Ficha do Proponente
Proponente
- Barbara Bergamaschi Novaes (PPGCOM-UFRJ)
Minicurrículo
- Bárbara Bergamaschi Novaes é bacharel em Comunicação Social pela UFRJ, com habilitação em Rádio e TV. É mestre em Artes da Cena pelo PPGAC da UFRJ. Em 2012 estudou Cinema na Universidade de Paris VIII, durante intercâmbio na França. No ano de 2019 foi professora substituta do departamento de Artes da Cena da UFSJ. Conclui tese de doutorado sobre Cinema Experimental e Found Footage, com ênfase nas obras de Bill Morrison e Peter Tscherkassky, nos programas do PPGCOM-UFRJ e no PPGLCC-PUC-Rio.
Ficha do Trabalho
Título
- A “ironia inclusiva” e “antiphrasis” – Tropos de Peter Tscherkassky
Seminário
- Cinema experimental: histórias, teorias e poéticas
Resumo
- Nesta comunicação analisarem três curta-metragens de Peter Tscherkassky que trabalham sob o tropo ou figura de linguagem da ironia através unicamente das operações de montagem, sendo eles: Shot / Countershot (1987), Tabula Rasa (1989), ‘L’arrivée’ (1999). Veremos como seus filmes experimentais possuem camadas “meta-historiográficas”, produzindo comentários sub-reptícios e chistes iconoclastas sobre as origens e estruturas fundadoras do cinema.
Resumo expandido
- Peter Tscherkassky começou a realizar seus filmes em 1979. Dos cerca de vinte e cinco filmes que compõem sua filmografia, destacam-se: Coming Attractions (2010), que ganhou prêmio de melhor curta-metragem no 67o Festival de Veneza e Dreamwork (2002), premiado com Grande Prêmio no Festival Internacional de Oberhausen. Tscherkassky faz parte de um grupo experimental de vanguarda vienense do qual fazem parte os cineastas Gustav Deutsch e Martin Arnold. Seus filmes se localizam dentro do gênero experimental do cinema de found footage marcados notadamente pela reapropriação e por uma “destruição-criativa” de antigas películas, sejam elas clássicos hollywoodianos ou filmes B de baixo orçamento.
Para William C. Wees (1993, p. 42-43) os cineastas de found footage operam a imagem como discurso e não como história, se distanciando do caráter documental dos arquivos. Muitos dos cineastas experimentais do found footage fundam uma relação meta-histórica e crítica com a própria historiografia clássica do cinema. Assim o tropo da ironia se torna bastante recorrente. Wees (1993) afirma que os cineastas found footage tornam a presença do arquivo reutilizado evidente, nos convidando a ver essas imagens como imagens recicladas. Toda obra found footage diria, portanto, respeito à própria historicidade do meio, sendo filmes auto reflexivos sobre a próprio media e sua capacidade representativa. Esta auto-referencialidade, ou qualidade especular, encorajaria uma análise crítica do material agora deslocado de seu locus original.
Wees (1993) se vale dos conceitos do linguistas Emilie Beneviste e de Marjorie Perloff para pensar a colagem (arte e técnica quintessencial do found footage) enquanto linguagem. A colagem foi principal arma modernista para “assaltar” ou coloca em cheque o realismo das imagens. Para Marjorie Perloff a colagem chama atenção para si mesma: “the question of referentiality inherent in collage thus leads to the replacement of the signified, the objects to be imitated, by a new set of signifiers calling attetion to themselves as real objects in the real world.”(Apud Wees, 1993, p. 46). Para Beneviste, a categoria da História prevê a ausência de um narrador específico e que os eventos “narrem por si próprios”, já na categoria do Discurso é possível identificar um narrador com uma intenção subjetiva. Assim a colagem, por ter uma auto-referencialidade ea marca da presença do autor/artista, serve como ferramenta discursiva para questionar as premissas tradicionais da natureza representativa das imagens.
Jamie Baron (2014) também ressalta que aos filmes de arquivo experimentais operam sob o tropo discursivo da ironia, identificando duas variações dessa figuras de linguagem na montagem da maioria desses filmes: uma ironia mais simples, chamada antiphrasis – mais facilmente reconhecida e calcada no não-dito (que afirma o oposto do que foi dito) – e a ironia inclusiva – uma forma mais ambígua e polissêmica onde diferentes significados e interpretações que ficam suspensos em um tensão inconclusiva. Para Baron (2014 p. 36-37) a ironia pode ser percebida ou não, de acordo com o arcabouço intelectual e de referências prévias do espectador.
Nesta comunicação analisarem três curta-metragens de Tscherkassky que trabalham sob o tropo ou figura de linguagem da ironia através unicamente das operações de montagem, sendo eles: Shot / Countershot (1987), Tabula Rasa (1989), ‘L’arrivée’ (1999). Seus filmes possuem camadas “meta-historiográficas” produzindo comentários sub-reptícios e chistes iconoclastas sobre as origens e estruturas fundadoras do cinema. Nesta análise também apontamos para uma “presença fantasmática” das vanguardas europeias históricas, identificando ecos do surrealismo na produção experimental contemporânea do cineasta.
Bibliografia
- BALSOM, Erika. Exhibiting Cinema in Contemporary Art, Amsterdam University Press, 2013.
BARON, Jaimie. The Archive Effect: Found Footage and the Audiovisual Experience of History. Ed. Routledge, 2013.
BRENEZ, Nicole; CHODOROV, Pip. Cartography of found footage. Ken Jacobs – Tom Tom The Piper’s Son. Paris: Re:Voir, 2000.
COSTA, Flávia Cesarino. O primeiro cinema – Espetáculo, narração, domesticação. Rio de Janeiro: Azougue Editorial, 2005.
ELSAESSER, Thomas. O Cinema como Arqueologia das Mídias. Editora SESC- São Paulo. 2018.
FOSTER, Hal. O retorno do real: a vanguarda no final do século XX. Tradução de Célia Euvaldo. São Paulo: Cosac Naify, 2014.
GUNNING, Tom. Finding The Way – Films Found on a Scrap Heap. in Found Footage Cinema Exposed. Eye Film Museum Catlg. 2012.
XAVIER, Ismail. O discurso cinematográfico – Opacidade e a Transparência. 2a Ed. São Paulo Paz e Terra, 2008.
Wees, William C. RECYCLED IMAGES. The Art and Politics of Found Footage Films. Anthology Film Archives 1993.