Ficha do Proponente
Proponente
- Maria Ogecia Drigo (Uniso)
Minicurrículo
- Doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC/SP, pós-doutora pela ECA/USP e estágio pós-doutoral na Universidade de Kassel, Kassel, Alemanha. Docente e coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura da Universidade de Sorocaba (Uniso), SP, líder do Grupo de Pesquisa em Imagens Midiáticas, onde desenvolve projeto de pesquisa – com apoio da FAPESP – sobre imagens cinematográficas, no fluxo das ideias peirceanas e deleuzeanas.
Coautor
- João Paulo de Carvalho dos Reis e Cunha (Uniso)
Ficha do Trabalho
Título
- A TAXONOMIA DELEUZEANA PARA A IMAGEM-MOVIMENTO EM “RELATOS DO MUNDO”
Resumo
- Este artigo tem como objetivo explicitar o potencial de significados do filme “Relatos do mundo” aplicando a taxonomia de imagens cinematográficas propostas por Deleuze. Para tanto, apresenta-se o conceito de imagem-movimento; discute-se a divisão em imagem-afeção, imagem-ação e imagem-relação e, por fim, apresentam-se análises de sequências do filme. O artigo é importante por explorar uma classificação de imagens cinematográficas que permite a realização de análises para além das narrativas.
Resumo expandido
- O artigo tem como objetivo explicitar o potencial de significados gerados pelo filme “Relatos do mundo”, a partir de uma análise que utiliza a classificação da imagem-movimento proposta por Deleuze. Em linhas gerais, o filme mostra a trajetória do Capitão Kidd, veterano da Guerra de Secessão que se dedica a ler notícias de jornais em eventos públicos, em diversas cidades do oeste estadunidense. Em uma de suas viagens, encontra uma menina, sobrevivente de um ataque a uma carruagem. Junto com a garota, que fora raptada tempos antes por índios, há uma carta indicando onde seus parentes mais próximos moram. Após frustrar-se com que as autoridades locais se responsabilizassem pela menina, Kidd decide iniciar uma jornada para encontrar a família da menina. Ao longo do caminho, ele e a menina Johanna terão que superar a desconfiança, barreiras linguísticas e os desafios impostos pela natureza e por bandidos em uma região hostil e abalada pela derrota na guerra. Para análise, vamos selecionar dois recortes para cada modalidade de imagem-movimento, seguindo a divisão elaborada por Deleuze. Assim, apresenta-se, inicialmente, um breve estado sobre análises de filmes com base na taxonomia deleuzeana; detalhes sobre o filme e aspectos do gênero western; em seguida, trata-se da imagem-movimento e suas divisões e, por fim, as análises dos planos selecionados. O filósofo francês elaborou uma taxonomia das imagens cinematográficas – desvinculada da tradição semiolinguística, valendo-se, principalmente, de conceitos de movimento de Bergson e da fenomenologia de Charles S. Peirce –, considerando que o plano é a imagem-movimento e este é um corte móvel de uma duração, pois refere o movimento a um todo que muda, enquanto a montagem é o agenciamento das imagens-movimento e o cinema, por sua vez, segundo Deleuze (1985, p. 83), “faz nascer signos que lhe são próprios e cuja classificação lhe pertence”. Utilizaremos as três modalidades de imagem-movimento: imagem-afecção, imagem-ação e imagem-relação. A imagem-afecção é o primeiro plano, plano de rosto ou de objeto rostificado, imagem que abstrai as coordenadas espaço-temporais do objeto, sem arrancá-lo do conjunto do qual faz parte. Está vinculada à categoria da primeiridade da fenomenologia peirceana. A imagem-ação – tradicional do cinema hollywoodiano (estímulo e resposta, ação e reação sobre uma situação) – está vinculada ao sistema sensório-motor, de modo que uma percepção suscita uma ação. Ela se apresenta como imagem-pulsão, grande forma e pequena forma, sendo que na grande forma, uma situação suscita uma ação, a qual a transforma e resulta em uma nova situação (S-A-S’); e na pequena forma, uma ação é o ponto de partida para que uma situação se revele, a fim de que outra vez uma ação se estabeleça (A-S-A’). É a imagem correlata à segundidade da fenomenologia peirceana. A imagem-relação está vinculada à terceiridade e traduz-se pelo resultado de alguma relação efetivamente existente, entre o que está fora e o que está no quadro fílmico, que depende de marcas e desmarcas (choques de relações naturais/série) e símbolos (nós de relações abstratas/conjunto). Com as análises das imagens selecionadas e a observação do movimento das mesmas no filme como um todo, é possível conjeturar sobre os efeitos do filme enquanto signo, ou ainda, explicitar o potencial de significados latentes no filme. Das análises, destacamos que as imagens-afecção que permeiam as outras modalidades de imagens-movimento agregam uma ambiência propícia à geração de efeitos emocionais, o que rompe com as expectativas de um espectador para com o gênero western. As reflexões são importantes para a comunicação visual, por trazer à tona discussões sobre o potencial das imagens e suas relações com o pensamento, o que leva a análise fílmica para além de análises restritas apenas à narrativa.
Bibliografia
- BAZIN, André. O cinema: ensaios. São Paulo: Brasiliense, 1991.
BERGAN, Ronald. …Ismos: para entender o cinema. São Paulo: Editora Globo, 2010.
DELEUZE, Gilles. Cinema 1 – A imagem-movimento. São Paulo: Brasiliense, 1985.
DELEUZE, Gilles. Conversações: 1972-1990. São Paulo: Editora 34, 1992.
DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia. São Paulo: Editora 34, 1996. Vol. 3.
KEHL, Maria Rita. Cinema e imaginário. In: XAVIER, Ismail (Org.). O cinema no século. Rio de Janeiro: Imago, 1996. p. 107-121.
MANTOVI, Primaggio. 100 anos de western. São Paulo: Opera Graphica Editora, 2003.
RELATOS DO MUNDO. Direção: Paul Greengrass. Produção: Gary Goetzman; Gregory Goodman e Gail Mutrux. Intérpretes: Tom Hanks; Helena Zengel; Tom Astor et al. Roteiro: Paul Greengrass e Luke Davies. Música: James Newton Howard. EUA: Universal Pictures, 2020. Disponível em: https://www.netflix.com/title/81210670, surround, widescreen, color.