Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    Filipe Brito Gama (UFF)

Minicurrículo

    Doutorando no Programa de Pós-Graduação em Cinema e Audiovisual (PPGCINE) da Universidade Federal Fluminense (UFF), Professor Assistente do curso de Cinema e Audiovisual da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) e Realizador Audiovisual.

Ficha do Trabalho

Título

    A trajetória da Orient Cinemas no mercado exibidor brasileiro

Seminário

    Exibição cinematográfica, espectatorialidades e artes da projeção no Brasil

Resumo

    Esta comunicação busca apresentar e analisar a trajetória da empresa exibidora baiana Orient Cinemas e sua relação com o mercado de salas de cinema, desde o início de suas operações com cinemas nos anos 1980, em um momento de crise no setor, até as estratégias desenvolvidas pela empresa para sua continuidade nas décadas seguintes no Brasil e no exterior. Um estudo de caso que apresenta as mudanças no parque exibidor brasileiro, dos antigos cinemas de rua aos complexos multiplex em shoppings.

Resumo expandido

    Compreendendo a possibilidade de estudar a exibição a partir de suas dimensões econômicas e institucionais dentro do campo da recepção, articulando aspectos do mercado cinematográfico, questões históricas e a análise dos cinemas em diferentes localidades (ALLEN, 1990), esta comunicação analisa a trajetória da empresa baiana Orient Cinemas e sua atuação no circuito exibidor brasileiro ao longo das décadas.
    A Orient Filmes foi fundada por Aquiles Mônaco em 1978, inicialmente se voltando para distribuição de filmes em 16mm e, posteriormente, 35mm. Diante das dificuldades do mercado de distribuição, em 1983 migra para o ramo da exibição cinematográfica ao arrendar o Cine Jandaia, um histórico cinema de Salvador (SAMPAIO, 2013). A Orient inicia sua trajetória em um período de profundas mudanças no circuito de salas de cinema: se os anos 1950 foram marcados pelo crescimento do número de cinemas em todo país, consolidando nos anos 1960 […] um parque exibidor segmentado, com participes regionais, que detinham um grande número de cinemas […]” (DE LUCA, 2010, p. 56), este cenário se mantém parcialmente nos anos 1970, com 3.276 salas, em 1975. Na década seguinte já se percebe a redução do número de salas e o fechamento dos cinemas de rua tanto nas capitais e no interior, além do fortalecimento da migração dos cinemas para os shoppings centers que estavam sendo inaugurados no período, majoritariamente nas grandes cidades (SIMIS, 2017). É neste período que o grupo Orient expande seus negócios tanto para a operação de cinemas de rua, já existentes na capital e no interior, quanto em espaços nos novos shoppings de Salvador: a empresa abriu duas salas no Shopping Itaigara entre 84 e 85 e, em seguida, ampliou o seu mercado neste segmento, inclusive estabelecendo uma parceria com a Paris Filmes nas salas do Shopping Barra. Entre as décadas de 1980 e 1990, a Orient chegou a operar mais de 140 salas entre Bahia, Pernambuco e Sergipe (SAMPAIO, 2013), contando com a Art Films como principal concorrente em território baiano, em um momento em que o número de salas reduzia drasticamente (ALMEIDA; BUTCHER, 2003). Como exemplo deste período, a Orient arrendou antigos cinemas no interior, como no caso do Cine São Francisco em Juazeiro-BA e o Cine Petrolina, em Petrolina-PE, em seus últimos anos de atividade. Ainda em Juazeiro, o grupo inaugura uma sala na Galeria Aguascenter, experiência de curta duração, o que indica um momento de grande instabilidade na manutenção das salas arrendadas, especialmente os cinemas de rua.
    Os anos 1990 marcam a chegada de operadores internacionais no Brasil, bem como o início da implantação modelo multiplex no país, contando com estratégias diversas, inclusive com algumas experiências com sócios-investidores brasileiros e joint-ventures (GATTI, 2005). Na Bahia, o primeiro multiplex surge a partir de uma joint-venture entre a Orient e a UCI – United Cinemas Internacional, um complexo de 12 salas e 3.000 assentos no Shopping Iguatemi, e, no ano seguinte, o segundo é aberto no Aeroclube Plaza, um complexo com 10 salas com 2.736 lugares (SANTOS, 2000). A parceria se mantém e em 2019 contava com 03 complexos e 26 salas. No século XXI, a Orient também investiu em complexos localizados nos shoppings de cidades médias do interior do Nordeste, como Feira de Santana-BA, Petrolina e Juazeiro do Norte-CE, além do caso de Serrinha, cidade com menos de 100 mil habitantes (em 2019, nessas cidades, havia um complexo em cada, totalizando 16 salas).
    Além da forte presença no mercado regional, o grupo Orient desenvolve estratégias de internacionalização de seus negócios, algo raro para empresas brasileiras exibidoras, a partir da marca Cineplace, gerindo um complexo de 08 salas em Luanda (Angola) entre 2008 e 2017, em um shopping inauguro no período, expandindo a rede para Portugal a partir de 2013, chegando a gerenciar 13 complexos e 85 salas em 2017, possuindo, portanto, uma rede de cinemas no exterior maior que a sua no Brasil.

Bibliografia

    ALLEN, Robert C. From exhibition to reception: reflections on the audience in film history, Screen, 31(4), 1990, pp. 347-356.
    ALMEIDA, Paulo Sérgio; BUTCHER, Pedro. Cinema, desenvolvimento e mercado. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2003.
    GATTI, André Piero. Distribuição e exibição na indústria cinematográfica brasileira (1993-2003). Tese. Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Artes, Campinas, 2005.
    LUCA, Luiz Gonzaga Assis de. Mercado exibidor brasileiro: do monopólio ao pluripólio. In: MELEIRO, Alessandra. (org.). Cinema e mercado. São Paulo: Escrituras, 2010.
    SANTOS, Eletice Rangel. O Sistema Multiplex e a Crise das Salas de Cinemas Tradicionais em Salvador. 2000. 53 f. Monografia. Faculdade de Ciências Econômicas, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2000.
    SAMPAIO, João Carlos. Perfil do Exibidor. Revista Filme B. Rio de Janeiro, Novembro, 2013.
    SIMIS, Anita. Marcos na exibição de filmes no Brasil. Pol. Cult. Rev., Salvador, v. 10, n. 2, p. 59-94, jul./dez. 2017