Trabalhos Aprovados 2019

Ficha do Proponente

Proponente

    Liliane Leroux (UERJ)

Minicurrículo

    Professora e pesquisadora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)- campus Baixada Fluminense. Socióloga (IFCS/UFRJ), Doutora em Educação (UERJ), Pós-doutorado em Comunicação e Cultura em Periferias Urbanas (UERJ). É Procientista em Artes (FAPERJ/UERJ), criadora e uma das coordenadoras do NuVISU – Núcleo de Estudos Visuais em Periferias Urbanas (CNPq/UERJ). Co-coordenadora do ST Cinemas Pós-Coloniais e Periféricos na SOCINE e do GT Cinemas Pós-Coloniais e Periféricos na AIM – Associ

Ficha do Trabalho

Título

    Poéticas e práticas de recusa no cinema periférico feito por mulheres

Seminário

    Cinemas pós-coloniais e periféricos

Resumo

    Este trabalho nasce de uma busca por, não apenas uma metodologia, mas uma prática que permita pensar o cinema em uma perspectiva anti-colonial. Nele, apresento os impasses que encontrei pesquisando o cinema produzido nas favelas e periferias do Rio de Janeiro, o encontro recente com o trabalho – acadêmico e artístico – da filósofa Denise Ferreira da Silva, e os desdobramentos que venho experimentando a partir daí em processos e práticas de pesquisa com mulheres que fazem cinema nas periferias.

Resumo expandido

    Este trabalho nasce de uma angústia e da busca por, não apenas uma metodologia, mas uma prática que permita pensar o cinema e as artes visuais em uma perspectiva anti-colonial. Nele, apresento os impasses que encontrei ao longo de mais de 10 anos pesquisando o cinema produzido nas favelas e periferias do Rio de Janeiro, o encontro recente com o trabalho – acadêmico e artístico – da filósofa, brasileira, mulher, negra, Denise Ferreira da Silva, e os desdobramentos que venho experimentando a partir daí em processos e práticas de pesquisa com mulheres que fazem cinema e video-arte nas periferias.

    Desde 2004 tenho acompanhado o percurso do cinema feito em periferias e favelas do Rio de Janeiro, do surgimento das primeiras Escolas Populares de Audiovisual até a cena atual de produção audiovisual independente, enfatizando os aspectos estéticos, políticos e formativos que marcaram a entrada e a afirmação dessas novas produções e autores no campo do cinema, destacando seus desdobramentos no terreno da representação. Revezando entre períodos de imersão etnográfica, estudos de caso e mapeamentos, cada momento da pesquisa buscou bases analíticas que fossem capazes de dar conta do que estava ali a cada vez. O “que estava ali” – as associações, os atos e táticas de contra-imagens de crescente complexidade que os cineastas das periferias produzem, bem como as antigas e renovadas formas de exclusão por parte do campo da arte e da mídia – demandava pensar a diferença, a desigualdade, as hierarquias e as violências, sem a imposição de uma camada adicional de violência de minha parte: a crítica, o juízo, a interpretação, a representação.

    Em seus trabalhos iniciais, Denise Ferreira da Silva rastreia as bases do pensamento moderno para descobrir a impossibilidade de, nessa chave, pensarmos a diferença e, a partir dela, uma ética que radicalmente rejeite a exclusão, a obliteração e o extermínio de corpos negros e periféricos. Em trabalhos e práticas artísticas subsequentes, demonstra como até mesmo as abordagens pós-coloniais não tem sido totalmente capazes de se libertar da gramática moderna, em especial por realizarem, ainda, um trabalho de crítica (formal e analítico), seguindo o legado kantiano. Em textos e performances, a autora abre novos caminhos não apenas para pensarmos o mundo “tal como o conhecemos”, mas para criarmos outro, que seja o seu contrário.

    Neste encontro, apresento uma experiência a partir das propostas teóricas e artísticas de Denise Ferreira da Silva, baseadas na intuição, no imagear e na cura, para pensar – em conjunto com as cineastas – aspectos politicos envolvidos no ato de fazer cinema nas periferias hoje. A experiência se apoia em dois conceitos (que também são práticas) que Denise introduz, o de “confrontação” e o de “poética”. Confrontação é uma proposta que desenvolve a partir de uma performance de Yasmine Eid-Sabbagh, como recusa à representação. Nessa dupla condição de quem está ao mesmo tempo dentro e fora de dois “mundos” (como é o caso tanto do pesquisador quanto do artista), para escapar da representação, parecem ser necessárias várias camadas de recusa – que nos tornam improdutivos, “perdendo” tempo, experimentando -, a recusa da violência de apresentar (tornar pública) imagens do outro, a recusa da violência que é fazer isso no contexto institucional artístico e acadêmico , e a recusa em significar no espaço/tempo . Poética, ou “po-ética” (“poethical”, com “h”), por sua vez, é um termo que a autora toma emprestado de Joan Reetallack para dar conta de um método – oposto à crítica – que é material (e não formal) e opera por composição, decomposição e recomposição. É o imagear a nossa vida no mundo como se já fosse, desde já, um mundo diferente, uma outra vida possível que desdobre uma outra ética.

Bibliografia

    FERREIRA DA SILVA, Denise. In the Raw. e-flux Journal #93. Setembro 2018.

    _________________________. Reading Art as Confrontation. e-flux Journal #65. Maio-Agosto 2015.

    _________________________. Sobre Diferença sem Separabilidade. Catálogo da 32a Bienal de São Paulo. 2016.