Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    Lucas Gadelha Parente (PPGAV-UFRJ)

Minicurrículo

    Formado em história (UFF, Niterói), cinema (UAB, Barcelona) e filosofia (Paris 8, Saint-Denis), Lucas Parente dedica-se ao cinema e à escrita, pesquisando epistemologia e história da arte, das cidades e das religiões. Dentre seus trabalhos em cinema se destacam Satan Satie ou Memórias de um Amnésico (2015), média-metragem co-dirigido com Juruna Mallon, Calypso (2018), longa-metragem co-dirigido com Rodrigo Lima. Atualmente realiza seu doutoramento em Linguagens Visuais, no PPGAV, EBA-UFRJ.

Ficha do Trabalho

Título

    Diagrama e fantasmagoria em Eclipse de Antônio Moreno

Resumo

    Além de livros de ficção e ensaio, trabalhos de montagem e aulas de animação, Antônio Moreno realizou nos anos 70 e 80 curtas-metragens de animação experimental em 35mm e filmes de documentário em Super 8. Em nossa apresentação analisaremos sua pequena obra-prima, o curta-metragem de animação Eclipse, de 1984. Apontando para o futuro e para o passado, o filme é um retrato doloroso e lisérgico dos anos da ditadura, buscando nas próprias sombras e fulgores um mundo por vir.

Resumo expandido

    O curta-metragem de animação experimental Eclipse (1984) é a última obra autoral de Antônio Moreno. Construído a partir da composição Rudepoema, peça para piano de Heitor Villa-Lobos, Eclipse é uma animação vertiginosa em sua velocidade, fulgurância e virtuosidade técnica. O filme foi realizado através de uma técnica mista, com pintura direta em película transparente e intervenção em sobras de negativo e positivo oriundas de seu filme precedente, o curta Oxumarê (1981), com imagens de mapas, florestas, serpentes e do mar. Moreno usou todas as cores invertidas, barateando o processo laboratorial, pois assim não teria de gerar um internegativo, partindo então direto da película pintada para a copiagem. De modo que, ao pintar a bandeira do Brasil, usou laranja para o azul e roxo para o amarelo.

    À música de Villa-Lobos e à pintura direta na película, somam-se três vozes que disparam textos reflexivos, e que oscilam entre obscuridade e clarividência. São textos metafóricos sobre a situação do país após 21 anos de ditadura. O próprio Eclipse é uma imagem operatória, atravessando um mundo simbólico de falas e bandeiras, o imaginário dos choques e da velocidade fílmica, para atingir o informe virtual de uma realidade subreptícia, diagramática, que aponta para novas epistemes possíveis em um mundo de desmoronamentos. Desenham-se futuros atômicos, ainda que esperançosos em suas explosões de cores reinventadas. Como diz-se no filme: “se hoje ainda posso inventar as cores para me expressar, é que antes algum irmão camarada meu, desta terra em que nasci, e desta água que bebi, me ensinou a olhar, e me disse que durante o eclipse as cores mudam, que eu tinha que as inventar”.

    Em 1985, Eclipse ganhou o prêmio especial do júri em Gramado, por sua qualidade e experimentação. O filme foi exibido em salas de cinema durante a Lei do Curta, sendo programado junto ao longa-metragem norte-americano Rambo. Curiosamente um filme experimental anti Guerra Fria era projetado antes de um produto de propaganda da era Reagan. Evidentemente, muitos espectadores se viram incomodados.

Bibliografia

    DELEUZE, Gilles. Otimismo, pessimismo e viagem. In: Conversações. São Paulo: editora 34, 2013.

    BATAILLE, Georges. Hegel, a morte e o sacrifício. Tradução de João Camillo Penna. In: Alea vol. 15, nº 2. Rio de Janeiro: Programa de Pós-Graduação em Letras Neolatinas, Faculdade de Letras -UFRJ, 2013.