Ficha do Proponente
Proponente
- Claudio Leal (Sem vínculo)
Minicurrículo
- Claudio Leal é jornalista, graduado em jornalismo pela Universidade Federal da Bahia e mestre em Meios e Processos Audiovisuais pela ECA-USP.
Ficha do Trabalho
Título
- Caetano/Godard: a canção-câmera
Seminário
- Cinema Comparado
Resumo
- A influência do diretor francês Jean-Luc Godard sobre a obra de Caetano Veloso, na música e no cinema, se apresentou de forma nítida no tropicalismo e influenciou estruturalmente seu único longa, “O Cinema Falado”. Os procedimentos godardianos de montagem e assimilação do pop inspiraram equivalências na canção. Este trabalho pretende repassar o impacto de Godard na arte e na obra crítica de Caetano Veloso.
Resumo expandido
- Desde os anos 60, um novo filme de Godard sempre é um acontecimento estético para o compositor Caetano Veloso. “Acossado”, “Viver a Vida”, “Pierrot le Fou” e “Uma Mulher é uma Mulher” teriam impacto na “formulação inicial do tropicalismo”, como reconheceu o músico, e uma transferência do estilo godardiano de montagem, com imagens acumuladas em ritmo cinematográfico, pode ser encontrada em canções como “Tropicália”, “Alegria, Alegria” e “Superbacana”. “Terra em transe me dera tudo, num certo sentido, mas o que queríamos fazer estaria muito mais próximo, se nos fosse possível, dos filmes de Godard”, escreve Veloso em “Verdade Tropical”.
A estrutura de “O Cinema Falado” (1986) é devedora da afirmação de Godard de que “os filmes deveriam consistir em alguém contando uma história na frente da câmera”, procedimento adotado por Veloso em seu único longa, que estabelece um diálogo crítico com o cineasta francês em momentos centrais. Um dos atores de “O Cinema Falado” manifesta a visão de Veloso: “Parece que com Hollywood o cinema encontrou a sua essência, enquanto que a ideia de um cinema de arte sempre deixou os europeus num meio-caminho meio ridículo. O maravilhoso de Godard foi reconhecer essa vitalidade no cinema americano e procurar reencontrá-la”. Em outra sequência do filme, o músico fala através de Dedé Veloso: com Godard, “aprendemos a amar melhor tanto Fuller quanto Fellini, amar e criticar melhor tanto Spielberg quanto Wim Wenders. Com ele o cinema começa a saber melhor o que é”.
A relação de Veloso com as ideias de Godard não são sempre reverenciais, mas o cineasta continuou a interessá-lo como visão de mundo e da cultura pop. Em “Vento do Leste” (1970), na cena em que Glauber Rocha canta “Divino Maravilhoso” na encruzilhada, a obra do música terminou por surgir no próprio corpo da obra de Godard. Em tempos mais recentes, a censura a “Je Vous Salue, Marie” (1985), no governo Sarney, motivaria protestos públicos de Veloso. O presente trabalho pretende repassar o impacto de Godard na arte e na obra crítica de Caetano Veloso.
Bibliografia
- ARAUJO SILVA, Mateus. “Godard, Glauber e o Vento do leste: alegoria de um (des)encontro”. In: Devires, Belo Horizonte, v. 4, n. 1, p. 36-63, jan.-jun. 2007.
BAECQUE, Antoine de. Godard: Biographie. Paris: Fayard/Pluriel.
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VELOSO, Caetano. Alegria, alegria: uma caetanave organizada por Waly Salomão. Rio de Janeiro: Pedra Q Ronca, 1977.
_______ . Verdade tropical. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.
_______. O mundo não é chato. (org. Eucanaã Ferraz). São Paulo: Companhia das Letras, 2005.
_______. Letra só: Sobre as letras (org. Eucanaã Ferraz). São Paulo: Companhia das Letras, 2003.
XAVIER, Ismail. “Cinema e tropicalismo”. In: 20 anos da Tropicália. São Paulo: Sesc-SP, 1987.
________. Alegorias do subdesenvolvimento: Cinema Novo, Tropicalismo, Cinema Marginal. São Paulo: Cosac Naify, 2013.