Trabalhos Aprovados 2019

Ficha do Proponente

Proponente

    Lucas Hossoe Gomes (Unicamp)

Minicurrículo

    Lucas Hossoe Gomes é Bacharel em Imagem e Som pela Universidade Federal de São Carlos (2017), e atualmente é Mestrando no Programa de Pós-Graduação em Multimeios da Universidade Estadual de Campinas (ingresso em 2019), onde desenvolve pesquisa sobre as intersecções entre modo melodramático e sensibilidade queer no cinema brasileiro.

Ficha do Trabalho

Título

    Melodrama e sensibilidade gay em Praia do Futuro (2014)

Seminário

    Corpo, gesto e atuação

Resumo

    Esta comunicação propõe uma análise do filme Praia do Futuro (2014, dir. Karim Aïnouz) sob a conjectura da sensibilidade gay e do melodrama em suas definições cinematográficas. Busca-se na auto-reflexividade da forma, as aproximações e distanciamentos do pathos melodramático na construção narrativa e as referências visuais da encenação, com especial atenção às gestualidades e corporalidades que compõem códigos melodramáticos e homoeróticos.

Resumo expandido

    Esta comunicação centra-se na análise estilística do filme Praia do Futuro (2014, dir. Karim Aïnouz), sob a conjectura do melodrama e da sensibilidade gay. Para tal, segue os preceitos do revisionismo dos estudos melodramáticos apontados por Glendhill (1987) e Williams (1998), que corroboram e expandem os debates iniciados por Elsaesser (1972) e Brooks (1976) de que a operação do pathos melodramático o aproxima mais de um modo narrativo que de um gênero, e suas características de excesso podem ser reapropriadas em uma variedade de gêneros e estilos cinematográficos.

    A sensibilidade gay, por sua vez, oriunda dos estudos culturais, eventualmente foi incorporada aos estudos cinematográficos (Dyer, 2002). Identificada nesta proposta como uma afinidade com os meios melodramáticos, tem, assim, origem no gênero do melodrama familiar e do woman’s film de Hollywood dos anos 1950 através de algumas práticas. Entre elas o Camp, como aponta Klinger (1994), prática da comunidade gay que via subversão e ironia nos melodramas a partir dos estereótipos de uma sociedade embasada no patriarcado. Por outro lado, uma leitura mais direta também conferia à comunidade gay uma identificação com a subjugação da heroína-vítima através do pathos estabelecido na narrativa.

    Ao longo dos anos, o melodrama familiar hollywoodiano foi atualizado, reinterpretado em diversas obras de cineastas gays como Rainer Werner Fassbinder, Pedro Almodóvar e Todd Haynes, à medida que as questões de sexualidade se tornaram mais proeminentes no cinema. Pode-se incluir Karim Aïnouz nesta chave de realizadores. Participante ativo do New Queer Cinema, onde mesmo em meio às práticas subversivas da linguagem, havia espaço para a citação do melodrama canônico, Aïnouz destacou-se posteriormente por filmes de estilo mais reflexivo, dificilmente associados ao termo até o lançamento do Praia do Futuro em 2014, de temática gay e identificado como um melodrama masculino.

    Propõe-se, assim, que a sensibilidade gay confere a Praia do Futuro intertextualidades específicas com o melodrama. A narrativa de deslocamentos e não-pertencimentos do filme, que vê seu protagonista Donato dividido entre o relacionamento amoroso e o relacionamento familiar, remete às premissas de impossibilidade caras ao melodrama do ciclo clássico sirkiano dos anos 1950 e outros cânones do gênero. Mas o filme busca outros posicionamentos que o distanciam do engendramento genérico. O filme segue o salva-vidas Donato em seu ofício na praia em Fortaleza, e em sua subsequente vida em Berlim, e, a cada ação da personagem, o pathos melodramático pode ser aproximado ou distanciado, numa composição dúbia do herói-vítima da forma canônica.

    Além da construção narrativa, esta comunicação busca analisar as referências visuais da encenação, e suas citações e atualizações às estilísticas melodramáticas, e como esta encenação é essencial à construção visual da homossexualidade representada. Nesta perspectiva, torna-se primordial não só a análise de elementos clássicos da linguagem como ângulos e movimentos de câmera, luz e composição de cores e cenários, mas também a atenção às gestualidades e corporalidades encenadas pelos atores. Busca-se, nestas corporalidades, em especial a do protagonista Donato, interpretado por Wagner Moura, códigos melodramáticos e homoeróticos e suas possibilidades de intersecção.

Bibliografia

    BROOKS, Peter. The Melodramatic Imagination. Balzac, Henry James, Melodrama, and the Mode of Excess. Yale University Press, 1995.
    DYER, Richard. The culture of queers. Londres: Routledge, 2002. 244 p.
    ELSAESSER, Thomas. Tales of Sound and Fury: Observations on the Family Melodrama. IN: GLEDHILL, Christine. Home Is Where The Heart Is: Studies in Melodrama and the Woman’s Film. British Film Institute. Londres, p.43-69.
    GLEDHILL, Christine. Home Is Where The Heart Is: Studies in Melodrama and the Woman’s Film. British Film Institute. Londres.
    KLINGER, Barbara. Melodrama and Meaning: History. Culture and the Films of Douglas Sirk. Bloomington: Indiana University Press. 1994.
    MERCER, John. Melodrama: Genre, Style and Sensibility (Short Cuts), p.78-111. Columbia University Press. Edição do Kindle.
    WILLIAMS, Linda. Melodrama Revisited. IN: BROWNE, N. Refiguring American Film Genres: History and Theory. Berkeley: University of California Press. 1998.