Ficha do Proponente
Proponente
- RAFAEL ROSINATO VALLES (UFPEL)
Minicurrículo
- Docente na Universidade Federal de Pelotas (UFPEL). Doutor em Comunicação Social pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PPGCOM/PUCRS). Foi bolsista da CAPES (2014-2018) durante o doutorado e realizou Doutorado Sanduíche (PDSE-CAPES), no Departamento de Periodismo y Comunicación Audiovisual, na Facultad de Humanidades, Comunicación y Documentación, na Universidad Carlos III de Madrid, Espanha. Mestre em Cinema Documentário pela Fundación Universidad del Cine (FUC/Argentina).
Ficha do Trabalho
Título
- La Generación del 60 e o legado da obra teórica de Simón Feldman
Seminário
- Teoria dos Cineastas
Resumo
- A trajetória cinematográfica de Simón Feldman foi marcada tanto pelos filmes que realizou, como pela sua obra teórica e atuação acadêmica. Ao publicar o livro “La Generación del 60” (1990), ele conseguiu unir os seus primeiros passos como realizador e a reflexão sobre o legado de uma geração que aportou novos enfoques temáticos, estilísticos e técnicos ao cinema argentino. Neste trabalho, buscaremos analisar como ele procurou relacionar a sua atuação como cineasta, em relação a sua obra teórica.
Resumo expandido
- Simón Feldman (1922-2015) foi um cineasta que construiu uma obra que esteve diretamente vinculada ao novo cinema argentino que despontou entre fins dos anos cinquenta e início dos anos sessenta. Autor de filmes como “El negoción” (1959) e “Los de la mesa 10” (1960), Feldman – em conjunto com autores como Manuel Antín, Rodolfo Kuhn, José Martínez Suárez, Fernando Birri, Leonardo Favio, entre outros -, foram responsáveis por aportar novos enfoques temáticos, estilísticos e técnicos ao cinema argentino. Conhecidos como La Generación del 60, esses realizadores – que não buscaram propriamente construir um movimento -, acabaram rompendo com os modos de produção atrelados aos cinemas de estúdio que predominavam no cinema argentino desde a década de trinta.
No caso de Feldman, além de pertencer a essa geração, também é necessário assinalar uma outra particularidade. Sua atuação no âmbito cinematográfico não se restringiu a dirigir filmes. Com o passar dos anos, ele também consolidou uma reconhecida trajetória acadêmica, tanto pelas atividades e cargos que ocupou, como também pelos livros que escreveu. É o caso de obras como “Realización cinematográfica – Análisis y Practica”, “Director de Cine – técnicas y herramientas”, entre outros, que buscaram transpor para a teoria, a concepção cinematográfica que ele possuía sobre os ofícios de diretor e roteirista.
No ano de 1990, Feldman buscou escrever um livro que não somente fez um resgate histórico sobre a geração ao qual pertenceu, mas que também proporcionou uma reflexão sobre o legado dessa geração para a história do cinema argentino. Ao analisar os fatores para a ascensão destes cineastas, as características bastante heterogêneas que cada realizador possuía nas suas origens e nas propostas estilísticas e temáticas dos seus filmes, “La Generación del 60” procura abarcar uma diversidade de fatores que afirmaram esse período do cinema argentino.
Além disso, Feldman também procurou aportar uma reflexão sobre o sentido dessa obra ter sido escrita “por alguém que participou em toda a trajetória dessa geração”, o que possibilita, segundo o autor, “a originalidade de preparar um material em primeira mão” (Feldman, 1990, p.09, trad. nossa). Ele questiona se a história do cinema contada pelos livros não seria uma “história ‘escrita’ do cinema”, na medida em que muitos dos livros até então publicados não possuíam a fonte direta dos cineastas e profissionais relacionados a realização dos filmes. Como Feldman afirma, “a visão direta é substituída então por textos, crônicas e juízos que (…) servem de segunda mão para os investigadores” (Feldman, 1990, p.08, trad. nossa). “La Generación del 60” acaba se tornando assim um livro que reivindica um entendimento sobre a teoria dos cineastas.
Mesmo não sendo um relato escrito em primeira pessoa, Feldman reivindica a sua posição nesse contexto. Através do distanciamento histórico, assume um conhecimento de causa sobre as conquistas e os fracassos dessa geração de cineastas, assim como aponta caminhos para entendermos como o novo cinema argentino realizado a partir de fins dos anos noventa possuí muitos pontos em comum com essa geração de cineastas. Ler “La Generación del 60” é também identificar de que forma filmes como “Pizza, birra e faso” (Caetano; Stagnaro, 1998) e “Mundo Grua” (Trapero, 1999), resgataram questões temáticas e estilísticas que foram trabalhadas trinta anos antes pela geração de Feldman.
É a partir dessas e outras questões, que buscaremos analisar como o livro “La Generación del 60” é importante não somente como documento histórico sobre um período na história do cinema argentino, mas sobretudo como um documento que reflete uma relação entre a práxis cinematográfica e a teoria, a partir de um autor que transitou continuamente por ambos caminhos.
Bibliografia
- BERNINI, Emilio. Ciertas tendencias del cine argentino – Notas sobre el “nuevo cine argentino” (1956-1966). Revista Kilometro 111.
ESPAÑA, Claudio (comp.). Cine argentino – Industria y clasicismo 1933/1956. Buenos Aires: Fondo Nacional de las Artes, 2000.
_______________Cine argentino – Modernidad y vanguardias 1957/1983 (Vol. 01). Buenos Aires: Fondo Nacional de las Artes, 2000.
_______________Cine argentino – Modernidad y vanguardias 1957/1983 (Vol. 02). Buenos Aires: Fondo Nacional de las Artes, 2000.
FELDMAN, Simón. La generación Del 60’. Buenos Aires, Editorial Legasa, 1990.
PEÑA, Fernando Martin (Ed.). Generaciones 60/90. Cine argentino independiente. Buenos Aires: Fundación Eduardo F. Costantini, 2003.
VALLES, Rafael. Fotogramas de la memoria – Encuentros con José Martínez Suárez. Buenos Aires: ENERC/INCAA, 2014.
WOLF, Sergio (comp.). Cine Argentino: la otra historia. Buenos Aires, Letra Buena, 1992.