Ficha do Proponente
Proponente
- Annádia Leite Brito (PPGCOM-ECO/UFRJ)
Minicurrículo
- Annádia Leite Brito é doutoranda em Tecnologias da Comunicação e Estéticas no PPGCOM-ECO/UFRJ e mestre em Poéticas da Criação e do Pensamento em Artes pelo PPGARTES-ICA|UFC. Formada pela Escola de Audiovisual da Vila das Artes-PMF, especialista em Audiovisual em Meios Eletrônicos e graduada em Direito, ambos pela UFC.
Ficha do Trabalho
Título
- Uma breve história local entre as imagens fixas e em movimento
Resumo
- Investigam-se os trânsitos entre o fixo e o movimento no audiovisual de Fortaleza a partir da chegada das imagens técnicas no fim do século XIX; com o movimento de Super-8 nos anos de 1960 e 1970; e por meio da difusão dos meios digitais aliada ao aos espaços institucionais de educação em audiovisual no início do século XXI. Analisa-se como essas passagens se deram gradativamente pelo modo de exibição, pelo emprego misto das tecnologias e, finalmente, pelo pensamento e pela prática híbridos.
Resumo expandido
- Após analisar as relações entre as imagens fixas e em movimento em quatro obras nos Encontros da SOCINE de 2017, 2018 e 2019 – tendo nesses últimos dois eventos estabelecido foco sobre trabalhos realizados em Fortaleza – dá-se continuidade a essa pesquisa intentando realizar uma retomada histórica para investigar se houve ocorrência de tais relações desde a chegada das imagens técnicas à capital alencarina e como elas se deram.
Isso se faz importante e necessário para compreender que as contaminações e misturas não são fruto apenas da contemporaneidade, mas já existiam e sofreram um processo de apagamento durante o que se denomina como modernidade em prol da sustentação de um discurso de pureza (LATOUR, 2013). Além disso, a retomada de certos pontos fundamentais da arte do passado pela do presente deixam evidente que não há uma repetição direta das questões, mas uma releitura a partir do ponto de vista presente das investigações que compõem cada época (FOSTER, 2014).
A chegada da fotografia em Fortaleza se deu em 1848 através do irlandês Guilherme Frederic Walter, também mágico e ilusionista de fantasmagorias. Já em 1897, de julho a novembro, a cidade recebeu os Kinetoscópios de visor e de projeção, de Edison, e o Cinematógrafo, dos irmãos Lumière (LEITE, 2019). Os agentes responsáveis por trazer as tecnologias de imagem iniciais para a cidade eram comerciantes fixos ou itinerantes ligados ao lazer ou empresários que diversificavam seus investimentos trazendo novos equipamentos. Os precursores – lanternistas, fotógrafos e projecionistas – a princípio não reconheciam limites entre as apresentações das imagens, estavam abertos às novas tecnologias que vinham sendo desenvolvidas e as agregavam em suas práticas correntes, criando espetáculos mistos que veiculavam o fixo e o móvel. Se foi possível notar indistinção na exibição de imagens fixas e em movimento até a década de 1920, a partir da prática de Adhemar Bezerra de Albuquerque se percebe uma realização mista, onde houve pensamento, produção e empreendedorismo em fotografia e cinema.
A partir de 1969, a captação e projeção em Super-8 chegou em Fortaleza, formando um pequeno polo ao redor do Clube de Cinema de Fortaleza, fundado em 1949, e do Cinema de Arte Universitário, da Universidade Federal do Ceará (UFC), inaugurado em 1971, conhecido popularmente como Casa Amarela e encabeçado pelo professor Eusélio Oliveira (HOLANDA, 2012). Bosi (2016, p.48) indica que “[…] a maior parte dos cineastas amadores e de família que surgiram com o Super-8, de alguma forma, apresentavam interesse e envolvimento prévios com o universo da produção amadora de imagens fotográficas”. A portabilidade e o menor custo do Super-8 possibilitaram àqueles que já exerciam a prática fotográfica que alcançassem o desejo de produzir imagens em movimento ou de experimentá-las. Realizadores como Joe Pimentel seguiram trabalhando com fotografia e cinema separadamente, imbricando-os em seus filmes a partir dos anos 2000.
Nas décadas de 1980 e 1990, o poder público estadual tentou estabelecer na capital formas de profissionalização e formação de um polo cinematográfico industrial, mas sem sucesso. Por outro lado, os equipamentos de vídeo começavam a ser utilizados para fins artísticos, ainda que com desconfiança, abrindo caminhos para a videoarte. No início dos anos 2000, após a retomada, a convergência de meios e a difusão dos aparelhos digitais de registro, edição e visualização de imagem e som se somaram ao alargamento dos espaços de ensino de audiovisual com uma abordagem mais próxima dos movimentos divergentes do cinema hegemônico. Assim, trânsitos entre o fixo e o movimento se tornaram mais frequentes ao consolidar em obras aquilo que já houvera sido tangenciado na exibição e no emprego misto em décadas anteriores: um híbrido mais próximo e mais visível do que antes.
Bibliografia
- BOSI, Maíra Magalhães. Filmes de família e construção de lugares de memória: estudo de um material Super-8 rodado em Fortaleza e de sua retomada em Supermemórias. 2016. Dissertação (Mestrado em Comunicação e Cultura) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2016.
FOSTER, Hal. O retorno do real: A vanguarda no final do século XX. São Paulo: Cosac Naify, 2014.
HOLANDA, Firmino. História da produção de filmes no Ceará. In: BIZERRIL, Luiz (Org.). Cartografia do Audiovisual Cearense. Fortaleza: Dedo de Moças Editora e Comunicação Ltda., 2012.
LATOUR, Bruno. Jamais fomos modernos. São Paulo: Editora 34, 2013.
LEITE, Ary Bezerra. História da fotografia no Ceará do século XIX. Fortaleza: Ed. do autor, 2019.