Ficha do Proponente
Proponente
- Bianca Salles Pires (Independente/UFRJ)
Minicurrículo
- Doutora em Sociologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGSA/UFRJ), fez seu mestrado em Sociologia e bacharelado em Ciências Sociais pela Universidade Federal Fluminense. Ao longo de sua trajetória acadêmica se dedicou a estudar os públicos de cinema, festivais audiovisuais e os circuitos exibidores na cidade do Rio de Janeiro.
Ficha do Trabalho
Título
- Uma Cinemateca de grandes novidades: festivais e ineditismo no MAM/RJ.
Mesa
- Festivais e Mostras de cinema nascidas em Museus: três estudos de caso
Resumo
- A relação entre instituições museológicas e mostras audiovisuais será abordada nesta apresentação a partir da análise das mostras cinematográfica de longas-metragens programadas pela Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, entre os anos de 1964 e 1977. Parto das informações presentes no impresso Informativo do Museu analisando: as estratégias de programação, discursos sobre o ineditismo e a militância cultural exercida pela Instituição naquele período.
Resumo expandido
- A formação de cinéfilos, na cidade do Rio de Janeiro nos anos de 1960 e 1970, deve muito ao protagonismo da Cinemateca do Museu de Arte Moderna. Ela foi responsável pela exibição de filmes de difícil acesso no país, contribuindo para que fossem projetadas obras de nacionalidades antes desconhecidas, ou pouco conhecidas, pelos públicos. O cenário carioca dos anos anteriores ao início do regime militar era de expansão e fortalecimento dos circuitos paralelos de exibição, com a ampliação no número de cineclubes, sessões organizadas em centros diplomáticos e a criação das primeiras salas de cinema de arte na cidade (POUGY, 1996; QUENTAL, 2010). Fruto dos esforços desses movimentos paralelos, víamos um quadro de ampliação no número e na diversidade de obras estrangeiras que davam entrada no Brasil até o início dos anos 70, que foi seguida de um drástico fechamento do mercado nacional. Nesse cenário de restrições, Fabián Núñez (2018) concluiu que a Cinemateca do MAM funcionou como um polo catalisador da cultura cinematográfica no Rio de Janeiro.
Nessa apresentação, exponho os resultados de uma primeira análise das mostras cinematográfica de longas-metragens programadas pela Cinemateca do MAM, entre os anos de 1964 e 1977, tendo como fonte as informações disponíveis nos Informativos do Museu, depositados no Centro de Pesquisa e Documentação da Cinemateca do MAM. O recorte temporal se relaciona à entrada de Cosme Alves Netto na direção da Cinemateca, em agosto de 1964, e à ausência dos Informativos do ano de 1978 (boa parte dos materiais impressos se perderam no incêndio ocorrido no museu, no dia 8 de julho daquele ano). Os dados que orientam essa apresentação fazem parte da pesquisa que realizei para minha tese de Doutorado em Sociologia (PIRES, 2019).
Nos Informativos do Museu, encontramos informações: sobre as Mostras programadas, sessões “extras”, o circuito Arte-Cinemateca, entre outras; que demonstram o incremento no número de atividades no período. Foram contabilizadas 107 mostras, com apresentação de filmes de longas-metragens; as atividades eram organizadas por nacionalidade ou por temática, aglutinando filmes de variadas origens, muitas vezes exibidos sem legendas em português. As cópias eram conseguidas junto às embaixadas e muitas foram trazidas ao país em malas diplomáticas; o respaldo de ser uma atividade do MAM/RJ foi fundamental, possibilitando que as mostras ocorressem mesmo nos anos de maior repressão da ditadura. Outra importante frente assumida pela Cinemateca foi a promoção de festivais exclusivos de cinema brasileiro, que a partir de 1970 passam a ser programados anualmente, incluindo debates com realizadores.
Nesta ocasião, apresento dados quantitativos e qualitativos, que permitam uma compreensão mais ampla da origem dos títulos e a diversidade das obras exibidas nesse período. Com especial interesse, na análise de como o ineditismo esteve presente e justificou a importância da programação de Mostras audiovisuais. O uso de termos como “panorama do cinema …”, “aproximação ao cinema”, “descoberta do cinema…”, etc. na denominação dos eventos, descreve a singularidade de se conhecer filmografias que, apesar de estarem em expansão e receberem reconhecimentos nos circuitos internacionais, continuavam desconhecidas para os públicos cariocas. Somado a isso, a continuidade das mostras, expressa na sequência numérica a cada edição, nos diz sobre o esforço de criar uma regularidade. Em inúmeros Informativos encontramos o posicionamento militante da instituição, na tentativa de que os filmes trazidos para a mostra fossem comprados e exibidos nos cinemas regulares da cidade, por vezes atacando o mercado de distribuição, em outras, a censura militar. A experiência de difusão era realizada com apoio de outras instituições de Arte (DYLAN, 2021), demonstrando que durante a ditadura os Museus articularam diplomacia e militância para criar mostras audiovisuais e incentivar os circuitos alternativos de projeções.
Bibliografia
- DYLAN, Emerson. Território da cinefilia: a Mostra Internacional de Cinema e a cidade de São Paulo (1977-1983). Dissertação (Mestrado em História), UNIFESP, Guarulhos, 2021.
NÚÑEZ, Fabián. “Reflexões sobre a Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro na virada dos anos 1960 aos 1970”. In: Significação, São Paulo, v. 45, n.50, 2018.
PIRES, Bianca S. A formação de públicos cinéfilos: Circuitos paralelos, Museus e Festivais Internacionais. Tese (Doutorado em Sociologia), UFRJ, Rio de Janeiro, 2019.
POUGY, Alice. A Cinemateca do MAM e os cineclubes do Rio de Janeiro: formação de
uma cultura cinematográfica na cidade. (Dissertação de Mestrado em História). PUC/RJ, Rio de Janeiro, 1996.
QUENTAL, José L. de A. A preservação cinematográfica no Brasil e a construção de uma
cinemateca na Belacap: a Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.
(Dissertação de Mestrado em Comunicação). UFF, Niterói, 2010.