Ficha do Proponente
Proponente
- Cesar de Siqueira Castanha (UFPE)
Minicurrículo
- Doutorando em Comunicação pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Professor substituto do Departamento de Comunicação Social (DCOS) na Universidade Federal de Sergipe (UFS). Mestre em Comunicação e graduado em Comunicação Social – Jornalismo pela UFPE. Crítico de cinema no site da Revista Fórum.
Ficha do Trabalho
Título
- Enquadramentos e encenações do espaço: tecnologias do cenário
Seminário
- Estética e teoria da direção de arte audiovisual
Resumo
- Busco compreender as formulações do espaço cênico no audiovisual recuperando as tecnologias que reivindicam esses espaços audiovisuais como cenários, pensando as articulações cênicas do espaço no audiovisual em termos de enquadramentos e encenações desse espaço. Para isso, enfatizo tecnologias como a projeção traseira e a sua atuação na articulação de espaços cênicos, colocando em questão a expectativa pela indexicalidade do audiovisual e discutindo o uso dos conceitos de lugar e paisagem.
Resumo expandido
- A ênfase na espacialidade fílmica configura aquilo que Martin Lefebvre (2006, p. 24) entende como a aparição da paisagem no cinema e aquilo que a diferencia do cenário, em que o segundo seria esse espaço de ambientação do evento, e a primeira manteria alguma autonomia em relação ao evento dada justamente por essa ênfase no espaço. Lefebvre (2006, p. 38) sugere a autonomia da diegese, a composição pictórica, a durabilidade dos planos e a construção de um status simbólico — que o autor associa a uma estética do cinema moderno, acusando-o de “exibir sua profundidade interpretativa e hermenêutica” – como aquilo que conduz o olhar do espectador para a paisagem.
A solução para essa articulação ficcional dos espaços cênicos poderia se dar, portanto, por uma saída hermenêutica, pela aparição da paisagem como uma espacialidade simbólica. Mas é muito restrito o conjunto de obras ao qual é possível esse tipo de leitura, que é organizada para um cinema autoral, em que a paisagem só tem uma “profundidade interpretativa” porque foi construído esse “status simbólico” em torno dela. Aqui, busco descrever algumas das rasuras que aparecem nas encenações audiovisuais do espaço, buscando paradigmas que enfatizem essas espacialidades como fabricações criativas e tecnológicas. Para isso é preciso ampliar nosso reconhecimento das articulações formais e narrativas que colocam esse espaço em cena, para além de um mesmo conjunto de práticas de construção de cena (mise-en-scène) e para além de uma expectativa pela autoridade autoral.
Confrontar essa produção criativa centralizada na figura do autor me leva a procurar exemplos de articulação do espaço em diversos gêneros fílmicos e, além disso, ficções audiovisuais que se originam em mídias diversas, incluindo nisso o cinema de live-action, o cinema de animação, a televisão e a produção de vídeos para plataformas de compartilhamento como o Youtube. A oposição de Lefebvre entre cenário e paisagem é continuadamente problematizada por essas audiovisualidades diversas e também por tecnologias que constituem o espaço no audiovisual e por seus usos, nos casos em que o que poderia “ser entendido como cenário (seja por uma dada redução à função narrativa ou por ser constituído de uma arquitetura dos espaços interiores) frequentemente materializa todo o espaço de encenação” (PRYSTHON, CASTANHA e ASSUNÇÃO, 2020, p. 184).
Desse modo, percebemos como algumas tecnologias e os artifícios que elas articulam perturbam a expectativa por uma representação indexical dos espaços filmados – em que os espaços audiovisuais teriam uma dependência ontológica dos espaços extramidiáticos, constituindo-se sempre a partir dessa dependência – e reafirmam a paisagem como desdobramento à superfície (BRUNO, 2014), como tela (DORA, 2015), ao enfatizar encenações ficcionais que dispensam ou ativamente reconfiguram os seus possíveis referentes extramidiáticos. Essas tecnologias são ativadas tanto por circunstâncias econômicas e padrões industriais da ficção audiovisual, como também por agenciamentos criativos dessas economias e padrões.
O conceito de moldura para as audiovisualidades de Kilpp (2010 e 2012) me ajuda, em uma análise desses agenciamentos, a estabelecer uma diferença entre o que chamo de enquadramento do espaço audiovisual – algo informado pelos gêneros midiáticos, pelo contexto histórico, geográfico e econômico da produção e por suas reivindicações e recepção diante da crítica (seja pela circulação em festivais ou por uma posição que ocupa diante de um cânone) – e o que chamo de encenação do espaço, que observa a composição espacial no interior da cena, uma construção de cena (ou mise-en-scène) que tem como ênfase o aspecto espacial. Entendendo, desse modo, que as articulações ficcionais dos espaços no audiovisual se dão tanto pelos enquadramentos quanto pelas encenações do espaço (e pelas maneiras como esses dois procedimentos de configuração do espaço no audiovisual interagem).
Bibliografia
- BRUNO, Giuliana. Surface: matters of aesthetics, materiality, and media. Chicago: University of Chicago Press, 2014.
DORA, Veronica della. Beyond the screen: Luigi Ghirri, landscape and paradox. GeoHumanities, vol. 1, n. 2, p. 345-362, 2015.
KILPP, Suzana. Imagens conectivas da cultura. Revista FAMECOS, Porto Alegre, v. 17, n. 3, p. 181-189, set.-dez. 2010.
__________; MONTAÑO, Sonia. Trânsitos e conectividades na web: uma ecologia audiovisual. MATRIZes, São Paulo, ano 6, n. 1, p. 129-143, jul.-dez. 2012.
LEFEBVRE, Martin. Landscape and film. Nova York: Routledge, 2006.
PRYSTHON, Angela Freire; CASTANHA, Cesar de Siqueira; ASSUNÇÃO, Larissa Veloso. Algumas notas sobre paisagem e espaço na cultura audiovisual. In: PEREIRA DE SÁ, Simone (Org.); AMARAL, Adriana (Org.); JANOTTI JUNIOR, Jeder (Org.). Territórios afetivos da imagem e do som. Belo Horizonte: PPGCOM UFMG, 2020. p. 169-198.