Ficha do Proponente
Proponente
- Leonardo Esteves (UFMT)
Minicurrículo
- Leonardo Esteves é professor dos cursos de Cinema e Audiovisual e Radialismo da Universidade Federal de Mato Grosso. É Doutor em Comunicação Social pela PUC-Rio e Mestre em Artes Visuais pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Desenvolve desde 2013 pesquisa sobre o cinema em torno do Maio de 68, assunto de sua tese.
Ficha do Trabalho
Título
- Comentários introdutórios sobre a abolição da arte de Alain Jouffroy
Seminário
- Cinema experimental: histórias, teorias e poéticas
Resumo
- Alain Jouffroy figura como um dos pensadores que atuaram na tentativa de definir perspectivas para o cinema de vanguarda nos entornos do Maio de 68. Escreve no ano anterior o livro L’abolition de l’art e dirige um curta-metragem homônimo já contaminado pela efervescência do período, mas nitidamente fora dos direcionamentos valorizados pela militância política. Esta comunicação visa apresentar e contextualizar o pensamento de Jouffroy em relação ao cinema desenvolvido à época.
Resumo expandido
- Alain Jouffroy é um pensador pouco conhecido no Brasil. Seus textos e livros nunca foram traduzidos para o português e sua importância para o pensamento de um cinema de vanguarda contemporâneo ao Maio de 68 ainda parece não ter sido devidamente absorvida pelos estudos sobre o período. Jouffroy escreve o ensaio L’abolition de l’art em 1967 já movido pela necessidade de repensar condutas artísticas (incluindo o cinema). Nesta reflexão, em uma das tentativas de sintetizar o conceito, o autor estabelece: “abolir a arte é iluminar de uma nova maneira as condições de nossa existência; é também nos colocar em comunicação violenta com ‘o drama, o amor, a separação e a morte’” (JOUFFROY, 2011, p. 18). Não deixa de vislumbrar uma revisão em relação às vanguardas clássicas: “Não se trata mais de saber, por exemplo, se os objetores de hoje são ou não seguidores de Marcel Duchamp, mas de derrubar as cartas de um jogo absolutamente diferentes de todos os outros precedentes e de ganhar a partida jogo após jogo” (Idem, ibidem).
O livro é publicado alguns meses antes da irrupção do Maio de 68 e ganha uma nova coloração com os eventos que tomam a França, sobretudo Paris, sendo eventualmente apontado como uma das obras que anteciparam um certo estado de espírito. Talvez motivado por uma necessidade de atualizar sua reflexão e encaminhá-la para o cinema, Jouffroy, então editor da revista Opus international, retoma a ideia da “comunicação violenta”. O faz em uma série de escritos que visa sistematizar a violência na arte, se encarregando de pensar sobre um cinema violento na esteira dos acontecimentos de Maio. Vai reunir uma série de realizadores atrelados ao cinema jovem e ao Festival international du jeune cinéma de Hyères, fundado alguns anos antes e responsável por revelar nomes capazes de oxigenar o cinema moderno pós Nouvelle vague.
É por volta do mesmo período que Jouffroy vai estreitar laços com Godard, trabalhando com ele na produção de alguns ciné-tracts; montar e colaborar na concepção do curta-metragem Actua 1 (1968), dirigido por alguns nomes promissores do que fora identificado por Jouffroy como “cinema violento”; e dirigir seu único filme, o curta-metragem L’abolition de l’art (1968) que retoma o nome de seu ensaio.
Esta comunicação pretende apresentar o pensamento de Alain Jouffroy, o relacionando com o desenvolvimento de algumas ideias sobre o cinema que passam a vigorar com maior intensidade em 1968. É o caso de interpretar conceitualmente as ideias contidas em L’abolition de l’art, tendo em vista seu desenvolvimento no cinema que será defendido pelo autor a partir de 1968 nas páginas da Opus international.
Bibliografia
- DE BAECQUE, A.; BOUQUET, S.; BURDEAU, E. Cinéma 68. Paris: Cahiers du cinéma, 2008.
FAROULT, D. Godard, inventions d’un cinéma politique. Paris: Éditions Amsterdam, 2018.
GASSIOT-TALABOT, G. “Sur la violence dans l’art”. Opus international, Paris, n° 7, mai./jun., 1968.
JOUFFROY, A. Autre histoire de fou racontée par um idiot. Paris: Re: voir, 2008 (encarte DVD).
______. L’abolition de l’art. Falaise: Éditions Impeccables, 2011.
______. “La prophétie du meurtre par la pensée: Philippe Garrel et Patrick Deval”. Opus international, Paris, n° 7, mai./jun., 1968.
______. “La réalité dépasse la culture”. Opus international, Paris, n° 7, mai./jun., 1968.
______. “Le monde est aux violentes”. Opus international, Paris, n° 7, mai./jun., 1968.
MARCUSE, H. O homem unidimensional. São Paulo: EDIPRO, 2015.
SHAFTO, S. Zanzibar: Les films Zanzibar et les dandys de Mai 1968. Paris: Paris Expérimental, 2007.