Ficha do Proponente
Proponente
- Josafá Marcelino Veloso (PPGMPA – ECA – USP)
Minicurrículo
- Historiador, pesquisador. Doutorando pelo Programa de Pós-Graduação em Meios e Processos Audiovisuais (PPGMPA – ECA – USP). Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Estudos Contemporâneos das Artes (PPGCA – UFF). Bacharel em História pela Universidade de São Paulo (FFLCH – USP). Estudou cinema documentário na Escola Santo Antonio de Los Baños (EICTV), em Cuba. Diretor de “Banquete Coutinho”, longa metragem produzido pela Heco Produções. Jornalista, editor, diretor de filmes institucionais.
Ficha do Trabalho
Título
- “IT’S ALL TRUE” REVISITADO – ANÁLISE DO MEMORANDO DE MAIO DE 1942
Resumo
- Propomos uma análise imanente do Memorando de maio de 1942, enviado por Welles do Brasil ao estúdio RKO nos EUA. Angariado junto à Lily Library de Bloomington, Indiana, nos EUA, este Memorando de 172 páginas datilografadas vem dividido em quatro segmentos: “Introdução”, “Carnaval – Treatment For The Film Itself”, “Apêndice” e “Notas de filmagem”. Destacaremos como este documento se apresenta como uma espécie de pitching, em que Welles justificará a integridade de seus esforços até ali.
Resumo expandido
- Uma vez que It’s all true é um projeto para sempre inacabado e que sua pretensa “reconstrução”, Based on Unfinished film of Orson Welles (Khron, Meiser, Wilson. EUA, 1993), está longe de apresentar uma ideia satisfatória do que seria o meio documentário meio ficção de Welles e sua equipe. E assim como são poucos os trabalhos sobre It’s all true no Brasil, propomos aqui uma análise imanente do Memorando de maio de 1942, enviado por Welles do Brasil ao estúdio RKO nos EUA logo após a trágica morte do jangadeiro Jacaré, em 19 de maio, três meses após a chegada do diretor ao Brasil, em 8 de fevereiro, e alguns dias após o término da película Tecnicolor, absolutamente fundamental para a filmagem do grand finale não só do episódio do Carnaval, mas de todo It’s all true – que seria filmado em fins de maio e início de junho nos estúdios da Cinédia no Rio.
Angariado junto à Lily Library de Bloomington, Indiana, nos EUA, que preserva uma extensa documentação sobre o tema, este Memorando de 172 páginas datilografadas vem dividido em quatro segmentos. Após uma pequena “Introdução”, há um valioso esboço da estrutura do episódio do Carnaval, chamado “Carnaval – Treatment For The Film Itself”, com 30 páginas, seguido de um “Apêndice”, longo relatório sobre os primeiros meses de filmagem em locação, e finalmente as “Notas de filmagem”, que incluem o que literalmente foi registrado em filme negativo até aquele momento de produção. O valor deste documento é inestimável.
Em maio de 1942, na escrita deste Memorando, Welles está na encruzilhada. Desacreditado pela RKO, DIP (proponentes do projeto) e imprensa brasileira, o Memorando traduz um gesto desesperado do diretor em defesa do valor artístico (e de entretenimento!) do episódio do Carnaval e da jornada brasileira até ali. Destacaremos como este documento se apresenta como uma espécie de pitching, em que Welles justificará a integridade de seus esforços criativos – e gastos no orçamento – até o momento na realização de sua missão artístico diplomática.
Pretendemos analisar como Welles planejava estruturar o episódio do Carnaval – o feature story dentro de It’s all true; assim como refletir como o episódio ganharia cores de ensaio com a voz e corpo de Welles adentrando na diegese do episódio sobre o samba carioca (e dos “Jangadeiros”, já que ambos estariam interligados).
Passar a limpo os eventos e as intenções estéticas da “experiência brasileira” é crucial. Não só, como é mais comum, crendo que a viagem aos trópicos de Welles tenha sido uma “maldição”, mas, ao contrário, propomos entender tal experiência como uma “bênção” em seu caminho, um batismo de fogo: pela primeira vez Welles enfrenta filmagem em locação, equipe mínima, o escrever de um roteiro que se faz enquanto se filma, como ele o fará no futuro de sua carreira. Uma análise dos vestígios documentais que concernem It’s all true se dá no esforço de reabilitar um cineasta que ainda hoje, sessenta anos após os eventos ao redor de It’s all true, tem a sua integridade artística difamada (só ver o recente e indigesto, Mank). Para entender de fato o que houve com Welles e sua carreira, voltemos a It’s all true.
Welles lembra já em sua primeira linha de texto que o episódico It’s all true – que inclusive assim sempre o fora desde sua concepção e início de produção em setembro de 1941 – não seria uma seleção arbitrária de assuntos. It’s all true haveria de ter uma unidade de anseio pan-americano amalgamado pela voz e presença de Welles no filme, algo que já estava previsto em contrato desde a nova concepção do projeto, quando The Office e o DIP entram no projeto, em dezembro de 1941. “Nem é vaudeville”, Welles acrescenta. Quer dizer, entre o cinema de atrações e o cinema narrativo, Welles sempre há de ficar com a narrativa, sua obsessão.
Bibliografia
- BENAMOU, Catherine. It’s all true. Orson Welles’s. Pan-American Odyssey. University of California Press, Ltd. California/EUA, 2007.
CALLOW, Simon. Orson Welles: Hello Americans, vol.2. New York/USA. Penguin USA, 2006.
HAYLEN, Clinton. Despite the System: Orson Welles versus the Hollywood Studios. Chicago: Chicago Review Press, 2005.
HIRANO, Luis Felipe Kojima. Uma interpretação do cinema brasileiro através de Grande Otelo: raça, corpo e gênero em sua performance artística (1917-1993), tese defendida no Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade de São Paulo (PPGAS/USP).
MCBRIDE, Joseph. What Ever Happened to Orson Welles?: A Portrait of an Independent Career. Lexington: University Press of Kentucky, 2006.
RIPPY, Marguerite H. Orson Welles and the Unfinished RKO Projects: A Postmodern Perspective. Carbondale: Southern Illinois University Press, 2009.
SIQUEIRA, Sérvulo. Orson Welles no Brasil. Fragmentos de um Botão de Rosa tropical. Rio de Janeiro, 2010.