Ficha do Proponente
Proponente
- Matheus José Pessoa de Andrade (UFPB)
Minicurrículo
- Matheus Andrade é professor de Direção de Fotografia do curso de Cinema e Audiovisual da Universidade Federal da Paraíba, membro do Grupo de Pesquisa Cinematografia, Expressão e Pensamento. Áreas de interesse de pesquisa: cinematografia em cenas noturnas, direção de fotografia em documentário, o movimento da informação fílmica e as memórias dos meios.
Ficha do Trabalho
Título
- A noite do informante: cinematografia em cenas noturnas
Seminário
- Estética e plasticidade da direção de fotografia
Resumo
- Este texto versa sobre a direção de fotografia em cenas noturnas no cinema narrativo clássico. Partimos do pressuposto de que a noite no cinema é um código fotográfico, criado também através da iluminação, dentro de um jogo de representatividade e ilusões. A análise, assim, aponta para o trabalho de cinematografia no filme O delator (John Ford, EUA, 1935), cuja trama se passa durante uma noite. Identificamos, nele, estratégias de iluminação que chamam atenção sobre os limites da verossimilhança.
Resumo expandido
- A noite no cinema consiste numa codificação feita, em grande parte, pela cinematografia. Para tanto, recorre-se a mapas de iluminação, filtros, pós-produção e outros recursos técnicos possíveis, com a finalidade de representar uma noite verossímil dentro de uma respectiva narrativa. Diante da tela, o espectador precisa crer que é noite, mesmo tendo sido filmado durante o dia, ou seja, ele é convidado pelo fotógrafo a vivenciar ilusões. A contradição técnica reside no fato de ter que iluminar, sobretudo pela natureza da técnica fotográfica, fazendo-o parecer um ambiente escuro. Estas práticas foram tantas vezes utilizadas nos filmes que acreditamos haver um alto nível de tolerância por parte do público quanto à verossimilhança. Afinal, as coisas na noite cinematográfica precisam ou não ser vistas na tela, mesmo no escuro, e isso depende, consideravelmente, da criação fotográfica de um ambiente noturno. Diante do dilema técnico, o trabalho pode chegar a parecer inverossímil. Por isso, acreditamos que se trata de um estado de tensão para o profissional da imagem cinematográfica, pois exige do seu virtuosismo.
No caso específico do filme O delator, dirigido por John Ford, em 1935, o diretor de fotografia Joseph H. August, experiente fotógrafo de cinema da época, construiu uma atmosfera visual noturna intrigante, mas que se justifica. Na trama, situada numa Dublin de 1922, Gypo está diante de problemas financeiros de ordem pessoal até decidir delatar sobre o amigo Frankie McPhillip, pelo qual a polícia oferece uma recompensa de vinte libras. Na captura, a polícia mata McPhillip numa troca de tiros. Ao saber do assassinato do amigo, Gypo entra em conflito psicológico por sentir o peso da culpa de ser o informante do caso. Visto que a trama se passa durante o turno da noite, numa madrugada de conflitos psicológicos para o personagem principal, nossa inquietação, portanto, consiste na percepção de uma noite predominantemente clara, com muita luz, a ponto de nos questionar sobre a verossimilhança da fotografia em algumas cenas. Todavia, coerentemente codificada como a “noite em claro” de Gypo.
Na década de 1930, o cinema mundial já conhecia movimentos cinematográficos que usavam sombras excessivas na fotografia como recurso dramático de suas narrativas. Entretanto, a limitação técnica para se trabalhar com baixa luminosidade na época provavelmente era uma das razões que levava as noites cinematográficas a terem bastante luz. Negativos de baixa velocidade e objetivas escuras, por exemplo, eram características técnicas que obrigavam os profissionais a expor com muita luz numa cena noturna. As estratégias fotográficas de contraluz, compensação e paramentos de luz, reconhecidas na noite do informante, possibilitaram o uso de muita luz aparentando ser uma noite. Mesmo assim, dessa forma, a direção de fotografia coloca em conflito a verossimilhança das cenas noturnas.
Na busca de subsídio para analisar a referida obra, flertamos com conceitos de codificação, representação e ilusão (MCLUHAN, 2005; AUMONT, 2012) que, quando tomados para o trabalho de cinematografia, contribuem para uma reflexão sobre as cenas noturnas. A partir de alguns fragmentos do filme, entendermos os códigos fotográficos feitos por Joseph H. August em O delator, considerando as estratégias de iluminação como chaves dessas imagens. Estes elementos são constitutivos da cinematografia do filme e fundamentais para entendimento do fio de tensão realista sobre o qual o diretor de fotografia caminhou nesse filme. Em outras palavras, a noite do informante é uma análise fílmica do processo de codificação fotográfica das cenas noturnas do cinema narrativo clássico, tendo em vista seu resultado nas telas.
Bibliografia
- AUMONT, Jacques. A imagem. 16 ed. Campinas, SP: Papirus, 2012.
MCLUHAN, Marshall. Os meios de comunicação como extensões do homem. São Paulo: Cultrix, 2005.
MONCLAIR, Jorge. O diretor de fotografia. Rio de Janeiro: Solutions Comunicações: 1999.
PRAKEL, David. Iluminación: luz con propiedades concretas o el equipo que La produce. Barcelona: Blume, 2007.