Ficha do Proponente
Proponente
- Aida Rodrigues Feitosa (UFRJ)
Minicurrículo
- Jornalista, Analista Ambiental, Mestre em Comunicação pela Universidade de Brasília (UnB) e Doutoranda pela Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Possui experiência em produção audiovisual, assessoria de imprensa, jornalismo ambiental e cultural. Tem com áreas de interesse: estética, teoria do cinema, teoria dos cineastas, cinema negro, cidades.
Ficha do Trabalho
Título
- Cidades da diáspora africana e a criação de imagens cinematográficas
Seminário
- Cinema Negro africano e diaspórico – Narrativas e representações
Resumo
- Uma estética particular liga o corpo dos personagens ao espaço das cidades aproximando as
imagens dos cineastas Charles Burnett e André Novais. Tanto Watts, em Los Angeles; quanto
Amazonas, em Contagem, grande Belo Horizonte são bairros habitados e filmados pelos diretores
e que carregam a experiência comum da diáspora africana nas Américas. A relação dos
personagens, da casa e do bairro revela imagens de pessoas negras longe dos esteriótipos que a
indústria cinematográfica utiliza até os dias de hoje.
Resumo expandido
- O cotidiano da vida nas cidades está presente desde os primórdios da experiência fílmica . O
movimento das ruas e das casas, as paisagens, as arquiteturas, as luzes da cidade sempre
atraíram as lentes cinematográficas. A cidade é uma realidade em movimento, em fluxo contínuo
que acompanha e molda o cotidiano de seus moradores. A construção de afetos, subjetividades e
imaginários acontece nos seus espaços públicos e privados, no centro e nas periferias, nas
multidões e na solidão.
Nos filmes do norte-americano Charles Burnett e do brasileiro André Novaes podemos perceber
essa construção formatando imagens cotidianas de negritude que dialogam tanto com as pessoas
que vivem nas cidades retratadas quanto com diversas outras cidades pelo mundo. A crônica do
cotidiano no gueto negro inaugura um mundo sensível particular dentro das casas que estão
sempre em relação com a cidade, o bairro, a rua. “A cidade é, hoje, o lugar onde acontece a
cotidianidade e a vida coletiva: habitamos nela e de uma maneira ou de outra somos a unidade
mais básica de sua estrutura, essa vibrante célula que interage com ela enquanto a molda a cada
dia.” (GOMÉZ;PAVÉS, 2014, p.9).
Essa forma de vida cotidiana que se passa dentro da cidade é apresentada nos filmes Um bocado
de amigos (1969) e O matador de ovelhas (1977), de Charles Burnett, e, Quintal (2015) e Ela volta
na quinta (2014), de André Novais. O presente seminário pretende analisar esses filmes
relacionando a corporalidade dos personagens com o espaço vivido.
O que aproxima de forma indelével o cineasta negro do Brasil e dos Estados Unidos é a
identidade racial, que, num primeiro momento, pode ser descrita por características fenotípicas,
entretanto, como vivência social e representação cinematográfica, instauram-se outros
significantes. Segundo Munanga (2009, p. 20), a negritude e/ou a identidade negra se referem à
história comum que liga, de uma maneira ou de outra, todos os grupos humanos que o olhar do
mundo ocidental branco reuniu sob o nome de negros. A negritude se mostra como um dos
antídotos contra as duas formas de perda de identidade: seja por segregação cercada pelo
particular, seja por diluição no universal .(CÉSAIRE, 1987, apud MUNANGA, 2003, p. 21).
Burnett e Novais nos oferecem uma narrativa visual para a qual podemos lançar um olhar múltiplo
entrelaçando uma rede de conexões entre as pessoas, os fatos e as coisas do mundo. Ao revelar
potencialidades de sentido para o cotidiano apresentado nos filmes percebemos uma estética
particular que tem aproximações, distanciamentos, raccords, movimentos de câmera que liga o
corpo dos personagens ao espaço filmado em dinâmicas que aproximam os dois diretores.
Essa aproximação é possível ser analisada pela experiência comum da diáspora africana nas
Américas que resultaram em bairros habitados majoritariamente pela população Afro-
descendente. Tanto Watts, em Los Angeles, quanto Amazonas, em Contagem, grande Belo
Horizonte são bairros periféricos que foram filmados e habitados pelos diretores. A relação dos
personagens, da casa e do bairro revela imagens de pessoas negras longe dos esteriótipos que a
indústria cinematográfica utiliza até os dias de hoje. (BOGLE, 2016, p.83)
Bibliografia
- AUMONT, Jacques. Les Théories des Cinéastes. 3 ed. Paris: Armand Colin, 2015.
BHABHA, Homi K. O Local da Cultura. Belo Horizonte: Editora UFMG, 1998.
BOGLE, Donald. Toms, Coons, Mulattoes, Mammies and Bucks: An Interpretative History of Blacks in Films. 5 ed. Boston: Bloomsbury Academic, 2016.
CALVINO, Italo. As cidades invisíveis. São Paulo: Cia das Letras, 2010.
CORRÊA, Roberto Lobato; ROSENDAHL, Zeny. Cinema, Música e Espaço. Rio de Janeiro: Ed. UERJ, 2009.
CRIPS, Thomas. Black Film as Genre. In: MARTIN, Michael T. (org). Cinemas of theBlack Diaspora: Diversity, Dependence, and Oppositionality. Detroit: Wayne State University Press, 1996.
DUNEIER, Mitchell. Ghetto: The Invention of a Place, the History of an Idea. New York: Farrar, Straus and Giroux, 2016.
GILROY, Paul. O Atlântico negro: modernidade e dupla consciência. São Paulo, SP: Editora 34, 2012.
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