Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    Marina Soler Jorge (UNIFESP)

Minicurrículo

    Professora associada do curso de História da Arte e do programa de pós-graduação em História da Arte da Unifesp. Socióloga e Cientista Política, tem se dedicado a investigar representações femininas no audiovisual, sobretudo na América Latina.

Ficha do Trabalho

Título

    Cabronas e Badasses: as três vidas de Teresa Mendoza

Seminário

    Audiovisual e América Latina: estudos estético-historiográficos comparados

Resumo

    Este trabalho tem como objetivo analisar a representação da mulher latino-americana por meio da análise comparada em três produtos da cultura de massas: o livro de ficção La Reina del Sur, escrito pelo espanhol Arturo Pérez-Reverte, a telenovela La Reina del Sur, produzida pela Telemundo, e o série Queen of The South, produzida pela USA Network. Analisaremos de que modo, nesses produtos, a mulher latino-americana bem sucedida é representada a partir dos valores do feminismo liberal.

Resumo expandido

    O livro de ficção La Reina del Sur, do espanhol Arturo Pérez-Reverte, publicado em 2002, narra a história da mexicana Teresa Mendoza, namorada de um narcotraficante que precisa lutar pela sobrevivência quando seu namorado é assassinado. Muito inteligente e boa com números, ela se torna a transportadora de drogas mais importante do sul da Europa e norte da África. Na obra, Teresa é representada a partir do olhar de um jornalista investigativo espanhol, que tenta, a partir dos poucos fragmentos conhecidos de sua vida e de relatos de testemunhas, desvendar o mistério dessa poderosa mulher. Segundo o escritor, sua inspiração foram os narcocorridos mexicanos. O livro é escrito em um espanhol que mistura a língua falada na Espanha bem como diversas gírias e expressões típicas do espanhol mexicano.
    O livro inspirou inicialmente um telenovela colombiana/estadunidense estrelada pela atriz mexicana Kate del Castillo em 2011. Oito anos depois uma segunda temporada foi produzida, dessa vez sem nenhuma conexão com o livro original.
    Nesse meio tempo a USA Network, hoje Universal Channel, produziu sua versão da história, com a atriz Alice Braga representando Teresa Mendoza. Esta série, que em 2021 terá sua quinta e última temporada, desde os primeiros episódios afasta-se do livro de origem, criando novos personagens e estabelecendo os EUA, e não a Espanha, como o cenário de seus eventos.
    Esses três produtos representam a mulher latino-americana a partir de olhares eminentemente masculinos e exotizantes. O enredo procura atrair pelo inusual de ser uma mulher a comandar uma vasta rede de transporte de drogas. Além disso, trata-se de uma mulher latino-americana, que usualmente é vista como passiva, vítima do tradicionalismo e do patriarcado “atrasado” da América Latina.
    Cada um desses três produtos, no entanto, diferenciam-se em diversos aspectos. Em relação ao gênero, por exemplo, o livro aproxima-se da narrativa policial, enquanto a telenovela baseia-se na linguagem da tv tradicional – com uma estrutura de melodrama – e a série utiliza uma narrativa de ação. Esse aspecto de ação de Queen of the South, por sua vez, influenciou a telenovela La Reina del Sur, que na segunda temporada apresentou uma Teresa Mendoza muito mais fisicamente ativa, escapando de explosões e incríveis perseguições.
    Em nossa apresentação, analisaremos as três personagens de Teresa Mendoza sob a ótica do feminismo liberal, ou do pós-feminismo. A partir da obra de Angela McRobbie, The Aftermath of Feminism, procuraremos mostrar de que forma esses produtos levam em conta as ideias feministas através de personagens femininas fortes, competentes e determinadas que desejam conquistar um lugar próprio e que têm projetos individuais de ascensão ao poder e riqueza. Comparado a outros produtos culturais sobre o narcotráfico, isso pode significar um avanço na representação feminina, pois as mulheres saem de casa e passam a ocupar não apenas um espaço de trabalho, seja legal ou ilegal, mas também um espaço muito masculino, no qual elas precisam lidar com preconceitos fortemente estabelecidos.
    No entanto, o que ocorre nestas obras é uma identificação do chamado empoderamento feminino ao sucesso no sistema capitalista-patriarcal – o mesmo que oprime a maioria das mulheres trabalhadoras e racializadas que sofrem com o estado mínimo e com a violência na América Latina –, representado aqui pelo narcotráfico como business.

Bibliografia

    ARRUZZA, Cinzia; BHATTACHARYA, Tithi; FRASER, Nancy. Feminismo para os 99%: um manifesto. São Paulo: Boitempo Editorial, 2019.
    CABAÑAS, Miguel A. Imagined narcoscapes: Narcoculture and the politics of representation. Latin American Perspectives, Riverside, v. 41, n. 2, 2014.
    EISENSTEIN, Hester. Feminism seduced: How global elites use women’s labor and ideas to exploit the world. NY: Routledge, 2015.
    GRADEJA, Arnoldo Delgadillo. Televisión y narcocultura. Cuando los narcos se ponen de moda. Interpretextos, Colima, n. 17, 2017.
    MCROBBIE, Angela. The Aftermath of Feminism. London: SAGE, 2011.
    POBUTSKY, Aldona Bialowas. Peddling Pablo: Escobar’s Cultural Renaissance. Hispania, vol. 96, n. 4. 2013.
    THORNTON, Margaret. Feminism and the neoliberal state in: Kiraly, Miranda; Tyler, Meagan (Ed.). Freedom Fallacy: The Limits of Liberal Feminism. Brisbane: Connor Court Publishing, 2015.