Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    Patricia Moran Fernandes (USP)

Minicurrículo

    Professora no CTR, ECA/USP. Mestre pela UFRJ, doutora pela PUC/SP e Livre Docente pela USP. Dirigiu documentários e ensaios, conquistando prêmios nacionais e internacionais. Coordenou a coleção de livros do CINUSP. Organizou Cinema Apesar da Imagem (2016), com Marcus Bastos e Gabriel Menotti, Cinemas Transversais (2016), redigiu com Marcus Bastos Audiovisual ao vivo: tendências e conceitos (2020). Pesquisa trabalhos audiovisuais enfatizando a intersemiose dos meios.

Ficha do Trabalho

Título

    Apontamentos sobre riscos e ubiquidade

Mesa

    A imagem como contraespaço

Resumo

    A residência online Pink Umbrella (2020) coord. por Mirella e Muepto é o ponto de partida para se abordar a arte como agenciamento de espaços. Na rede, a imagem agrega à mediação – a este seu lugar de intermediário – o presença da criação e compartilhamento. Partilham-se imagens e ações, o tempo presente se evidencia como suspensão entre o passado e o futuro, um lugar inventado, “contraespaço” a reunir duplas de artistas para uma experimentação conjunta em risco. Um outro espaço a ser criado.

Resumo expandido

    A unidade do planeta, diversidade de sujeitos e experiências se coloca como acontecimento hoje. Como indivíduos da mesma espécie atravessamos um mesmo processo devastador que afeta Gaia. Nossa apresentação trata de experiências viabilizadas online, a única possibilidade quando idealizada. No espaço da rede o tempo evidencia suas dobras, devido à ubiquidade da rede. Repensam a arte e seus meios diante das im/possibilidades atuais.
    Em março de 2020 a pandemia em curso na Europa e Asia chega aos trópicos exigindo o isolamento social. A rede mundial consolida sua centralidade ao aproximar sem contato físico, ao abolir as distâncias geográficas. No Brasil a população carente continua nas ruas, os demais precisam reinventar o trabalho, os usos dos espaços público e privado se modificam. Na arte o choque é brutal, afinal, ela só existe se partilhada. O encontro, a celebração e a troca, demanda e usa corpos, espaços físicos com uso comum.
    Os anos sessenta e setenta, com a virada performátiva abandonaram o palco italiano, substituindo obras por processos. Artistas da performance se veem colocados diante de telas que organizam o espaço visível, segundo a perspectiva renascentista. Se a técnica não impediu o desastre sanitário, garantiu o acesso à distância. Cansativa e renascentista, ao se tornar única alternativa de expressão criativa, telas conectadas ao computador, transformam-se na residência Pink Umbrela (2020) com curadoria de Mirella Brandi e Muepto (M X M).
    A dupla MXM, artistas da performance audiovisual, transferem a sua prática curatorial de invenção de espaços físicos de ação para o espaço da rede recebendo criadores de todo país e do exterior. Estreiou em junho de 2020, em plena pandemia, permanecendo sete meses em cartaz com apresentações semanais unindo duplas de criadores, não necessariamente próximos. Jovens e consagrados artistas advindos da música, dança, teatro, performance, artes visuais e audiovisual, se encontraram deslocados de seu habitat criativo, aceitando o risco proposto por M X M de serem evitadas as Lives, tão em voga. Diante de tantos riscos representados pela pandemia, optam por mais estes, os criativos.
    A internet esmaece abismos espaço e temporais, une países e regiões de um pais continental como o nosso. A ubiquidade possibilitada pela rede, suspende o tempo de Cronos. Além da simultaneamente espacial, acolhe imagens e sons pré gravados e ao vivo, funde tempos carregados de durações diversas, como nos trabalhos apresentados em Pink Umbrela. Tempo e espaço estão imbricados como imagem, a existência mediada acolhe intervenções de toda ordem.
    O grupo Cena 11, e a dupla Lucas Bambozzi e Kátia Guedes serão descritos e analisados, tomando como perspectiva como suas imagens colocam-se como contra-espaço. Os projetos estão deslocados das práticas dos realizadores, mas mantém intensos traços do ponto de partida de cada um. O grupo de dança Cena 11 explora corpos, conseguindo manter a virulência de seus espetáculos presenciais, nos palcos. Prossegue a tradição de explorar choques e ao duplicar personagens em espaços distintos, propõe rimas visuais ausentes do presencial. A dupla Lucas Bambozzi e Kátia Guedes exploram a vocalização de modo a elevar a montagem, e os ritmos por ela produzidos à condição de um contato pela produção de diferentes intensidades. Guedes abandona sua extensão vocal, entregando ao exímio maestro da suspensão. A solidão e a dor coletiva pediram a reinvenção de formatos para encontro com o público. Estes artistas investem na intersemiose dos signos artísticos, os explorando em uma composição inusual no espaço heterotópico em que se transformou a rede.
    PINK UMBRELLAS ART RESIDENCY: https://www.youtube.com/c/PINKUMBRELLASARTRESIDENCY/videos
    CENA 11 / ALEJANDRO AHMED / PACT “Futuro Fantasma” – Santa Caratina: https://www.youtube.com/watch?v=T0o6SB3W_HA
    katia guedes / lucas bambozzi – Berlim e São Paulo: https://www.youtube.com/watch?v=lyiMYfR2kas&t=9s

Bibliografia

    BENJAMIN, Walter. “O narrador. Considerações sobre a obra de Nikolai Leskov.” In: Magia e Técnica, arte e política. Ensaios sobre literatura e história da cultura. Obras Escolhidas. Vol. 1. 7a ed. 10a reimpressão. São Paulo: editora Brasiliense, 1996.

    _______________. “Experiência e pobreza.” In: Magia e Técnica, arte e política. Ensaios sobre literatura e história da cultura. Obras Escolhidas. Vol. 1. 7a ed. 10a reimpressão. São Paulo: editora Brasiliense, 1996.

    DIDI-HUBERMAN, Georges. Images malgré tout. Paris: Les Éditions de Minuit, 2003.

    FOUCAULT, Michel. O corpo utópico, as heterotopias. São Paulo: n-1 edições, 2013.

    MORIN, Edgar. É hora de mudarmos de via. As lições do coronavírus. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2020.

    PARENTE, Andre. (Org.). Tramas da rede: novas dimensões filosóficas, estéticas e políticas da comunicação. Porto Alegre: Sulina, 2010.