Ficha do Proponente
Proponente
- Alex Beigui de Paiva Cavalcante (UFOP)
Minicurrículo
- Artista pesquisador. Pós-doutorado em Dramaturgia pela Université de Lausanne – Suíça (Bolsista/CAPES); Doutor em Letras (Dramaturgia Comparada – Literatura Brasileira) pela USP (Bolsista-FAPESP); Mestre em Artes Cênicas pela UFBA (Bolsista-CAPES); Graduado em Letras pela UFPB (Bolsista de IC-CNPq). Atualmente é docente da Universidade Federal de Ouro Preto-MG e Professor Permanente do Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas da UFOP. Área de atuação: Artes Cênicas; Literatura e Cinema.
Ficha do Trabalho
Título
- Entre olhares: o fílmico, o teatral e performático em Jean Genet
Resumo
- O trabalho apresenta uma leitura acerca dos recursos fílmicos, teatrais e performáticos na obra “Un chant d’amour”. A ideia de gênero no filme, apesar de mais evidente, muitas vezes esconde a maturidade com que a manipulação da câmera e dos recursos aponta para uma mistura entre o voyeurismo teatral e o voyeurismo cinematográfico, cujo ponto de contato é a relação que o espectador assume na trama fílmica.
Resumo expandido
- A relação entre as linguagens literárias, teatrais e cinematográficas vem ganhando força em um contexto cada vez mais híbrido e que se efetiva no jogo de negociações estéticas. Aqui, o conceito de estética deve ser considerado como algo diretamente ligado à experiência e ao vivido. O que une as linguagens em um campo cada vez mais minado, onde o estético é sempre problematizado dentro dos modos de esfacelamento de padrões e taxionomias, sendo alguns nomes expoentes na bravata de quebrar as fronteiras e dirimir os lugares fixos de representação. Oscar Wilde, Charles Baudelaire, Jean Genet são alguns desses nomes que representam abertura em diferentes espaços culturais, a partir dos quais não lugares (AUGÉ, 1992) irão se legitimando enquanto espaços marginais e em trânsito. A violência dos textos e das obras de Jean Genet merece destaque nesse universo de rupturas e experimentalismo. Un Chant d’Amour (1950) é uma obra que aponta para diversos modos de discursos (fílmico, teatral, coreográfico e performático). A ideia de gênero no filme, apesar de mais evidente, muitas vezes esconde a maturidade com que a manipulação da câmera e dos recursos aponta para uma mistura entre o voyeurismo teatral e o voyeurismo cinematográfico, cujo ponto de contato é a relação que o espectador assume na trama fílmica. O olhar insurge como parte integrante de um jogo entre desejo e alteridade. A partir desse jogo se estabelece uma relação de vigilância e punição (FOUCAULT, 1975). Jean Genet mistura dança, discurso biográfico e mimético, questionando o lugar do corpo performativo enquanto dispositivo dialético do desejo latente e manifesto. As tomadas que elegem as partes do corpo, enquadrando-as em espaços micro-fragmentados, expõem uma direção atenta e persecutória, quase obsessiva, acerca de uma escrita corporal simultaneamente fílmica e teatral. A técnica “Trompe-l’oeil” faz parte do recurso utilizado no filme por vezes para realçar, outras para contrastar as imagens em espaços fechados. É importante ressaltar a violência com que o espectador assume o lugar do “ver” e do “observar” como parte do jogo proposto. As cenas em sequência parecem “tableaux vivants” funcionando em perspectiva panóptica.
Bibliografia
- FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir. Rio de Janeiro: vozes, 1987.
AUGÉ, Marc. Não-lugares: introdução a uma antropologia da submodernidade. São Paulo: Papirus, 1994.