Trabalhos Aprovados 2019

Ficha do Proponente

Proponente

    Márcia Gomes Marques (UFMS)

Minicurrículo

    Doutora em Ciências Sociais pela Pontifícia Università Gregoriana, Roma, é professora do Curso de Audiovisual e do Mestrado em Comunicação da UFMS. Socióloga, formada pela PUC do Rio de Janeiro, e mestre em Comunicación Social pela Pontifícia Universidad Javeriana – Bogotá, tem trabalhos publicados nas áreas de Audiovisual e Estudos de Recepção.

Ficha do Trabalho

Título

    Representação e memória cultural em Cabeça a Prêmio, de Marco Ricca.

Resumo

    Este trabalho discute a relação entre as matrizes culturais e os formatos industriais em filmes que lançam mão de tradições genéricas que aludem à memória cultural do popular global, associadas com uma matéria da representação que introduz matrizes culturais diversas, combinando o tipo com o específico, indigenizando aspectos da narrativa. Desde o modelo das mediações, são analisados os aspectos temáticos e genéricos da transposição que Cabeça a Prêmio faz do romance homônimo, de Marçal Aquino,

Resumo expandido

    Um dos elementos que continua interessando ao estudo da produção midiática é a questão da representação. No caso dos produtos das mídias audiovisuais, essa questão tem, necessariamente, um duplo desdobramento: o problema da representação realizada pela linguagem e pelos recursos expressivos das mídias, que camuflam, de certa forma, a intervenção que realizam na realidade social ao selecionar e combinar imagens de objetos, de cenários e de personagens para compor suas narrativas; e as representações sociais construídas pela matéria da representação e pela estrutura do imaginário presentes na composição das obras ou produtos midiáticos. Se as imagens e sons das narrativas audiovisuais são tidos como evidência ou testemunho da existência do ocorrido, mitigando o que têm de construto e proposta, as representações sociais realizadas pela seleção dos atores sociais, das espacialidades e dos conflitos são considerados, muitas vezes, como a evidencia da ficcionalidade das obras, não se atendo, nesse caso, às maneiras como a ficção se conecta com a realidade e a imaginação (ISER, 2013). Com relação às narrativas midiáticas, vale ressaltar o sentido de continuidade que apresentam nos vínculos que explicitam ter com obras anteriores, com as contemporâneas e incluso com o que está em gestação: no dizer de Dufrenne (1982, p.16), a obra nova “[…] abre uma história: vem dar sentido às obras precedentes e reclama outras obras que permitirão compreendê-la à força de a retomarem, e que acabarão por se desligar dela”. No caso das obras adaptadas, esse vínculo é, mais uma vez, duplo: com a tradição do campo artístico e com as questões temáticas e estilísticas de seu tempo, por um lado, e com o texto-fonte do qual se deriva e com o qual necessariamente realizará um debate de ideias, por outro. Nesse caso, portanto, há uma articulação entre as questões (matrizes que se articulam em memória cultural) presentes no espaço-tempo de criação da obra com o debate que estabelece com o espaço-tempo (como memória cultural) da obra anterior, o que implicará em uma combinação de resgate e atualização. Somados a isso, a intenção narrativa da obra expressa seus criadores e às imagens de público que busca interpelar, suas competências, gostos e interesses, que se relacionam, também, a uma espacialidade e a uma temporalidade na qual as matrizes se plasmam como memória cultural. A questão posta nesse trabalho, então, é a relação entre as matrizes culturais e os formatos industriais (MARTÍN BARBERO, 2003) em filmes que, como Cabeça a Prêmio, lançam mão de tradições genéricas que aludem à memória cultural do popular global, associadas com uma matéria da representação que introduz matrizes culturais diversas, combinando o típico, a convenção, com o regional e o específico, o que indigeniza (LULL, 1997) aspectos da narrativa proposta. Desde o modelo das mediações, de Martín Barbero, esse estudo analisa os aspectos temáticos e genéricos da transposição que Cabeça a Prêmio faz do romance homônimo, de Marçal Aquino, para o audiovisual, de Marco Ricca. Entre os aspectos tratados estão a intermidialidade, a intertextualidade, a porosidade e a atualização que o audiovisual realiza para representar – como tratamento fílmico – e propor uma representação a partir dos conflitos e atores sociais em uma narrativa de gênero. A análise contrapõe o filme a outros três, desde seus aspectos temáticos e composicionais, que são: Os matadores, de Beto Brant, também adaptado de um conto de Marçal Aquino; The Killers, de Don Siegel, adaptado de um conto de Ernest Hemingway, e L’Assassino, de Elio Petri.

Bibliografia

    AQUINO, Marçal. Cabeça a prêmio. São Paulo: Cosac & Naify, 2003.
    DUFRENNE, Mikel. A Estética e as Ciências da Arte, vol.2. Amadora, Portugal: Livraria Bertrand, 1982.
    ISER, Wolfgang. O Fictício e o Imaginário. Perspectivas de uma Antropologia Literária. 2. ed. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2013.
    LULL, James. Medios, comunicación, cultura. Buenos Aires: Amorrortu Editores, 1997.
    MARTÍN BARBERO, Jesús. Ofício de Cartógrafo. Santiago, Chile: Fondo de Cultura Económica, 2003.
    _____________. De los medios a las mediaciones. México: Antrophos Editorial, 2010.
    MARTIN, Marcel. A linguagem cinematográfica. São Paulo: Editora Brasiliense, 2011.
    BRANT, Beto (diretor). Os Matadores. São Paulo: Casa de Produção, 1997. 93 min.
    RICCA, Marco (director). Cabeça a Prêmio. São Paulo: Europa Filmes, 2009. 105 min.
    SIEGEL, Don (diretor). Os Assassinos (The Killers). Universal City Studios, 1964. 94 min.
    PETRI, Elio (diretor). O Assassino (L’Assassino). Aguila Films, 1961. 94 min.