Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    Manoel Adriano Magalhães Neto (UFRJ)

Minicurrículo

    Graduado em Comunicação Social pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Música-UFRJ em Etnografia das Práticas Musicais. Atua como diretor de documentários, editor de som para cinema e TV, compositor e instrumentista. Dirigiu o documentário “Nada Pode Parar os Autoramas”, destaque no festival In-Edit 2020, e seu primeiro disco solo, “Consertos em Geral”, foi escolhido como um dos 50 melhores lançamentos nacionais em 2018 pela revista Rolling Stone.

Ficha do Trabalho

Título

    A canção na estrada do Cinema Nacional

Seminário

    Estilo e som no audiovisual

Resumo

    Canções populares acompanhando a representação imagética da estrada é um traço recorrente do cinema brasileiro e também conexão intersemiótica que marca a continuidade da tradição fílmica no país. Este trabalho tem o objetivo de analisar quatro canções que associadas às imagens de estrada ajudam a construir a simbologia da utopia de um projeto de futuro para o Brasil, nos anos 60, e ainda no presente, nos filmes da década de 2010.

Resumo expandido

    A canção na estrada do Cinema Nacional: análise de canções que compõe o imaginário das estradas que interligam a produção cinematográfica brasileira

    Canções populares brasileiras acompanham cenas marcantes de nossa cinematografia. Algumas especificamente acompanham a simbologia ligada às estradas. Em períodos chave como o final dos anos 60, com o Cinema Novo e o Cinema Marginal, ou no auge das políticas de incentivo ao audiovisual no Brasil, entre 2006 e 2019, diversos filmes utilizaram o recurso da fusão entre a canção popular e o imaginário da estrada como representação de caminho para o futuro ou de identidade do país.

    Em 1969, afirmativamente, três longas metragens marcantes para a história do cinema brasileiro, “O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro” (Glauber Rocha), “O Anjo Nasceu” (Júlio Bressane) e “Brasil Anos 2000” (Walter Lima Jr.), terminam com a imagem de uma estrada. Estrada que leva a um desconhecido projeto de utopia para o Brasil ao som de uma canção popular. No final da década de 2010, outros dois filmes emblemáticos conectaram o imaginário das estradas com canções. Em 2017, “Arábia” (João Dumans, Affonso Uchoa), e em 2019, “Bacurau” (Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles), utilizaram o mesmo recurso simbólico, mas oferecendo a estrada não como um final aberto ou elaboração de um caminho, mas como ponto de partida para um presente de construção do país pelo próprio povo. Os filmes conectam as estradas do passado ao Brasil de histórias atuais relacionadas à luta dos brasileiros para sobreviverem à opressão. Os personagens de “Bacurau” e “Arábia” persistem simbolicamente contra as dificuldades do tempo presente e parecem estar vivendo o momento de luta vislumbrado no passado.

    O imaginário das estradas vai muito além deste recorte entre 1969 e 2019 no cinema brasileiro. São inúmeros exemplos de filmes em nossa cinematografia em que a estrada assume a categoria de personagem: “Central do Brasil”, “Bye Bye Brasil”, “Iracema – Uma Transa Amazônica”, “Viajo Porque Preciso, Volto Porque te Amo”, “Cinema, Aspirinas e Urubus”.

    A conexão entre os filmes de 1969 e o final dos anos 2000 é a utilização da estrada mais como símbolo de trânsito entre momentos históricos do que como meio de ilustrar a jornada. Para além da simbologia de gênero do road movie, a estrada é usada como símbolo de conexão temporal entre passado, presente, futuro e, principalmente, utopia. É o caminho de luta por um Brasil mais igualitário e construído pelo povo.

    O filósofo Gilles Deleuze, a partir da teoria da memória de Henri Bergson, elaborou o conceito de imagem-tempo, onde a partir das rupturas do cinema moderno, as cenas, as estruturas de montagem, são criadas relações e diferenciações entre as partes, imagens símbolo, unidades e ligações entre filmes, obras, visões do cinema, possibilitando leituras conectadas ou mais amplas para símbolos específicos.

    “O movimento tem assim, de certo modo, duas faces. Por um lado, ele é o que se passa entre objetos ou partes; por outro, o que exprime a duração ou o todo. Ele faz com que a duração, ao mudar de natureza, se divida nos objetos, e que os objetos, ao se aprofundarem, perdendo seus contornos, reúnam-se na duração.” (DELEUZE, 1985, p.20)

    Esta perspectiva permite enxergar tanto as obras de 1969 quanto as do final dos anos 2010 como partes de uma continuidade de movimento, onde a simbologia da estrada interliga o trabalha de diversos realizadores, como a construção de um grande imaginário coletivo no cinema nacional de cenas de estrada ligadas a canções populares. Canções essas que preenchem de sentido esses momentos imagéticos, construindo uma nova unidade de leitura e significado ao longo das décadas.

Bibliografia

    BENJAMIN, Walter. Obras escolhidas: Magia e técnica, arte e política. São Paulo: Editora Brasiliense, 1996.

    DELEUZE, Gilles. Cinema 1: A Imagem-movimento. São Paulo: Editora Brasiliense, 1985.

    DELEUZE, Gilles. A Imagem-tempo. São Paulo: Brasiliense, 2007 – (Cinema 2).

    GUERRINI JÚNIOR, Irineu. A música no cinema brasileiro: os inovadores anos sessenta. / São Paulo: Terceira Margem, 2009.

    SOVIK, Liv. In: Suplemento Pernambuco. Disponível em: . Acesso em: 12 de Nov. 2020.

    MENDONÇA FILHO, Kleber. “Bacurau”, película-prima de Kleber Mendonça Filho, alça o voo mais alto e resistente no cinema nacional. [Entrevista concedida a] Débora Stevaux e Dimas Henkes. Meca, 2019. Disponível em: . Acesso em: 20 de Out. 2020.

    XAVIER, I