Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    Ian Costa Cavalcanti (UFPE)

Minicurrículo

    Doutorando em Comunicação pelo PPGCOM-UFPE, mestre em Comunicação pelo PPGC-UFPB e graduado em Arte e Mídia pela UFCG. Sua pesquisa atual incide sobre o desenho de som e estilo, música e efeitos sonoros, processos colaborativos no desenho de som, assim como na relação imagem-música. É atualmente professor do Bacharelado em Arte e Mídia da UFCG nas áreas de Audiovisual e Áudio e Tecnologia.

Ficha do Trabalho

Título

    Estilo e fusão sonora de Christopher Nolan

Resumo

    Este estudo aborda a prática estilística da fusão dos elementos sonoros na obra do diretor Christopher Nolan a partir de parcerias formadas com o sound designer Richard King e o compositor Hans Zimmer. Sob o prisma do marcador estilístico da fusão entre música e efeitos sonoros, analisa a incidência e recorrência desta fusão nos filmes em que o trio trabalhou em conjunto, investigando a contribuição entre desenho de som, composição musical e conceituação da direção.

Resumo expandido

    A cadeia produtiva do som no cinema se desenvolveu a partir de uma divisão entre edição, mixagem e composição musical. Esta segmentação abarcou nuances de experimentação e replicação de esquemas na consolidação de suas linguagens e de seus grupos expressivos dentro da dimensão sonora, estabelecendo papéis bem definidos ao uso das vozes, ruídos, músicas e silêncios a partir de contextos e problemas que variam do caráter cultural ao status tecnológico.
    O estilo da música e desenho de som acabou se cruzando em diversos momentos ao longo da história do cinema, unindo composições originais e sons diegéticos, integrando esquemas que, à luz do Paradigma do Problema/Solução (Bordwell, 2008), sanaram questões de representação, expressão ou mesmo orçamentárias, como é possível observar na prática do mikeymousing ou na obra de Ennio Morricone junto aos filmes de Sergio Leone.
    Observamos que a fusão dos elementos sonoros passou por um processo de continuidade intensificada (CARREIRO, 2018) a partir da consolidação do desenho de som em suporte digital, sobretudo na década de 2000. Um dos expoentes dessa prática é o trabalho conjunto entre o diretor Christopher Nolan, o sound designer Richard King e o compositor Hans Zimmer, em que podemos notar que todas as obras em que o trio atuou em conjunto, houve fusão de elementos da banda sonora, sobretudo dos ruídos e da música. Isto denota não apenas um processo de replicação de esquemas, mas de uma assinatura estilística coletiva, bem como uma possível mudança do processo de construção sonora a partir da parceria do trio, tornando desenho de som e composição organizada entre fronteiras tênues.
    Esta comunicação tem por objetivo traçar um comparativo entre as instâncias da direção, composição e desenho de som na construção das obras em que o trio Christopher Nolan, Hans Zimmer e Richard King trabalhou em parceria, identificando especificamente o marcador estilístico da fusão entre concepção da obra, composição musical e desenho de som. Este estudo nos comportará um debate acerca do desenho de som contemporâneo a partir de uma possível quebra de paradigma desta cadeia produtiva, o que pretensamente apontamos como tendência de modus operandi.
    O trabalho deste trio de consagrados profissionais da indústria estadunidense desponta como evidente representante desta prática que estabelece a fusão dos elementos sonoros como forte tendência de estilo para o desenho de som no audiovisual. Este marcador estilístico não é evidente na obra dos integrantes deste trio quando trabalhando fora da parceria. Sabendo ainda que o esquema da fusão de música e ruídos por si só não caracterize uma inovação, as principais contribuições podem partir da observação de como Nolan, Zimmer e King desempenham esta assinatura pelo trabalho conjunto, assim como o resultado conciso vem a ser fruto de concepção e planejamento que permeiem o melhor que a excelência de experientes profissionais do desenho de som e da composição possam trazer, orquestrados a partir da visão conceitual da direção.
    Esta proposta de comunicação analisará a incidência de fusão entre a música e os ruídos como uma prática estilística no desenho de som das obras em que o trio Christopher Nolan, Hans Zimmer e Richard King trabalharam em conjunto entre os anos de 2008 e 2017. No intuito de propor o referido marcador estilístico como fruto da construção coletiva do trio, por meio da engenharia reversa (CARREIRO, 2011) balizada através das concepções de Opolski (2018) em relação à cadeia produtiva do som no cinema, analisaremos as possíveis contribuições das instâncias da composição, desenho de som e direção para a confluência sonora em questão. Para tanto, escolhemos o filme Dunkirk (2017) como elemento central de análise por entender que este demonstra em grau superlativo a fusão dos elementos sonoros, bem como por ter sido laureado com os principais prêmios do cinema no segmento sonoro em seu ano de lançamento.

Bibliografia

    BORDWELL, D. Figuras traçadas na luz. Campinas, SP: Papirus, 2008.

    CARREIRO, Rodrigo. Era uma Vez no Spaghetti Western: Estilo e narrativa na obra de Sergio Leone. 2011. 330 f. Tese (Doutorado) – Programa de Pós-Graduação em Comunicação, Universidade Federal de Pernambuco – Centro de Artes e Comunicação, Recife, 2011.

    _____; ALVIM, Luíza. Uma questão de método: notas sobre a análise de som e música no cinema. Matrizes, v. 10, n. 2, p. 175-193, maio/agosto.

    _____. Continuidade intensificada no som dos filmes: seis tendências e um estudo de caso. Famecos, Porto Alegre, v. 25, n. 2, p. 1-20, maio/agosto. 2018.

    CHION, Michel. A Audiovisão. Trad. Pedro Elói Duarte. Lisboa, PT: Edições Texto & Grafia, 2008.

    OPOLSKI, Débora. O som na pós-produção cinematográfica. In CARREIRO, Rodrigo (Org.). O som do filme: uma introdução. Curitiba: Ed. UFPR/ Ed. UFPE, 2018. p. 181- 219.