Ficha do Proponente
Proponente
- Natália Alves dos Reis Silva (UFJF)
Minicurrículo
- Mestranda em Cinema e Audiovisual pelo programa de pós-graduação em Artes, Cultura e Linguagens do Instituto de Artes e Design da Universidade Federal de Juiz de Fora.
Ficha do Trabalho
Título
- Cinema experimental brasileiro e a experiência do exílio: Cartografias
Resumo
- O trabalho se propõe como investigação das práticas experimentais no exílio de realizadores brasileiros durante o período da ditadura militar. A partir de obras como: Lágrima Pantera, a Míssil (1972) de Júlio Bressane, Forofina (1973) de Sylvio Lanna e O Demiurgo (1972) de Jorge Mautner, pensar o exílio enquanto experiência permeadora da criação artística.
Resumo expandido
- Etimologicamente, exílio e experiência são palavras que se atravessam. A primeira fala de deslocamento, ser colocado (ou colocar-se) para fora de um lugar ou condição habituais. A experiência por sua vez implica em retirar do universo exterior um novo saber, correr riscos no contato com o real, de certa forma, também sair de um lugar comum. A pergunta central desse trabalho perpassa essas duas direções: De que maneira a experiência do exílio se faz presente no cinema realizado por brasileiros exilados durante a ditadura no país? Mais precisamente nas produções experimentais de Júlio Bressane (Lágrima Pantera,1972), Sylvio Lanna (Forofina, 1973) e Jorge Mautner (O Demiurgo, 1972).
Geraldo Veloso – montador, diretor, cronista, figura fundamental do chamado cinema marginal – em seu texto memorial “Por uma arqueologia do ‘outro’ cinema” relata o êxodo no início dos anos 1970 de diretores como Rogério Sganzerla, Neville d’Almeida, José Sette de Barros e os já citados, Júlio Bressane, Sylvio Lanna e o estreante Jorge Mautner. Diante da hostilidade crescente de um regime que minava grande parte da produção cultural brasileira, Nova Iorque, Londres, Paris, Amsterdã e alguns países do continente africano se tornaram por um breve período de tempo morada e, em parte, material fílmico para esses realizadores.
O que é marcante no relato de Veloso – e que aqui será tratado como objeto de investigação – é a afirmação de que no exílio vida e arte se tornam cada vez mais indissociáveis e a noção da criação como forma de existência no desconhecido: “A vida torna-se uma arte de viver. O cinema se banaliza, como processo procurado compulsivamente. Passa a ser ponto de comunicação.” (VELOSO, 1983). Sob um olhar mais atento é possível inferir que o experimental nessas produções não se comporta apenas enquanto método – ensaístico, fragmentário, poético – mas também como experiência/vivência individual e coletiva. A partir dessa constatação, o presente trabalho não busca apenas ser um resgate histórico de um cinema debandado, mas também traçar linhas e percursos que aproximem as noções de experiência, experimentação e exílio em um período tão repreensivo politicamente e ao mesmo tempo tão rico culturalmente.
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