Ficha do Proponente
Proponente
- Thais Rodrigues Oliveira (UEG)
Minicurrículo
- Docente efetiva do curso de Cinema e Audiovisual da Universidade Estadual de Goiás (UEG). Doutora em Performances Culturais pela Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Federal de Goiás (UFG). Mestre em Arte e Cultura Visual pela Faculdade de Artes Visuais da UFG. Graduada em Audiovisual pela UEG, com especialização em Cinema e Educação, atua na área de produção cinematográfica prioritariamente como captadora de som direto e editora de som.
Ficha do Trabalho
Título
- A experimentação sonora de Alejandro Iñárritu em 1’09’’01-September11
Resumo
- Pretende-se realizar uma apreciação sobre o uso do som como elemento prioritário na construção da narrativa do filme dirigido por Alejandro González Iñárritu em 1’09’’01- September 11 (2002). A análise narrativa do filme será realizada com uma abordagem descritiva, ancorada na metodologia de decomposição dos sons indicada por Martin W. Bauer (2008), Michel Chion (2011), Luiza Alvim e Rodrigo Carreiro (2016).
Resumo expandido
- O filme 1’09’’01-September 11, de 2002 , traz uma coletânea composta por 11 curtas-metragens. Foram elegidos 11 diretores de diferentes nacionalidades, que tiveram liberdade artística para retratar, por meio de um curta-metragem, seu ponto de vista sobre o atentado ocorrido no dia 11 de setembro de 2001, na cidade de Nova York, nos Estados Unidos.
No atentado citado, houve a colisão de dois aviões nas torres do famoso complexo de prédios do World Trade Center, em Nova York, que levou as duas maiores torres ao chão. Na época, essas imagens foram inseridas na programação diária de muitos telejornais e o evento causou pânico global.
Um dos curtas-metragens é dirigido pelo mexicano Alejandro González Iñárritu. Seu curta-metragem é o sétimo filme apresentado na ordem de apresentação de 1’09’’01-September 11 (2002), contendo aproximadamente 11 minutos de duração. Neste trabalho, pretende-se realizar uma análise estilística do som.
Entendemos, assim como Alvim e Carreiro (2016, p.176), que “explicar a metodologia de análise da banda sonora de um produto audiovisual é uma tarefa complexa, sujeita a ambigüidades que podem gerar a impressão de falta de rigor”. Nesse sentido, realizaremos uma descrição de alguns sons do filme, que abarcamos neste artigo a partir das contribuições de Chion (2011) para a análise audiovisual: identificar os elementos sonoros, pontos de sincronia importantes e uma análise narrativa a respeito do que escuto e do que vejo (CHION, 2011).
Esse curta-metragem não possui muitas imagens. Apresenta os fatos ao espectador/ouvinte principalmente a partir da sonoridade. Em entrevista, o diretor Alejandro Iñárritu comenta que ele quis criar 11 minutos do que denominou como silêncio visual. Segundo o diretor, o uso do som sem imagem em tantos minutos de filme poderia fazer com que as pessoas criassem suas próprias imagens mentais, experimentando o evento de forma individual. Nesse sentido, seu filme torna-se um processo experimental com sons e imagens.
São apresentados ao espectador apenas trinta e dois segundos de imagem intercaladas entre frames da tragédia e tela preta em muitos minutos. A narrativa do filme é indicada com o som. Sua intenção tem como finalidade ativar a percepção individual sobre o incidente a partir da memória dos espectadores/ouvintes, pois cada espectador cria na sua mente a melhor imagem para interpretar o som que está sendo escutado (IAZZETTA, 2016). Como o atentado de fato aconteceu, o som potencializa a credibilidade da narrativa. São imagens de pessoas se jogando das torres (algumas são vistas ainda vivas, pois se mexem no ar), de fumaça no prédio, imagem das duas torres desmoronando. Colocar diante dos olhos de cada espectador essas imagens faz com que a interpretação e a associação de sons criem uma complementação imaginativa em quem as recebe. Dessa forma, o som prende a atenção do espectador.
Escuta-se durante o filme sons de orações, música, mensagens telefônicas de pessoas que supostamente viveram o incidente, áudios de apresentadores de telejornais notificando a população sobre o ocorrido, com poucas imagens apresentadas que são intercaladas com uma imagem de tela preta que permanece constante durante a maior parte da reprodução fílmica. Somos imersos pelo som: o espectador pode fechar os olhos e continuar sendo tocado pelo filme, pois “o som está intimamente ligado à presença e à memória, o que cria subjetividade. O que eu guardo do som, só eu posso guardar e resgatar a partir da minha própria memória” (IAZZETTA, 2015, p.152). A imagem vai surgir de maneira indireta – o som faz, assim, contato direto com o espectador.
Dessa forma, defendemos que o som toma posse de uma posição privilegiada nesse filme, pois o diretor extrapola os limites da clássica dicotomia entre som e imagem em um produto audiovisual.
Bibliografia
- ALVIM, Luiza; CARREIRO, Rodrigo. Uma questão de método: notas sobre a análise de som e música no cinema. Revista MATRIZes, 10(2), p. 175-193. 2016.
BAUER, Martin W. Analise de ruido e musica como dados sociais. In: BAUER, Martin W.; GASKELL, George. Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som: um manual pra;tico. 7. ed. Traducao Pedrinho A. Guareschi. Petropolis, RJ: Vozes, 2008. p. 365-390.
CHION, Michel. A audiovisão: som e imagem no cinema. Lisboa: Texto & Grafia, 2011.
IAZZETTA, Fernando. Estudos do som: um campo em gestação. Centro de pesquisa e formação. nº 1, nov. 2015.
________. A Imagem que se ouve. In: Prado, Gilberto; Tavares, Monica; Arantes, Priscila (Org.). Diálogos transdisciplinares: arte e pesquisa. pp. 376-395 São Paulo: ECA/USP, 2016.