Ficha do Proponente
Proponente
- Fábio de Carvalho Penido (UFMG)
Minicurrículo
- Fábio de Carvalho é graduado em Cinema e Audiovisual pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas) e atualmente é mestrando no Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da Universidade Federal de Minas Gerais (PPG-COM/UFMG) na linha Pragmáticas da Imagem.
Ficha do Trabalho
Título
- Golden Shower no Carnaval: formas de olhar para um escândalo digital.
Resumo
- A partir da noção de Grab, como teorizado por Susanna Paasonen na lida com materias de pornografia online, o presente trabalho propõe um diálogo crítico entre as teorias do Dispostivo, como estruturas da espectatorialidade cinematográfica, e as dinâmicas visuais implicadas na experiência com as mídias digitais. Como objeto, a apresentação se debruçará sobre o escândalo do Golden Shower no Carnaval de 2019, que ocorre no contexto de uma esfera pública que se comunica por via das redes digitais.
Resumo expandido
- A apresentação visa problematizar, em diálogo com o cinema, os desafios colocados pela experiência com as imagens pornográficas que circulam pelas esferas digitais no contexto da política brasileira contemporânea. Partindo de uma compreensão do cinema como etapa intermediária (ELSSAESER, 2018, p. 11), que informa e dialoga com as demais mídias técnicas através de rupturas e descontinuidades, recorrências e novidades, buscamos compreender as possibilidades e limites das dinâmicas visuais que se implicam sobre o espectador cinematográfico para olhar e interagir com a pornografia online que emerge, por diversas vezes, em meio a escândalos midiáticos. Tomaremos os processos de identificação entre espectador e aparato ideológico do cinema formulados pelas teorias do Dispositivo (XAVIER, 2017) como ponto de partida teórico para pensar processos contemporâneos onde a imagem visa restaurar ou estruturar um regime de visibilidade para uma coletividade. No entanto, a mera adaptação de modelos teóricos do passado para analisar as representações e os modos de encontro com materiais através das mídias seria um gesto insuficiente para lidar com a especificidade da experiência da pornografia online (PAASONEN, 2011). Seguimos a proposição de uma dinâmica visual, através da noção de Grab (Ibidem), que espera apreender um escopo mais amplo e preciso do navegar por sites pornográficos e seus filmes.
O Grab, ou, Pegar, diz de um investimento tanto visual quanto tátil, onde é dado aos usuários das redes não tão somente olhar para as imagens como pegá-las em suas virtualidades, por meios de edição, compartilhamento e reprodução. O espectador escopofílico presente nas discussões em torno da pornografia, se ve investido em uma nova fantasia de controle sobre as imagens, sendo capaz de performar diversos gestos de manipulação sobre os materiais em seu domínio através de likes, tags, comentários e ferramentas de pesquisa. Há, no entanto, um desdobramento crítico do Pegar que dirá do fenômeno de captura dos usuários, de monitoramento de seus gestos, onde eles também são pegos e rastreados com suas ações sendo processadas como dados utilizáveis em uma economia de atenção, desejo e curiosidade. (CHUN, 2006; PAASONEN, 2011). Subjazem à uma suposta autonomia e liberdade de navegação pelas redes, as tecnologias de dispositivos que, de formas descentralizadas e deshierarquizadas, inscrevem os sujeitos em uma nova economia do espetáculo e da vigilância (BRUNO, 2013).
O vídeo sobre o qual a apresentação se debruçará, Golden Shower no Carnaval, não teve como modo principal de compartilhamento o ambiente virtual dos sites pornô. Antes, trata-se do contexto de uma esfera pública que se comunica por via de redes como Twitter, Facebook ou WhatsApp, onde um vídeo pornográfico emerge como performance escandalosa registrada em meio às ruas da cidade de São Paulo. Levantamos a hipótese de que, por meio desses espaços de comunicação, novas imagens estejam impactando e transformando o cenário político nacional, produzindo vínculos visuais (STEYERL, 2012) entre seus compartilhadores, engendrando e alimentando as narrativas que sustentam discursos da extrema direita atual, tendo como ponto nodal o Bolsonarismo (CESARINO, 2020). Como mobilizadoras de eventos midiáticos, poderíamos inscrevê-las em uma história de imagens que desestabilizam a posição do espectador, não só suscitando questões em torno das suas factualidades ou caráter manipulado (OLIVEIRA JR., 2015), mas também dando a ver de que modos as ferramentas digitais de produção e compartilhamento participam da proliferação de agentes na construção dos regimes de afetos coletivos na comunicação (MONDZAIN, 2016). Trata-se de uma questão devedora não somente da imanência das imagens, mas da experiência com o meio digital em si que se faz ver, de modo que o ao redor das imagens se torna constitutivo das possibilidades de relação com os materiais audiovisuais.
Bibliografia
- BRUNO, Fernanda. Máquinas de ver, modos de ser: vigilância, tecnologia e subjetividade. Porto Alegre. Sulina. 2013.
CESARINO, Letícia. Como vencer uma eleição sem sair de casa: a ascensão do populismo digital no Brasil. Revista internet&sociedade. 2020.
ELSAESSER, Thomas. O cinema como arqueologia das mídias. São Paulo: Senac, 2018.
MONDZAIN, Marie-José. Hoje, o que ver e o que mostrar frente ao terror? – reflexões acerca da criação e da difusão das imagens relacionados ao terror, ao gozo e à morte. Belo Horizonte. Revista Devires. v.13, N. 1, p. 16-33. 2016.
PAASONEN, Susanna. Carnal Resonance: Affect and Online Pornography. London. MIT Press. 2011.
STEYERL, Hito. Em defesa da imagem ruim. Revista Serrote #19. 2012.
XAVIER, Ismail. O discurso cinematográfico: a opacidade e a transparência. São Paulo. Paz e Terra. 2017.