Professora adjunta do Bacharelado em Cinema e Audiovisual e do Mestrado em Cinema e Artes do Vídeo da Universidade Estadual do Paraná. Dedica-se a teorizações e estéticas de cineastas, com particular interesse nas relações entre cinema, realidade e poesia, regimes de imagem e modos de ver de cinemas poéticos. Escreve poesia e dramaturgia.

Ficha do Trabalho

Título

    A atenção poética no hiper-realismo de Chantal Akerman

Seminário

    Teoria de Cineastas

Resumo

    Esta comunicação integra o projeto de pesquisa “Imagem e Poesia em Pensamentos de Cineastas”, em que busco explicitar e articular pensamentos de cineastas acerca da imagem, a partir de sua produção verbal e fílmica, percebendo modos de ver, tipos de atenção e de experiência que instauram regimes de imagem de cinemas de poesia. Aqui a atenção volta-se ao pensamento de Chantal Akerman acerca da imagem, expresso em declarações verbais da cineasta e em seu filme Jeanne Dielman (1975).

Resumo expandido

    Esta comunicação integra o projeto de pesquisa “Imagem e Poesia em Pensamentos de Cineastas”, em que busco pensamentos de cineastas acerca da imagem, a partir de sua produção verbal e fílmica, percebendo modos de ver, tipos de atenção e de experiência que instauram regimes de imagem de cinemas de poesia. A famosa distinção feita por Viktor Shklovski (1994) entre cinema de prosa – comprometido com o significado – e cinema de poesia – comprometido com os elementos da forma – é útil aqui para indicar que é precisamente no cinema de poesia que a visão da imagem adquire centralidade. Assim, por cinemas de poesia entendo, inicialmente, os cinemas em que a ordem do ver e do contemplar prevaleçam sobre a ordem do narrar, cinemas, portanto, em que a fruição da imagem esteja no centro da experiência estética, despertando um tipo de atenção da ordem do poético.
    De fato, para ver a imagem poética é preciso dirigir à imagem um certo tipo de atenção. Hans-Ulrich Gumbrecht (2016), entende a poesia como um tipo de atenção, mais precisamente uma observação atentiva dos fenômenos do mundo. Baseado em teses de Lucy Alford (2019), Gumbrecht aborda a poesia muito mais que como um gênero literário, ele a considera uma “abertura da mente para o mundo”, “uma função específica da consciência” (Gumbrecht 2016, p. 85-86), função esta que se realiza na atenção do poeta/espectador para os fenômenos do mundo. Nesta mesma direção vai a compreensão de Tarkovski, como já pude explorar em pesquisa anterior (Vasconcelos 2020): “Quando falo de poesia” diz Tarkovski, “não penso nela como gênero. A poesia é uma consciência do mundo, uma forma específica de relacionamento com a realidade. Assim, a poesia torna-se uma filosofia que conduz o homem ao longo de toda a sua vida.” (Tarkovski 2010, p.18). Tendo estes pontos de partida de poesia como “modo de atenção” (Gumbrecht) e como “forma específica de relacionamento com a realidade” (Tarkovski), entendo que falar de poesia através e com cineastas é falar da própria consciência do mundo que tais cineastas afirmam com o seu cinema, do tipo de atenção que requerem de seus espectadores, e do próprio modo com que buscam se relacionar com a realidade e com a arte, através de suas imagens.
    Aqui, meu interesse volta-se ao pensamento e à arte de Chantal Akerman, vendo que seu cinema instaura formas de relacionamento com os fenômenos do mundo e exigem uma atenção de qualidade poética à imagem que deles se produz. De fato, a atenção à imagem é um requisito colocado à espectatorialidade de seus filmes e faz parte da dinâmica de seu hiper-realismo. Em certa entrevista, a cineasta diz: “(…) Em meus filmes, ou você olha, ou você abandona!” (Akerman, 1976). Assim, com vontade de olhar para seus filmes, exploro concepções de imagem desta cineasta, valendo-me de declarações verbais suas e de uma análise de planos de seu filme Jeanne Dielman, 23, Quai du Commerce, 1080 Bruxelles (1975). O objetivo é perceber o modo particular com que Akerman constrói um regime de imagens fundado num modo de atenção específico, numa certa “forma específica de relacionamento com a realidade”, buscando defender que o seu cinema estabelece um tipo de experiência atentiva da ordem do poético.

Bibliografia

    ALFORD, Lucy. Forms of Poetic Attention. New York: Columbia University Press, 2019.
    AKERMAN, Chantal. Chantal Akerman interviewed by Wade Novy at Pacific Film Archive, Berkley, California, December 01, 1976. Disponível em https://chantalakerman.foundation/archives/interview-with-wade-novy/. Acesso em 23/02/2021.
    GUMBRECHT, Hans-Ulrich. Serenidade, presença e poesia. Belo Horizonte: Relicário, 2016.
    SHKLOVSKI, Viktor. Poetry and Prose in the Cinema. In Richard Taylor and Ian Christie, ed. The Film Factory: Russsian and Soviet Cinema in Documents. London: Routledge, 1994 (1ª ed. 1927).
    TARKOVSKI, A. 2010. Esculpir o tempo. São Paulo: Martins Fontes.
    VASCONCELOS, Beatriz Avila. “Um modo de relacionamento com a realidade”: noções de poesia de Andrei Tarkovski. Aniki: Revista Portuguesa da Imagem em Movimento, v. 7 n. 2. Dossiê Temático: Teoria dos Cineastas: uma abordagem para o estudo do cinema, 2020, pp. 152-171.