Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    Andréia de Lima Silva (UFF)

Minicurrículo

    Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Cinema e Audiovisual da UFF. Possui mestrado em História Social pela UFMA. Especialista em Jornalismo Cultural na Contemporaneidade, também pela UFMA. É graduada em Jornalismo pela mesma instituição. Atualmente é jornalista do Instituto Federal do Maranhão. Desenvolve pesquisa na área de cinema e audiovisual, com ênfase no estudo do cinema maranhense. Atualmente participa do Grupo de Pesquisa do Núcleo de Pesquisa e Produção de Imagem – NUPPI do IFMA.

Ficha do Trabalho

Título

    Maranhão: perspectivas e contradições de um mercado invisibilizado

Resumo

    O Maranhão ocupa uma cena peculiar no mercado cinematográfico brasileiro. Ao mesmo tempo que possui um dos festivais de cinema mais antigos do país (Guarnicê), as produções de ficção em formato de longas-metragens tiveram suas primeiras incursões apenas em meados dos anos 2000. Em quadro desenvolvido pela pesquisadora, catalogamos vinte filmes produzidos no Estado. Desses, apenas quatro foram registrados na ANCINE, o que torna a produção maranhense invisível em nível nacional.

Resumo expandido

    Esta pesquisa tem o objetivo de investigar de que forma se configura o cinema do Maranhão a partir da caracterização da produção e do consumo de longas-metragens de ficção maranhenses. Nesse sentido, queremos compreender a cena peculiar que o Estado ocupa no mercado cinematográfico brasileiro, já que ao mesmo tempo que possui um dos festivais de cinema mais antigos do país (Festival Guarnicê, que vai para a sua 44ª edição em 2021), as produções de ficção em formato de longas-metragens tiveram suas primeiras incursões apenas em meados dos anos 2000. Em tabela desenvolvida pela pesquisadora (SILVA, 2018), e atualizada em 2020, catalogamos vinte filmes produzidos no Estado. Dentre eles, até 2019, apenas quatro foram registrados na Agência de Cinema Brasileira (ANCINE), o que torna a produção maranhense invisível em nível nacional. Paralelo a isso, as produções de comédia realizadas no Estado possuem atualmente cerca de 24 milhões de visualizações no YouTube. Uma dessas produções, Muleque té doido 2 (2016), ocupou a 25ª posição entre os filmes brasileiros mais vistos naquele ano, de acordo com dados da ANCINE, sendo que o filme foi lançado apenas no Maranhão.
    Esse cenário fértil e promissor na cinematografia maranhense recente nos apresenta um ambiente cheio de riquezas e contradições. Trata-se de um mercado que muitas vezes se retroalimenta, pois poucos são os filmes que circularam em festivais fora do Estado e menos ainda foram aqueles que entraram em cartaz em salas de cinema não maranhenses. Quando analisamos esta cena de forma pontual e cronológica o que se revela é uma história marcada pela informalidade, legislação pouco atuante ao longo da história e nenhum curso superior em cinema e/ou audiovisual em universidades públicas nem privadas.
    Ao compararmos o panorama do cinema maranhense com outros da Região Nordeste, observamos dados que, possivelmente, explicam a sua condição periférica até mesmo em nível regional. No Nordeste, o Maranhão divide a condição de não ter curso superior na área de cinema e audiovisual com o Piauí e o Estado de Alagoas. Na lista de filmes brasileiros lançados por unidade federativa do ano de 2019, a última divulgada pela Agência Nacional de Cinema (ANCINE), nem o Maranhão nem Alagoas aparecem com produção de filmes. Já o Estado do Piauí surge com um documentário em coprodução com o Rio de Janeiro. No caso do Maranhão, um agravante seria o fato de que a maioria das produções lançadas localmente passam despercebidas em âmbito nacional, pois não foram registradas na ANCINE.
    Por tudo isso, podemos nos questionar: a que se deve tal informalidade do mercado cinematográfico maranhense? Seria leviano atribuirmos uma única resposta a um problema tão complexo, porém quando começamos a pontuar alguns dados sobre o Estado fica evidente os fatores que, possivelmente, levaram a esse cenário. Primeiramente, a questão econômica é certamente um elemento influenciador, na medida em que o Maranhão é um Estado com altos índices de pobreza ao longo de sua história. Segundo dados do IBGE, o Estado é o quarto em população na Região Nordeste, com cerca de sete milhões de habitantes, sendo, contudo, o segundo na região com o pior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) – 0,639 –, perdendo apenas para Alagoas (0,631). Mas é no Rendimento mensal domiciliar per capita que o Maranhão possui os piores índices. A média é de R$ 636,00 por família. Vale ressaltar que cinco dos nove Estados da Região Nordeste a média é acima de R$ 900,00.
    É preciso, portanto, tornar o mercado cinematográfico maranhense mais profissional e competitivo. Para isso, são necessárias políticas públicas não só para o financiamento de filmes, mas que incentivem a profissionalização, a formação de plateia e a diversidade dessas produções.

Bibliografia

    ALBUQUERQUE JR., Durval Muniz de. A invenção do Nordeste e outras artes. Recife: FJN. Ed. Massaragana, 1996.
    AMANCIO, Tunico. O mundo como vontade de representação no Piauí. Significação: Revista De Cultura Audiovisual, 39(38), p. 40-53. 2012. Disponível em: https://doi.org/10.11606/issn.2316-7114.sig.2012.71138. Acessado em 01.11.2020.
    AUTRAN, Arthur. A noção de ciclo regional de “ciclo regional” na historiografia do cinema brasileiro. ALCEU – v. 10 – n.20 – p. 116 a 125 – jan./jun. 2010.
    PRYSTHON, Ângela. Do terceiro cinema ao cinema periférico – Estéticas contemporâneas e cultura mundial. Periferia. Volume 1. Número 1. Disponível em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/periferia/article/view/34210. Acesso em 30 mar. 2021.
    SILVA, Andréia de Lima. Essência local em molde “global”: Recursos cinematográficos e identidade urbana no filme Muleque té doido! (2014). 2018. 149 f. Dissertação (Mestrado). Universidade Federal do Maranhão – Centro de Ciências Humanas, São Luís, 2018.