Ficha do Proponente
Proponente
- Maurício Miotti (FCLAr/UNESP)
Minicurrículo
- Maurício Miotti é bacharel e licenciado em Ciências Sociais pela Faculdade de Ciências e Letras de Araraquara (FCLAr/UNESP), e atualmente mestrando pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais (FCLAr/UNESP). Pesquisador do Núcleo de Antropologia da Imagem e Performance (NAIP-FCLAr/UNESP), tendo experiência em antropologia visual e do cinema, com ênfase em cinema documentário.
Ficha do Trabalho
Título
- “Eu, um negro” e “Acossado”: uma análise comparativa
Resumo
- Este trabalho busca apontar aproximações e diálogos entre o cinema produzido por Jean Rouch, um antropólogo-cineasta, e as obras desenvolvidas por Jean-Luc Godard durante o período da Nouvelle Vague, analisando comparativamente Eu, um negro (1958) e Acossado (1960), filmes que acabariam por gerar uma revolução nos modos de se fazer cinema; um partindo de filmes etnográficos realizados na África, e o outro de filmes de cinéfilos, realizados na França.
Resumo expandido
- Este trabalho busca aproximar e dialogar o estilo de realização fílmico-etnográfica de Jean Rouch e as realizações de cinéfilo engendradas por Jean-Luc Godard no contexto da Nouvelle Vague. Sylvia Caiuby Novaes apresenta a existência dessa proximidade ao falar sobre o “cine transe” rouchiano: “Seu ‘cine transe’ acabou tendo muito mais influência sobre cineastas como Truffaut e Godard do que sobre os antropólogos que realizavam filmes etnográficos” (Novaes, 2009, p. 48).
Godard reconhece desde cedo o valor dos filmes rouchianos no desenvolvimento do cinema francês, chegando a comparar Rouch à Joana D’arc:
Playing on the fact that in French the name of Joan of Arc is written as Jeanne, the female form of Jean, Godard declared that like the national heroine, Rouch would come to the rescue, not of France perhaps, but certainly of French cinema, by opening the door on a completely new way of making films.” (Henley, 2009, p. 91)
Assim sendo, Rouch seria responsável por salvar o cinema francês, trazendo características estéticas e técnicas novas, como, por exemplo, o uso de cenários naturais e filmagens de improviso. Na questão do roteiro, Michel Marie (2011) declara que o “roteiro dispositivo”, ideal da Nouvelle Vague, faz parte dos procedimentos estéticos rouchianos: “…o ‘roteiro dispositivo’, aberto aos acasos da filmagem, dos encontros, das ideias do autor surgindo no aqui e agora…” (Idem, p. 71).
Henley (2009) aponta que, tendo em vista as semelhanças existentes entre os filmes de Jean Rouch, mais precisamente no caso de Eu, um negro (1958), e a Nouvelle Vague, Godard foi o mais influenciado pelos filmes rouchianos:
Of the leading New Wave filmmakers, Jean-Luc Godard was particularly influenced by Rouch, adopting his filmmaking techniques in his own films, most notably in À bout de souffle, in which the handheld câmera and the jump cuts are all very reminiscente of Rouch’s way of working. Indeed the stylistic similarity was so great that it led one eminent Cahiers film critic, Luc Moullet, to describe the film as “a sort of Moi, un blanc” and to suggest that Godard wanted to become “the Rouch of France”. (Idem, p. 176)
É necessário dizer que, tal como Marie (Ibidem) apresenta, Eu, um negro manifesta o modelo inicial do que era defendido pelos autores da Nouvelle Vague e críticos dos Cahiers: “O modelo inicial é encarnado pelos filmes de Jean Rouch depois de Eu, um negro (1958). Rouch será o mais fiel a esse procedimento ao longo dos anos 1960…” (Ibidem, p. 66).
A partir disso, busca-se aqui uma aproximação entre os filmes Eu, um negro de Jean Rouch e Acossado (1960) de Jean-Luc Godard, de modo a realizar uma análise comparativa que possibilite estabelecer um diálogo entre o trabalho dos dois realizadores franceses. Buscar-se-á demonstrar de que forma eles possibilitaram uma mudança de paradigma para o fazer cinematográfico, alterando o que era feito pelos realizadores da tradição de qualidade na França, a qual seria criticada pelos “jovens turcos”, o que fica evidenciado por Truffaut (2005). Além disso, levar-se-á em conta que ambos os filmes exploram e subvertem as fronteiras entre documentário de ficção, de modo a problematizar as relações entre ficcional e real.
Bibliografia
- HENLEY, Paul. The adventure of the real: Jean Rouch and the craft of etnographic cinema. Chicago; London: University of Chicago Press, 2009.
MARIE, Michel. A Nouvelle Vague e Godard. Campinas: Papirus, 2011.
NOVAES, Sylvia Caiuby. Imagem e Ciências Sociais: trajetória de uma relação difícil. In: BARBOSA, Andréa; CUNHA, Edgar Teodoro da; HIKIJI, Rose Satiko Gitirana (Org.). Imagem-conhecimento: antropologia, cinema e outros diálogos. Campinas: Papirus, 2009, p. 35-59.
TRUFFAUT, François. Uma certa tendência do cinema francês. In: TRUFFAUT, François. O prazer dos olhos: escritos sobre cinema. Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2005, p. 257-276.