Ficha do Proponente
Proponente
- Lucas Gadelha Parente (PPGAV-UFRJ)
Minicurrículo
- Formado em história (UFF, Niterói), cinema (UAB, Barcelona) e filosofia (Paris 8, Saint-Denis), Lucas Parente dedica-se ao cinema e à escrita, pesquisando epistemologia e história da arte, das cidades e das religiões. Dentre seus trabalhos em cinema se destacam Satan Satie ou Memórias de um Amnésico (2015), média-metragem co-dirigido com Juruna Mallon, Calypso (2018), longa-metragem co-dirigido com Rodrigo Lima. Atualmente realiza seu doutoramento em Linguagens Visuais, no PPGAV, EBA-UFRJ.
Ficha do Trabalho
Título
- Diagrama e fantasmagoria em Eclipse de Antônio Moreno
Resumo
- Além de livros de ficção e ensaio, trabalhos de montagem e aulas de animação, Antônio Moreno realizou nos anos 70 e 80 curtas-metragens de animação experimental em 35mm e filmes de documentário em Super 8. Em nossa apresentação analisaremos sua pequena obra-prima, o curta-metragem de animação Eclipse, de 1984. Apontando para o futuro e para o passado, o filme é um retrato doloroso e lisérgico dos anos da ditadura, buscando nas próprias sombras e fulgores um mundo por vir.
Resumo expandido
- O curta-metragem de animação experimental Eclipse (1984) é a última obra autoral de Antônio Moreno. Construído a partir da composição Rudepoema, peça para piano de Heitor Villa-Lobos, Eclipse é uma animação vertiginosa em sua velocidade, fulgurância e virtuosidade técnica. O filme foi realizado através de uma técnica mista, com pintura direta em película transparente e intervenção em sobras de negativo e positivo oriundas de seu filme precedente, o curta Oxumarê (1981), com imagens de mapas, florestas, serpentes e do mar. Moreno usou todas as cores invertidas, barateando o processo laboratorial, pois assim não teria de gerar um internegativo, partindo então direto da película pintada para a copiagem. De modo que, ao pintar a bandeira do Brasil, usou laranja para o azul e roxo para o amarelo.
À música de Villa-Lobos e à pintura direta na película, somam-se três vozes que disparam textos reflexivos, e que oscilam entre obscuridade e clarividência. São textos metafóricos sobre a situação do país após 21 anos de ditadura. O próprio Eclipse é uma imagem operatória, atravessando um mundo simbólico de falas e bandeiras, o imaginário dos choques e da velocidade fílmica, para atingir o informe virtual de uma realidade subreptícia, diagramática, que aponta para novas epistemes possíveis em um mundo de desmoronamentos. Desenham-se futuros atômicos, ainda que esperançosos em suas explosões de cores reinventadas. Como diz-se no filme: “se hoje ainda posso inventar as cores para me expressar, é que antes algum irmão camarada meu, desta terra em que nasci, e desta água que bebi, me ensinou a olhar, e me disse que durante o eclipse as cores mudam, que eu tinha que as inventar”.
Em 1985, Eclipse ganhou o prêmio especial do júri em Gramado, por sua qualidade e experimentação. O filme foi exibido em salas de cinema durante a Lei do Curta, sendo programado junto ao longa-metragem norte-americano Rambo. Curiosamente um filme experimental anti Guerra Fria era projetado antes de um produto de propaganda da era Reagan. Evidentemente, muitos espectadores se viram incomodados.
Bibliografia
- DELEUZE, Gilles. Otimismo, pessimismo e viagem. In: Conversações. São Paulo: editora 34, 2013.
BATAILLE, Georges. Hegel, a morte e o sacrifício. Tradução de João Camillo Penna. In: Alea vol. 15, nº 2. Rio de Janeiro: Programa de Pós-Graduação em Letras Neolatinas, Faculdade de Letras -UFRJ, 2013.