Trabalhos Aprovados 2019

Ficha do Proponente

Proponente

    Maria Guiomar Pessoa de Almeida Ramos (ECO/UFRJ)

Minicurrículo

    Guiomar Ramos, professora de Graduação e de Pós-Graduação em Tecnologias e Linguagens da Comunicação, na UFRJ. Coordena o grupo de extensão Cinerama Cineclube da Praia Vermelha. É pesquisadora de cinema, com mestrado e doutorado pela Escola de Comunicação da Universidade de São Paulo, publicou entre outros o livro “Um cinema brasileiro antropofágico (1970-74)” (FAPESP, 2007). Documentarista, dirigiu os curtas Pixador (2000), Café com leite (água e azeite?) (2007),o longa Por parte de Pai, (2017)

Ficha do Trabalho

Título

    Cinema Experimental, Cinema Expandido, Documentário: entre o Arquivo e o Found-footage

Seminário

    Interseções Cinema e Arte

Resumo

    Tendo a obra inicial do artista multimídia Arthur Omar como baliza, apresentar o Coletivo Anarca Filmes através de 2 curtas-metragens destacando a presença do chamado Cinema Expandido. Estabelecer distâncias e continuidades entre a prática de alguns filmes dos 70’s de Omar e as produções da Anarca, destacando aspectos que salientam a performance e a utilização de um material de arquivo re-significado como found-footage.

Resumo expandido

    Destacar o Documentário Experimental e o chamado Filme Expandido, apontando para o material de arquivo utilizado como found-footage, com a presença da performance, a partir de um diálogo entre as produções dos anos 1970 do realizador multimídia Arthur Omar e de alguns curtas-metragens contemporâneos do coletivo carioca: Anarca Filmes. Nos primeiros curtas de Omar existe uma desconstrução do formato documentário a partir de uma nova utilização do Documento na busca pelo Experimental. Podemos encontrar processo semelhante na criação dos curtas da Anarca Filmes. Tipo de criação realizado de forma artesanal, onde além de uma descontextualização das cenas ali apresentadas, estas são expostas através do corpo performático. A intenção no resultado dessas experiências é a diversidade de texturas e a possibilidade de uma inversão de sentido das imagens originais. Para este paralelo entre a obra inicial do diretor multimídia e os curtas da Anarca foram escolhidos: O anno de 1798 (1975), Tesouro da Juventude, (1977) de Arthur Omar e Edna de Edna Toledo e Tropikal Terrorista, de Lorran Dias, (2018). A realização se dá a partir de suportes muito diversos: 35mm para Omar e câmeras de cyber shot, 4k, celular para a Anarca Filmes, formas representativas de épocas bem distintas. A existência de formatos díspares que tem como base a película e o vídeo, nos remete aos anos 1990, quando os limites entre esses dois suportes eram vistos dentro de uma fronteira rígida, significativa de escolas distintas: a vídeo-arte se colocava de um lado oposto ao das experiências provindas do registro cinematográfico. Com a imediata transportabilidade das imagens em movimento após a digitalização, passa-se tudo para um mesmo território: a diferença está nas texturas. Com o processo de digitalização, amplia-se as possibilidades de circulação desses produtos, para além dos cine-clubes e das galerias de arte, desembocando em lugares físicos como garagens, balcões ou espaços virtuais. A Anarca Filmes, coletivo formado por alunos (e ex alunos da ECO/UFRJ), que se amparam para realizar filmes de urgência, no sentido de uma produção de baixíssimo custo, se enquadra nesse tipo de exibição. Este grupo tem apresentado suas produções em lugares que não são exatamente galerias de arte mas que funcionam como tal, como a Casa NEM (lugar de proteção a LGBTs desabrigados), o Espaço Saracura e a Voide de Madureira. Suas criações têm uma demanda de enfrentamento político, relacionada a questões do universo racial e LGBT ou da própria realidade periférica. Esse teor crítico, e eminentemente político está também presente nos curtas de Omar. O processo inventivo, tem também em comum, a fragmentação, a colagem, o reemprego de imagens e a presença da performance, de maneira a criar um viés provocativo capaz de re-significar o documento exibido. Em O anno de 1798, (1975), sobre a conhecida conjuração bahiana, em meio a algumas referências mais diretas ao tema, vemos imagens telejornalísticas de um parto-cesariano com muito sangue, representar metaforicamente o que teria sido o nascimento desta revolta popular, um nascimento forçado e visceral. Em Tesouro da Juventude (1977) o filme faz pulsar fragmentos de documentários etnográficos exibidos na TV, através de efeitos especiais de fotografia, da música eletrônica e de remixagens sonoras do próprio diretor. Edna, num movimento performático da realizadora, cria um plano ininterrupto de quinze minutos para representar sua doença através de infinitas caixas de remédios utilizadas para a cura. Tropikal Terrorista parte de imagens de arquivo das manifestações de 2013 descontextualizando-as e criando potência para uma performance física pelas ruas do Rio de Janeiro. Ao apresentar este estudo sobre o experimentalismo, a apresentação almeja lançar um novo olhar para o audiovisual contemporâneo, destacando no aspecto desconstrutor destas produções, a presença do found footage.

Bibliografia

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