Ficha do Proponente
Proponente
- MARIA THEREZA GOMES DE FIGUEIREDO SOARES (uerj)
Minicurrículo
- Maria Thereza Soares é cineasta e fotógrafa formada pela UFF. É mestra em Cultura e Sociedade (UFMA). Doutoranda no PPGCOM (UERJ). Trabalhou em, aproximadamente, 25 produções audiovisuais. Foi presidente da ABD- MA (2002 e 2003). O curta doc “José Louzeiro: depois da luta” é seu 1º filme como Diretora. O filme foi laureado com as Menções honrosas: de Júri Técnico, Júri ABD-MA no Festival Guarnicê de Cinema, e Júri Técnico no Maranhão na Tela. Profª de Hist e Est. do Cinema Brasileiro, no IEMA.
Ficha do Trabalho
Título
- A memória póstuma e o uso de arquivos: “José Louzeiro: depois da luta”
Resumo
- O objetivo deste artigo se propõe a estabelecer relações entre o uso de arquivos como documentos históricos e a potência latente do produto fílmico a partir de imprevistos, sobretudo quando a obra se torna um documento póstumo. Para tanto, busca-se analisar o curta-metragem biográfico José Louzeiro: depois da luta como estudo de caso de filme que teve seu percurso alterado enquanto instrumento de arquivo cinematográfico quando da morte de seu protagonista ao término da etapa de pós-produção.
Resumo expandido
- José Louzeiro foi um jornalista, escritor e roteirista brasileiro, nascido em São Luís e falecido em dezembro de 2017, aos 84 anos. Iniciou sua carreira ainda jovem nos jornais maranhenses, tendo se mudado para o Rio de Janeiro. Oriundo de uma família de baixa renda, filho de pedreiro e dona de casa, Louzeiro se interessou pela escrita ainda no colegial, onde foi incentivado a ler por uma de suas professoras, Maria Freitas. Foi por intermédio de outro professor colegial que Louzeiro conseguiu seu primeiro emprego no jornal O Imparcial, dando início a sua longínqua e diversificada carreira.
Ao se mudar para o Rio de Janeiro, o escritor buscou colocações em jornais cariocas, onde atuou como copydesk. A predileção do jornalista sempre foram os casos policiais e grandes denúncias sociais. Tornou-se o primeiro escritor brasileiro a publicar o que é considerado o gênero de romance reportagem, inaugurado e consagrado pelo estado-unidense Truman Capote, com sua obra A sangue frio.
Ao perceber que o jornalismo estava sob a mira da ditadura, decide começar a escrever romances para manter seu estilo denunciatório, utilizando a literatura como suporte, tentando afastar-se, temporariamente, da censura. Deste modo, publicou em torno de 40 livros, dentre eles: Pixote, a infância dos mortos e Lúcio Flávio, o passageiro da agonia, ambos adaptados para o cinema.
Para esse estudo, elencou-se o recorte da carreira de roteirista de Louzeiro, o surgimento do projeto para o curta documentário José Louzeiro: depois da luta, as propostas e os desafios encontrados, e o uso dos arquivos como elementos-chave para realização da obra. O filme foi dirigido pela cineasta Maria Thereza Soares, e o argumento e pesquisa foram desenvolvidos pela jornalista e pesquisadora Bruna Castelo Branco.
Com extensa carreira no cinema brasileiro, vários de seus roteiros se tornaram filmes de grande bilheteria e importantes obras da cinematografia nacional, dentre eles o homônimo Lúcio Flávio, passageiro da agonia e Pixote, a infância dos mortos, que passou a ser intitulado Pixote, a lei do mais fraco, além de O homem da capa preta e outros projetos que não foram concluídos.
Se faz necessário lançar luz sobre essa listagem uma vez que não há documentações completas e exatas sobre a obra completa de José Louzeiro. Destaca-se que onze roteiros e argumentos foram escritos por ele, com ou sem parcerias, no intervalo de cinco anos – o que denota um certo fluxo contínuo de produção por parte deste autor. Nota-se que Escalada da violência foi dirigido por Milton Alencar Junior em 1982.
Vale ressaltar que durante o processo de filmagem do curta, identificou-se um projeto que teria sido, provavelmente, o último roteiro de Louzeiro, que seria produzido por Roberto Mendes, intitulado Quem ama, não mata, sobre o notório caso de feminicídio que vitimou Ângela Diniz e que não está nessa publicação supracitada. Esse filme, como consta em documento público disponibilizado no site da Ancine, foi aprovado pelos mecanismos de captação de verba, porém não contou com os patrocínios necessários para sua execução.
A morte inesperada do protagonista do filme reforçou o caráter de valor documental para o curta, uma vez que não havia registros públicos de diversas informações que foram trazidas à luz pelas entrevistas gravadas. Com quase quatro horas documentadas, a obra permanece aberta a possíveis reelaborações, portanto José Louzeiro: depois da luta pode ser relançado de forma estendida com um aumento gradativo de novas informações. Assim como houve a morte do roteirista, outro personagem entrevistado também faleceu, Roberto Mendes, no caso o parceiro de Louzeiro naquela que seria sua última empreitada. Esse testemunho destacou uma obra que não chegou a ser concretizada, mas cujo depoimento trouxe vida ao projeto. Os documentos estavam em vigor, portanto, atualizados neste último caso, que já se encontrava no período de pós-retomada do cinema nacional.
Bibliografia
- CINEMATECA BRASILEIRA. Disponível em: . Acesso em 10 jan 2021.
CINEMATECA DO MUSEU DE ARTE MODERNA DO RIO DE JANEIRO. Disponível em: . Acesso em 10 jan 2021.
CRARY, Jonathan. 24/7 Capitalismo tardio e os fins do sono. São Paulo: Cosac Naify, 2014.
ENWEZOR, Okwui. Archive Fever: Uses of the Documentary in Contemporary Art. Nova Iorque: International Center of Photography, 2008.
LINDEPERG, Sylvie. O destino singular das imagens de arquivo: contribuição para um debate, se necessário uma “querela”. Devires, Belo Horizonte, v. 12, nº 01, p. 12-27, jan/jun 2015.
LOUZEIRO, José. Literatura comentada. São Paulo: Abril Educação, 1982.
JOSÉ LOUZEIRO: DEPOIS DA LUTA. Direção: Maria Thereza Soares. Argumento e pesquisa: Bruna Castelo Branco. Documentário. Brasil: Secretaria de Cultura e Turismo no Maranhão. 2018. Video 4K (15 min), son., cor.
SILVA, Patricia Rebello de. Forma-Ensaio e Documentários Biografia: contaminações, jogos, estéticas e política