Ficha do Proponente
Proponente
- Elianne Ivo Barroso (UFF)
Minicurrículo
- Professora Associada do Departamento de Cinema e Vídeo da UFF e dos Programas de Pós-
Graduação de Cinema e Audiovisual (PPGCine/UFF) e em Tecnologias e Linguagens da
Comunicação (PPGTLCom/ECO/UFRJ). Atualmente desenvolve a pesquisa Montagem de
Cartografias Audiovisuais que busca aproximar o processo cartográfico do agenciamento das
obras audiovisuais contemporâneas. Desde 2017, é Coordenadora do Curso de Cinema e
Audiovisual – Bacharelado no qual é responsável pelas disciplinas de Edição e Montagem e
Oficina de Realização II com Ênfase em Finalização.
Ficha do Trabalho
Título
- MONTAGEM AUDIOVISUAL ENTRE O OLHAR E A IMAGEM
Seminário
- Montagem Audiovisual: reflexões e experiências
Resumo
- O presente trabalho busca discutir três textos franceses recentes sobre teoria da montagem
diante de um cenário audiovisual complexo pouco afeito às regras consagradas no cinema. A
ideia é verificar como a teoria da montagem se desvincula de certas experiências localizadas
historicamente e ganham um status atemporal e mais abrangente para compreender o que se
passa entre as imagens.
Resumo expandido
- Jacques Aumont no breve ensaio 'Montage “la seule invention du cinéma”' (2015) recupera a
importância histórica da articulação dos planos cinematográficos e aborda alguns aspectos da
contemporaneidade que colocam em cheque uma estética que permitiu o florescimento da
ficção, do documentário e da poesia no cinema. Para Aumont, este declínio da montagem
cinematográfica está relacionado ao culto da imagem difundido pelo digital seja pela
propagação de selfies nas redes sociais ou pela valorização da interatividade tanto em
videojogos como em narrativas audiovisuais não-lineares. Para o autor, “o cinema era antes de
tudo uma história do olho: questões de ponto de vista, de perspectiva, de agenciamento cênico,
ou seja, questões do olhar” (p.95). Nesta disputa entre olhar e imagem, interessa-nos saber
como a bibliografia dos últimos dez anos sobre a montagem, em especial na França, enfrenta
esta situação na qual pouco restou do rigor e da coerência do cinema de outrora e que agora
prevalece uma grande liberdade em montar tudo o que foi registrado.
Para este estudo, queremos analisar escritos de três autores entendendo como estas
produções abordam a montagem e buscam trazer um conceito que ultrapasse a suspeita de
Aumont. Ou seja, de que a montagem efetivamente sobreviveu ao tempo e pôde perdurar.
Primeiramente trataremos do artigo de François Albera (2011) "The Case for an
Epistemography of Montage. The Marey Moment" (ALBERA e TORTAJADA, 2010, pp. 59-78 ).
O autor tenta distinguir o discurso tecnico-estético sobre a montagem do discurso da crítica e
dos estudos de cinema. O objetivo é delimitar campos de aplicação dos conceitos e regras de
montagem identificando as transformações e variações dos mesmos.
Em segundo lugar, discutiremos o trabalho de Dominique Chateau, "L’invention du concept de
montage: Lev Koulechov, théoricien du cinéma" (2013). Neste caso, a proposta é compreender
como a prática da montagem se tornou um conceito fundamental para a teoria do cinema.
Chateau recupera as ideias de Koulechov e atribui ao diretor soviético um lugar de destaque
para a invenção do conceito de montagem.
Por fim, iremos nos debruçar sobre o livro de Théresa Faucon "Théorie du montage. Enérgie,
force et fluides" (2013). Influenciada pela proposta de pensar as ciências humanas a partir das
ciências duras, a autora faz um paralelo entre a montagem e a noção de energia com o intuito
de explicar a circulação e a força que une os planos audiovisuais. Da mesma forma que a
energia é ‘irrepresentável’ o mesmo se diz da montagem audiovisual. Conhecemos apenas os
efeitos de ambas. Faucon trabalha de forma original noções científicas com textos sobre
cinema que vão de Dziga Vertov com o conceito de ‘intervalo’ até o de Jean Epstein que
escreve sobre a ‘fotogenia’.
Preliminarmente concluímos que em comum os três autores buscam responder à pergunta
fundadora sobre o tema: o que é a montagem? Albera e Chateau tentam desmembrar a
confusão gerada entre prática e teoria de montagem para justificar atemporalidade e
subjetividade do gesto. Para tanto o primeiro foca sua pesquisa nos trabalhos do fisiologista
Jules Marey realizados ainda no pré-cinema. Já Chateau faz uma genealogia do termo
montagem e vê nas experiências de Koulechov fortes indícios para a vinculação e o conflito
entre o fazer e o pensar montagem. Mesmo se Faucon não trate diretamente desta oposição,
ela parece interagir com o problema quando pensa em propor uma teoria que dê conta do
princípio propulsor da montagem para além das suas funções estéticas, plásticas ou rítmicas.
Mesmo se os três escritos não façam alusão ao pessimismo de Aumont sobre "os destinos da
montagem", eles tentam refletir sobre como é preciso se desvincular da prática ou de uma
determinada periodização do cinema e vislumbrar uma teoria da montagem mais interessada
em compreender o que se passa entre os elementos audiovisuais.
Bibliografia
- AUMONT, J. Montage “la seule invention du cinéma. Paris: Librairie Philosophique J. Vrin,
2015.
CHATEAU, D. L'invention du concept de montage : Lev Kouléchov, théoricien du cinéma. Paris:
AMANDIER , 2013.
ALBERA, F. e TORTAJADA, M. (orgs). Cinema Beyond Film Media Epistemology in the Modern
Era. Amsterdam University Press, 2010.
FAUCON, T. Théorie du montage. Enérgie, force et fluides. Paris: Armand Collin, 2013.