Ficha do Proponente
Proponente
- Gilberto Alexandre Sobrinho (UNICAMP)
Minicurrículo
- Professor de Estudos da TV, Vídeo e Cinema, junto ao Departamento de Multimeios, Cinema e Comunicação, do Instituto de Artes da UNICAMP, Campinas – SP. É também realizador, no campo do documentário.
Ficha do Trabalho
Título
- O cinema negro LGBT e queer no Brasil
Seminário
- Cinemas negros: estéticas, narrativas e políticas audiovisuais na África e nas afrodiásporas.
Resumo
- Estudo sobre o cinema negro LGBT e queer, no Brasil, em que a questão da performance dos sujeitos diante da câmera engendra uma conexão com o(s) sujeito(s) atrás da câmera, ou seja, a presença dispara e se conecta à autorrepresentação, um elo forte entre os filmes aqui considerados. Assim, qual a singularidade desse cinema negro, tomando-se como ponto de partida as identidades dos cineastas e o interesse em narrar sobre sujeitos queer, como dominantes no plano da representação?
Resumo expandido
- Há uma pluralidade de vozes na produção cultural e estética audiovisual negra no Brasil, que emergiu, com ênfase, na década passada. Nela, realizadores constroem as representações da negritude em que pesa, sobretudo, um deslocamento radical, à medida que possam se valer do dispositivo de construção de suas próprias narrativas, em distintas chaves. Nesse sentido, a narração em primeira pessoa, o gesto performático e a figuração do eu desempenham papeis estratégicos nessas articulações, na ficção, no documentário e em expressões audiovisuais que mesclam essas tradições em direção a uma voz própria, em que se articulam construções identitárias e potentes fabulações. São construções narrativas e poéticas cinematográficas afro-diaspóricas com forte tom na subjetividade, em um mergulho em modos de vida que entrecruzam o público e o privado, articulados em invenção e linguagem. Empoderados, resistentes e reunidos em circuitos coletivos de vivência artística, acadêmica, política e comunitária, reivindicam e executam o protagonismo da construção de suas próprias narrativas, de suas memórias e da representação de suas vidas. Parte dessa produção compartilha uma postura decolonial e se ajusta à grande defasagem na compreensão e, principalmente, na assunção pública e institucional do legado de séculos de colonialismo para as vidas de pessoas negras (e também indígenas), onde se desenvolveram e arraigaram formas de racismo e etnocentrismo estruturais que perpetuam em formas de violência, estabelecendo, continuamente, o que se denuncia como genocídio, em um processo contínuo de precarização de suas vidas. Um dos modos de reação a esse estado de coisas é o que bell hooks (2019) nomeia como o olhar opositor, ou seja, a instauração desse outro ponto de vista que mexe e questiona os modos dominantes e hegemônicos na produção e representação de imagens e sons. E aqui, vale destacar as mulheres negras e a comunidade negra LGBT, que despontam como cineastas, num cenário em que seu protagonismo ainda é escasso, e é justamente essa irrupção que torna essa produção recente vibrante. Portanto, o cinema negro dinamiza-se ao colocar questões de expressão e de conteúdo, a partir do cruzamento entre negritude, feminismo e o universo e LGBT. Chama a atenção a emergência de novos realizadores, cujos filmes têm somado prêmios em festivais nacionais e internacionais. Este trabalho explora a cena artística audiovisual recente, buscando analisar artistas negros LGBTs, cuja abrangência em termos de identidade e performance de gênero assentam-se apropriadamente no universo teórico e artístico queer. O foco recai sobre filmes de não ficção e uma “ficção documental”, em que a questão da performance dos sujeitos diante da câmera engendra uma forte conexão com o(s) sujeito(s) atrás da câmera, ou seja, a presença dispara e se conecta ao que entendemos como a autorrepresentação e isso parece ser um elo forte entre os filmes aqui considerados. Seja por via do sujeito que se filma, seja por meio do registro do outro, a autorrepresentação como tropo discursivo está colocada e disparada como uma corrente de afetos que encontra na performance e na representação uma força estética de criação e resistência. A pergunta que surge é: qual a singularidade de um cinema negro LGBT e queer, tomando-se como ponto de partida as identidades dos cineastas e, principalmente, o interesse em narrar sobre sujeitos queer, como dominantes no plano da representação? Os filmes são: Afronte (2017), dirigido por Marcus Vinicius Azevedo e Bruno Victor, NEGRUM3 (2018), de Diego Paulino, a Trilogia da Bicha Preta, composta por Arco da Liberdade (2015), Arco do Medo (2017), Arco do Tempo (2019), de Juan Rodrigues, Perifericu (2019), de Nay Mendl, Rosa Caldeira, Stheffany Fernanda e Vita Pereira, Rebu – A Egolombra de uma sapatão quase arrependida (2029), de Mayara Santana e A beira do planeta mainha soprou a gente (2020), Bruna Barros e Bruna Castro.
Bibliografia
- BERNARDINO-COSTA, Joaze, GROFOGUEL, Ramon. Decolonialidade e perspectiva negra. Revista Sociedade e Estado. Volume 31, Número 1, Janeiro/Abril 2016, p.15-24.
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hooks, bell. Olhares negros. Raça e representação. São Paulo: Elefante, 2019.
SIFUENTES- JÁUREGUI, Bem. The avowal of difference: a queer Latino American narratives. Albany: State University of New York Press, 2014.