Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    Emerson Dylan Gomes Ribeiro (UNIFESP)

Minicurrículo

    Mestre em História pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Possui graduação em História pela mesma instituição. Em seu mestrado, estudou a atuação da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo durante o regime militar brasileiro. Atua como professor de História para turmas de ensino fundamental e médio. Atualmente, cursa graduação em Geografia na UNIFESP.

Ficha do Trabalho

Título

    Leon Cakoff no MASP e o início da Mostra Internacional de Cinema

Mesa

    Festivais e Mostras de cinema nascidas em Museus: três estudos de caso

Resumo

    A Mostra Internacional de Cinema de São Paulo surgiu em 1977 como um evento do Museu de Arte de São Paulo (MASP). Seu idealizador, Leon Cakoff, era diretor do Departamento de Cinema do MASP desde 1974, e sua gestão foi responsável pela exibição de filmes que dificilmente chegavam ao país em meio ao regime militar. Esta apresentação vai abordar a trajetória de Cakoff no Departamento e a relação constituída entre a Mostra e o Museu, que prevaleceu durante sete edições, até 1983.

Resumo expandido

    Leon Cakoff assumiu a direção do Departamento de Cinema do Museu de Arte de São Paulo em 1974. Vindo de uma formação na área da Sociologia, até então Cakoff cobrira, como jornalista e crítico dos Diários Associados, diversos festivais de cinema realizados dentro e fora do Brasil. No Centro de Pesquisas do MASP está armazenado o arquivo do Departamento de Cinema, onde é possível encontrar uma vultosa documentação dos anos de Cakoff à sua frente. A partir dessa documentação foi realizada a pesquisa que originou a dissertação de Mestrado (DYLAN, 2021) que norteia esta apresentação.
    Sob a gestão de Cakoff, o Departamento de Cinema do MASP se voltou para a exibição cinematográfica de ciclos temáticos retrospectivos e inéditos, promovendo uma renovação no circuito exibidor da capital e proporcionando ao Museu um lugar de destaque como espaço de sociabilidade cinéfila. Em meio às restrições provocadas pela censura do regime militar brasileiro, essas exibições eram possíveis graças ao forte respaldo diplomático que o MASP possuía. As cópias eram conseguidas através de contato com embaixadas estrangeiras e, muitas vezes, o envio era realizado por meio de malas diplomáticas, o que assegurava a inviolabilidade das correspondências pela ditadura.
    Após três anos de sucessivos ciclos temáticos, Cakoff organizou, em 1977, na ocasião do aniversário de 30 anos do MASP, a primeira edição da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Em outubro de 1977 foram exibidos 22 filmes de 16 países. A Mostra foi organizada como um evento não competitivo, que objetivava “contribuir com o conhecimento e a amizade entre os povos”. Nela foram exibidos filmes que dificilmente chegavam ao circuito comercial do país, devido tanto à censura política do regime militar, quanto à incipiência do mercado cinematográfico do período. Apesar de não ser competitiva, a Mostra permitia que os espectadores votassem em seus filmes prediletos, criando assim um júri popular, algo então incomum em festivais de cinema. Com essas características, o festival de Cakoff foi considerado um evento de resistência cultural.
    A Mostra de 30 anos do MASP foi um sucesso de público; abrigada no auditório do museu, cuja capacidade era de 420 pessoas, atraiu cerca de 15 mil espectadores em seus onze dias de evento. Graças à recepção, outras edições foram realizadas nos anos seguintes, repetindo o sucesso de público e se expandindo em número de filmes exibidos e de países participantes. O que também cresceu foi a cobertura na imprensa nacional e internacional. Já em seu terceiro ano, o evento estava presente em publicações especializadas estrangeiras, como no calendário de festivais da revista Variety.
    O paulatino crescimento da Mostra levou a uma busca por profissionalização enquanto festival internacional de cinema. Nos anos seguintes, o evento adotou um júri crítico e disponibilizou venda de assinaturas para que os públicos pudessem assistir a todas as sessões programadas. Essa expansão gerou um crescente desentendimento entre Leon Cakoff e o diretor do MASP, Pietro Maria Bardi. As tensões entre os dois levaram a uma ruptura entre o Museu e a Mostra que, a partir de 1984, continuou existindo de forma independente – hoje, a Mostra já realizou mais de 40 edições de forma ininterrupta.
    Nesta apresentação será abordada a trajetória construída pelo MASP como espaço de exibição cinematográfica a partir da gestão de Cakoff à frente do Departamento de Cinema, que possibilitou o nascimento e a consolidação de um dos festivais mais longevos do Brasil. Será discutida a relevância do Museu para as trocas diplomáticas que possibilitaram a realização do evento; a relação da instituição com outras entidades culturais do período que se consolidaram como lugares de resistência em meio ao regime militar (MELO, 2018; PIRES, 2019); e os limites da relação entre o festival e o Museu, que ocasionaram o rompimento em 1984.

Bibliografia

    CAKOFF, Leon. Cinema sem fim: a história da Mostra. 30 anos. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2007.
    DE VALCK, Marijke; KREDELL, Brendan; LOIST, Skaid. (orgs.). Film Festivals: history, theory, method, practice. Londres: Routledge, 2016.
    DYLAN, Emerson. Território da cinefilia: a Mostra Internacional de Cinema e a cidade de São Paulo (1977-1983). Dissertação (Mestrado em História), UNIFESP, Guarulhos, 2021.
    MELO, Izabel de F. C. Cinema, circuitos culturais e espaços formativos: sociabilidades e ambiência na Bahia (1968-1978). Tese (Doutorado em Meios e Processos Audiovisuais), USP, São Paulo, 2018.
    NAPOLITANO, Marcos. Coração civil: a vida cultural brasileira sob o regime militar (1964-1985) – ensaio histórico. São Paulo: Intermeios, 2017
    PIRES, Bianca S. A formação de públicos cinéfilos: Circuitos paralelos, Museus e Festivais Internacionais. Tese (Doutorado em Sociologia), UFRJ, Rio de Janeiro, 2019.