Trabalhos Aprovados 2019

Ficha do Proponente

Proponente

    Ricardo Jose de Barros Cavalcanti (ESPM)

Minicurrículo

    Mestre em Comunicação, Imagem e Informação na linha de pesquisa da Análise e experimentação da imagem e do som UFF (2002). Foi Sócio Diretor da Plural Filmes e membro da Direção Pedagógica da Escola EDEM, onde foi professor de cinema de Ensino Fundamental e Médio. Atualmente é Professor Adjunto I da ESPM, ministrando disciplinas ligadas à linguagem e produção audiovisual, cinema documentário e história do cinema. CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/8813995527159572

Ficha do Trabalho

Título

    Clandestinos: memórias/histórias de uma específica espectatorialidade

Seminário

    Exibição cinematográfica, espectatorialidades e artes da projeção no Brasil

Resumo

    Este trabalho tem como objetivo investigar a história/memória de espectadores clandestinos do final da década de 1960 à de 1990, passando pela ditadura civil militar até a chegada dos complexos de salas no modelo multiplex.
    Esta investigação, inserida no campo denominado “histórias de cinema”, se utiliza de entrevistas semiestruturadas com homens e mulheres de diferentes faixas etárias que narraram as memórias de suas idas clandestinas ao cinema, e dos espaços que abrigaram essas experiências.

Resumo expandido

    Esse trabalho tem como objetivo investigar a história e a memória de espectadores clandestinos, numa época específica, final da década de 1960 e as de 1970, 1980, período da ditadura civil militar no país, e ainda no final dos anos 1990, com a chegada dos primeiro complexos de salas no modelo multiplex. O recorte abrange quatro categorias distintas de possíveis espectadores clandestinos:
    A primeira categoria diz respeito àqueles jovens, sem distinção de sexo, que experimentaram quase que um rito de passagem como espectadores clandestinos, falsificando suas identidades estudantis, numa ação que visava burlar à censura etária de filmes impróprios às suas faixas etárias — normalmente jovens com idade entre 12 e 15 anos e que tinham como objetivo o acesso à filmes com censura de 14 e 16 anos. Essa clandestinidade se dava em salas padrões de cinema e era normalmente feita em grupos onde haviam tanto jovens com idade inferior à censura do filme como outros com idade adequada.
    Segunda categoria trata de um outro tipo de rito de passagem de jovens do sexo masculino, com idade aproximada entre 12 e 17 anos, que iam buscar acesso às suas primeiras “experiências sexuais”, através de uma cinematografia específica ligada a um conteúdo erótico, tanto com os filmes de pornochanchadas nacionais como com os pornôs estrangeiros. Essas vivências aconteciam em um modelo específico de salas de cinema, os “poeiras”, que possibilitavam esse acesso.
    A terceira categoria se aplica a jovens com idade entre 16 e 25 anos, que tinham acesso a sessões, também clandestinas como os próprios, de filmes políticos, ou mesmo de simplesmente de arte, mas que eram vedados à exibição pública pelo departamento de censura da época, justamente pelo seu conteúdo.
    A quarta categoria, mais recente, coincide, e se torna possível, a partir da instalação das primeiras salas multiplex. São jovens, de ambos os sexos, que entravam em uma das salas desses complexos e ao final da sessão para a qual haviam pago ingresso, ou um pouco antes disso, clandestinamente, através de diverso artifícios, se transferiam para outra sala do mesmo complexo tendo acesso a filmes para os quais não haviam pago ingresso e, diversas vezes, também impróprios às suas faixas etárias, estabelecendo assim uma dupla “clandestinidade”
    A pesquisa se coloca dentro de um campo recente do debate nos estudos do cinema que tem se denominado como “histórias de cinema” — e não “História do Cinema”, como pontuou o professor João Luiz Vieira em sua palestra de encerramento 2º Seminário Modos de Ver, realizada em 10 de outubro de 2018 na ESPM Rio — e tem como metodologia pesquisa qualitativa através de entrevistas semiestruturadas, registradas em vídeo, com esses clandestinos, hoje jovens senhores e jovens adultos. A pesquisa, que resultará também num produto audiovisual, se coloca dentro de um campo recente do debate nos estudos do cinema que tem se denominado como “histórias de cinema” — e não “História do Cinema”, como expôs o professor João Luiz Vieira em sua palestra de encerramento 2º Seminário Modos de Ver, realizada em 10 de outubro de 2018 na ESPM Rio — e tem como metodologia de pesquisa a abordagem qualitativa, através de entrevistas semiestruturadas com esses jovens clandestinos, hoje jovens senhores e jovens adultos. Buscamos registrar suas lembranças do contexto histórico político da época em que viveram como espectadores clandestinos, suas histórias de cinema em suas idas às exibições de filmes, e resgatar o sentido que essas histórias de cinemas toma individualmente em suas memórias, traçando uma relação entre a construção da subjetividade e a experiência coletiva. Pretendemos, por fim, relatar as histórias de suas memórias desses espaços específicos que os recebiam em clandestinidade: os tradicionais cinemas de rua, os marginais cinemas poeira, os modernos e contemporâneos multiplex, quando esses estavam em sua fase de implantação e ainda vulneráveis a essas transgressões.

Bibliografia

    AVELLAR, José Carlos e outros. Anos 70 – Cinema. Rio de Janeiro: Europa, 1980.
    COSTA, Luiz Claudio da. Cinema Brasileiro (anos 60-70) Dissimetria, Oscilação e Simulacro. Rio de Janeiro: 7Letras, 2000.
    HARRIS, Ella. Exploring pop-up cinema and the city: Deleuzian encounters with secret cinema’s popup screening of The Third Man. Disponível em: Acesso em: 18 abr. 2019.
    RICCI, Steven. Cinema and Facism: Italian film and society, 1922 – 1943. California: University of California Press Berkeley and Los Angeles, 2008.
    STAN, Robert. O espetáculo interrompido: literatura e cinema de desmistificação.
    XAVIER, I. Alegorias do subdesenvolvimento: cinema novo, tropicalismo e cinema marginal. São Paulo: Cosac Naify, 2012.