Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    Daniel Zacariotti (ESPM)

Minicurrículo

    Daniel Zacariotti é mestrando em Comunicação e Práticas de Consumo (ESPM-SP), Bacharel em Artes Cênicas (UnB) e Comunicação Social (UCB). Membro do grupo de pesquisa Juvenália: questões estéticas, geracionais, raciais e gênero na comunicação e no consumo. Pesquisa corpo, documentário, gênero e epistemologia da performance em uma perspectiva interseccional. Possui bolsa oferecida pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES) – Código de Financiamento 001.

Ficha do Trabalho

Título

    Políticas de presença e autoria trans negra no documentário brasileiro

Seminário

    Cinemas negros: estéticas, narrativas e políticas audiovisuais na África e nas afrodiásporas.

Resumo

    A presente pesquisa visa discutir as políticas de presença trans negra, com foco no espaço de autoria, a partir do documentário Bixa Travesty, de Kiko Goifman e Claudia Priscilla, e da performance (re)apresentada de Linn da Quebrada. Vemos que, a partir de um processo de deslocamento da autoria, é possível discutir a emergência de uma narrativa trans negra neste documentário e, em virtude disso, a existência de um cenário promissor e esperançoso de reverberações das performances de Linn.

Resumo expandido

    Com a emergência cada vez mais intensa e consolidada de sujeitos de grupos minoritários a espaços de poder e, de maneira análoga, com a crescente produção massiva de (re)apresentações estético-políticas midiáticas desses sujeitos, é urgente entender quais são as reverberações no espaço do audível e do visível que essas ocupações acarretam. Em outras palavras, não é suficiente apenas celebrar novos acessos a camadas privilegiadas da sociedade por sujeitos historicamente marginalizados: devemos também discutir as estratégias e as possíveis reverberações destas políticas de presença que ocupam as esferas do visível e, especialmente, do audível – focando na possibilidade de se escutar, de fato, o que estes sujeitos reinvindicam.
    Neste sentido, a presente pesquisa, seguindo algumas ideias levantadas por Muñoz (1996), Rocha (2019) e Sobrinho (2019), visa discutir as políticas de presença e autoria trans negra no documentário brasileiro contemporâneo e, paralelamente, as reverberações efêmeras dessas políticas; para isto, trabalharemos de maneira focada com o documentário Bixa Travesty (Kiko Goifman e Claudia Priscilla, 2018) e a figura (re)apresentada neste audiovisual, Linn da Quebrada.
    Acreditamos que este documentário seja uma rica fonte de observação das possibilidades interseccionais criadas no paralelismo entre questões de raça, gênero e sexualidade e, por isso, trazemo-no-lo aqui como centro possível para a discussão quanto ao giro causado pelas políticas de presença trans negra, em especial no espaço da autoria. Nossa hipótese é a de que exista um processo de deslocamento, ou ainda, multisitualidade da autoria neste documentário com o objetivo de, potencialmente, gerar uma ampliação da audiovisibilidade protagônica de corpos considerados “outros” – de um ponto de vista normativo, heterocentrado, cis-enquadrado, racista, ação esta a qual chamaremos aqui de autoria deslocada.
    O motor desta autoria deslocada em Bixa Travesty é, obviamente, Linn da Quebrada. Ao se colocar, não só no filme mas em todas as suas performances midiáticas e socio-políticas, enquanto uma sujeita não passiva, Linn cria um giro, ou melhor, um deslocamento nas esferas de poder do regime audiovisível e, neste documentário, este deslocamento é tomado como estratégia de ampliação. A ação de oclusão consciente, voluntária e, sem dúvidas, inevitável, de Kiko Goifman e Claudia Priscilla, acerca dos espaços de autoria frente à potência da sujeita (re)apresentada Linn da Quebrada, possibilita a consolidação de um espaço de narrativa negra e trans frente aos conservadorismos presentes no Brasil atual.
    Este movimento de deslocamento não é algo que seja límpido ou intocável por divergências entre sujeito (re)apresentado e realizador-idealizador – claro, quando essas figuras não são a mesma; porém, com o objetivo de gerar políticas de presença que reverberem e movimentem os corpos espectadores, ele acontece. Nesta perspectiva, aliando as ideias de Ranciére (2009) e Munõz (1996), ocorreria uma partilha do sensível, audível e visível, tendo a emergência da sujeita (re)apresentada como objetivo e, como consequência, a existência da evidência da performance negra trans de Linn da Quebrada.
    Assim, observando Bixa Travesty, a possibilidade de discussão da potência das políticas de presença negras e trans se faz material, visto que, no documentário, temos, talvez pela primeira vez dentro dos centros de circulação audiovisual brasileira, uma travesti negra atingindo grandes centros de circulação midiática. Por fim, ressaltamos a esperança criada após a ocorrência desta performance, e, claro, a circulação de seu material em arquivo, ansiando pelas diversas materializações das reverberações desta potência energética (re)apresentada.

Bibliografia

    DRAVET, Florence. Comunicação e circularidade – estudo de comunicação feminina a partir do giro da pombagira. In: DRAVET, F. et al. (orgs.). Pombagira: encantamentos e abjeções. Brasília: Casa das Musas, 2016. p. 95-115. Disponível em: https://www.academia.edu/38625519/POMBAGIRA_encantamentos_e_abje%C3%A7%C3%B5es. Acesso em: 21/11/2020

    MUNÕZ, José Esteban. Ephemera as Evidence: Introductory Notes to Queer Acts. Women & Performance: a journal of feminist theory: Vol. 8, No. 2, 1996, pp. 5-16.

    RANCIÈRE, Jacques. A partilha do sensível: estética e política. São Paulo: Editora 34, 2009.

    ROCHA, Rose de Melo. Críticas do audiovisível. RuMoRes, v. 13, n. 25, 13 jun. 2019, p. 50-65.

    SOBRINHO, Gilberto A.. Bixa Travesty e o queerlombismo: a negritude trans no documentário. In: XXI ENCONTRO SOCINE, 2019, Porto Alegre. Anais […] . São Paulo: Socine, 2019. p. 435-440.