Ficha do Proponente
Proponente
- Roberval de Jesus Leone dos Santos (UFBA)
Minicurrículo
- Mestrando em Comunicação e Cultura Contemporâneas na Universidade Federal da Bahia (UFBA), na área de culturas da imagem e do som. Possui título de mestre e doutor pela Universidade de Brasília (UnB), na área de exatas.
Ficha do Trabalho
Título
- Ensino remoto emergencial: uma experiência promissora no IFB
Resumo
- Este painel discute algumas soluções de contorno adotadas a respeito do ensino técnico no audiovisual, a partir da experiência encontrada no Instituto Federal de Brasília, diante do estado pandêmico germinado, no Brasil, com a ascensão de Jair Bolsonaro, e agravado sob seu Governo, no âmbito da severa restrição orçamentária e financeira pela qual passam as instituições federais de ensino superior.
Resumo expandido
- Nos últimos cinco anos, o Brasil conheceu quatro catástrofes fabricadas e consentidas, em certo sentido similares às que já vivemos antes, como em 1918 (gripe espanhola), 1937 e 1964 (golpes de Estado): o golpe de 2016 (1ª), que apeou Dilma Rousseff da Presidência, permitindo a ascensão de Michel Temer (2ª), o qual pavimentou a eleição de Jair Bolsonaro (3ª), que promoveu (Brum, 2021) a pandemia instalada, no Brasil, em 2020, viabilizando, então, o estado de coisas atual (4ª). Essas catástrofes fazem parte de um mesmo ciclo, condicionando a precariedade de vida e atuação de boa parte de profissionais, como no audiovisual: o ensino remoto vem sendo a alternativa mais apropriada, embora associada a importantes disfunções no aprendizado e no exercício técnico-artístico das disciplinas do audiovisual.
Moreira, Henrique e Barros (2020) designam o ensino não presencial das condições pandêmicas de “ensino remoto emergencial”. De fato, não se trata nem de ensino a distância (EAD) nem de ensino remoto, este, em geral, adotado eventualmente em aulas presenciais nas situações de normalidade sanitária. O meio-termo entre uma prática pedagógica e outra parece vir marcando todo o histórico recente de ensino-aprendizagem no Brasil, que é agravado pelas condições de precarização da rede federal a partir de 2016, com o golpe. Conforme explicitou relatório da Comissão Externa da Câmara dos Deputados para acompanhamento de ações do Ministério da Educação, apenas em relação ao ensino objeto deste Painel (Câmara dos Deputados, 2021):
“Na Educação Profissional e Tecnológica (Anexo – Tabela 2), ações importantes como o apoio à expansão, reestruturação e funcionamento das instituições da rede federal de educação profissional e tecnológica tiveram cortes na dotação de até 67%. (…) Ainda sobre o PLN 30/2020, a educação profissional e tecnológica também foi alvo de expressivos cortes. As ações de apoio à expansão e reestruturação da rede federal de educação profissional e tecnológica e de fomento aos sistemas estaduais de ensino profissionalizante correspondem a 17% do valor total cancelado pelo PLN”.
Apesar das circunstâncias hostis, esse tipo de ensino vem sendo operado e discutido no Brasil com bastante destaque, a exemplo da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica e do grupo Ensino Remoto Emergencial nos Estudos de Som no Cinema, da SOCINE , por exemplo, inclusive em países com alguma similaridade estrutural à do Brasil (Santos Gomes, Neto e Francisco, 2020). A partir de uma experiência empreendida por um grupo de estudantes e profissionais do ensino no Instituto Federal de Brasília (IFB), consistente de prática profissional realizada, com êxito, da ideia até à distribuição de produtos audiovisuais integralmente remotos, discutimos os ganhos recepcionados pela prática, como: (1) exercício do desenvolvimento das etapas mínimas de realização do audiovisual de baixíssimo orçamento; (2) autoprodução audiovisual por parte das personagens, por meio da direção remota de documentário; (3) possibilidade de abordagem de temas vinculados à realidade pandêmica, em que o próprio audiovisual se faz enquanto a realidade é feita; (4) convocação de dispositivos técnicos simples, especialmente o smartphone, para a prática didática. Serão utilizados dois produtos para a discussão, realizados durante a experiência relatada: SUSpiro (2020) e Faces digitais (2021).
Concluímos, preliminarmente, que o ambiente pandêmico, embora limite fortemente a experimentação técnica em audiovisual, não limita a criatividade, categoria essencial para a aquisição de habilidades audiovisuais, de modo que o ambiente remoto ainda consegue promover a aquisição de saberes em relação ao assunto, ainda que limitados em relação ao ensino presencial, suscitando perspectivas estéticas, poéticas e semióticas completamente diferentes daquelas do audiovisual realizado de forma não remota.
Bibliografia
- BRUM, E. Pesquisa revela que Bolsonaro executou uma “estratégia institucional de propagação do coronavírus”. El País, Madrid, 21 abr. 2021. Disponível em: https://bit.ly/3mxagzI. Acesso em: 8 abr. 2021.
CÂMARA DOS DEPUTADOS. Comissão Externa. Boletim de Análise dos Trabalhos do MEC Durante a Pandemia. Brasília: Câmara dos Deputados, 2021. Disponível em: https://bit.ly/3fZ5idJ. Acesso em: 8 abr. 2021.
FACES Digitais. Kleyton Figueiredo. Brasília: IFB, 2021 (10 min.).
GOMES, J.; FRANCISCO NETO, M.; FRANCISCO, M. Perspectivas transdisciplinares em tempos de pandemia. Revista Observatório, v. 6, n. 4, p. a14pt, 1 jul. 2020. Disponível em: https://bit.ly/3fR7XWU. Acesso em: 7 abr. 2021.
MOREIRA, J. A. M.; HENRIQUES, S.; BARROS, D. Transitando de um ensino remoto emergencial para uma educação digital em rede. Dialogia, São Paulo, n. 34, p. 351-364, jan./abr. 2020. Disponível em: https://bit.ly/3dRgoyZ. Acesso em: 7 abr. 2021.
SUSpiro. Kleyton Figueiredo. Brasília: IFB, 2020 (3 min.).