Trabalhos Aprovados 2019

Ficha do Proponente

Proponente

    Aida Rodrigues Feitosa (UFRJ)

Minicurrículo

    Jornalista, Analista Ambiental, Mestre em Comunicação pela Universidade de Brasília (UnB) e Doutoranda pela Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Possui experiência em produção audiovisual, assessoria de imprensa, jornalismo ambiental e cultural. Tem com áreas de interesse: estética, teoria do cinema, teoria dos cineastas, cinema negro, cidades.

Ficha do Trabalho

Título

    Cidades da diáspora africana e a criação de imagens cinematográficas

Seminário

    Cinema Negro africano e diaspórico – Narrativas e representações

Resumo

    Uma estética particular liga o corpo dos personagens ao espaço das cidades aproximando as
    imagens dos cineastas Charles Burnett e André Novais. Tanto Watts, em Los Angeles; quanto
    Amazonas, em Contagem, grande Belo Horizonte são bairros habitados e filmados pelos diretores
    e que carregam a experiência comum da diáspora africana nas Américas. A relação dos
    personagens, da casa e do bairro revela imagens de pessoas negras longe dos esteriótipos que a
    indústria cinematográfica utiliza até os dias de hoje.

Resumo expandido

    O cotidiano da vida nas cidades está presente desde os primórdios da experiência fílmica . O
    movimento das ruas e das casas, as paisagens, as arquiteturas, as luzes da cidade sempre
    atraíram as lentes cinematográficas. A cidade é uma realidade em movimento, em fluxo contínuo
    que acompanha e molda o cotidiano de seus moradores. A construção de afetos, subjetividades e
    imaginários acontece nos seus espaços públicos e privados, no centro e nas periferias, nas
    multidões e na solidão.

    Nos filmes do norte-americano Charles Burnett e do brasileiro André Novaes podemos perceber
    essa construção formatando imagens cotidianas de negritude que dialogam tanto com as pessoas
    que vivem nas cidades retratadas quanto com diversas outras cidades pelo mundo. A crônica do
    cotidiano no gueto negro inaugura um mundo sensível particular dentro das casas que estão
    sempre em relação com a cidade, o bairro, a rua. “A cidade é, hoje, o lugar onde acontece a
    cotidianidade e a vida coletiva: habitamos nela e de uma maneira ou de outra somos a unidade
    mais básica de sua estrutura, essa vibrante célula que interage com ela enquanto a molda a cada
    dia.” (GOMÉZ;PAVÉS, 2014, p.9).

    Essa forma de vida cotidiana que se passa dentro da cidade é apresentada nos filmes Um bocado
    de amigos (1969) e O matador de ovelhas (1977), de Charles Burnett, e, Quintal (2015) e Ela volta
    na quinta (2014), de André Novais. O presente seminário pretende analisar esses filmes
    relacionando a corporalidade dos personagens com o espaço vivido.

    O que aproxima de forma indelével o cineasta negro do Brasil e dos Estados Unidos é a
    identidade racial, que, num primeiro momento, pode ser descrita por características fenotípicas,
    entretanto, como vivência social e representação cinematográfica, instauram-se outros
    significantes. Segundo Munanga (2009, p. 20), a negritude e/ou a identidade negra se referem à
    história comum que liga, de uma maneira ou de outra, todos os grupos humanos que o olhar do
    mundo ocidental branco reuniu sob o nome de negros. A negritude se mostra como um dos
    antídotos contra as duas formas de perda de identidade: seja por segregação cercada pelo
    particular, seja por diluição no universal .(CÉSAIRE, 1987, apud MUNANGA, 2003, p. 21).

    Burnett e Novais nos oferecem uma narrativa visual para a qual podemos lançar um olhar múltiplo
    entrelaçando uma rede de conexões entre as pessoas, os fatos e as coisas do mundo. Ao revelar
    potencialidades de sentido para o cotidiano apresentado nos filmes percebemos uma estética
    particular que tem aproximações, distanciamentos, raccords, movimentos de câmera que liga o
    corpo dos personagens ao espaço filmado em dinâmicas que aproximam os dois diretores.

    Essa aproximação é possível ser analisada pela experiência comum da diáspora africana nas
    Américas que resultaram em bairros habitados majoritariamente pela população Afro-
    descendente. Tanto Watts, em Los Angeles, quanto Amazonas, em Contagem, grande Belo
    Horizonte são bairros periféricos que foram filmados e habitados pelos diretores. A relação dos
    personagens, da casa e do bairro revela imagens de pessoas negras longe dos esteriótipos que a
    indústria cinematográfica utiliza até os dias de hoje. (BOGLE, 2016, p.83)

Bibliografia

    AUMONT, Jacques. Les Théories des Cinéastes. 3 ed. Paris: Armand Colin, 2015.

    BHABHA, Homi K. O Local da Cultura. Belo Horizonte: Editora UFMG, 1998.

    BOGLE, Donald. Toms, Coons, Mulattoes, Mammies and Bucks: An Interpretative History of Blacks in Films. 5 ed. Boston: Bloomsbury Academic, 2016.

    CALVINO, Italo. As cidades invisíveis. São Paulo: Cia das Letras, 2010.

    CORRÊA, Roberto Lobato; ROSENDAHL, Zeny. Cinema, Música e Espaço. Rio de Janeiro: Ed. UERJ, 2009.

    CRIPS, Thomas. Black Film as Genre. In: MARTIN, Michael T. (org). Cinemas of theBlack Diaspora: Diversity, Dependence, and Oppositionality. Detroit: Wayne State University Press, 1996.

    DUNEIER, Mitchell. Ghetto: The Invention of a Place, the History of an Idea. New York: Farrar, Straus and Giroux, 2016.

    GILROY, Paul. O Atlântico negro: modernidade e dupla consciência. São Paulo, SP: Editora 34, 2012.

    GUERRERO, Ed. Framing Blackness: The African American Image Film. Philadelphia: Temple University Press, 1993.