Ficha do Proponente
Proponente
- Jamer Guterres de Mello (UAM)
Minicurrículo
- Docente no Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Anhembi Morumbi (PPGCOM-UAM), onde desenvolve pesquisa sobre as dimensões micropolíticas no documentário contemporâneo. Doutor em Comunicação e Informação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PPGCOM-UFRGS), com estágio de Doutorado Sanduíche pela Universitat Autònoma de Barcelona (UAB) e Pós-Doutorado (PNPD-CAPES) pelo PPGCOM-UAM. Em 2017 organizou o livro A(na)rqueologias das Mídias (Editora Appris).
Ficha do Trabalho
Título
- Harun Farocki entre a estética dos games e a experiência do cinema
Seminário
- Teoria dos Cineastas
Resumo
- Em Parallel (2014), Harun Farocki explora os aspectos visuais das novas tecnologias e as condições de representação e perspectiva da imagem digital e convida o espectador a seguir um processo de análise comparativa com foco especulativo entre as imagens dos games e do cinema. Este trabalho pretende examinar o método analítico e arqueológico de Farocki, buscando discutir as relações teóricas apontadas pelo cineasta entre a estética dos games e a experiência estética do cinema.
Resumo expandido
- Em Parallel (2014), último trabalho realizado pelo cineasta alemão Harun Farocki, o artista produz uma arqueologia das imagens digitais explorando as condições de visibilidade que se alteram no decorrer do tempo, deduzindo algumas dimensões epistemológicas e histórico-culturais das formas visuais dos jogos digitais. A intenção de Farocki é examinar as imagens originadas por novas tecnologias e, sobretudo, a intensa influência estética e política que produzem em nosso cotidiano.
O objetivo deste trabalho é discutir, a partir do método analítico e arqueológico desenvolvido por Farocki, algumas questões sobre as condições de produção, distribuição e consumo das imagens em um contexto para além do dispositivo cinematográfico. O foco do trabalho se debruça sobre a reflexão teórica que o próprio artista constrói a partir das mudanças processuais e perceptivas proporcionadas pelas transformações técnicas geradas por novas lógicas de criação e circulação das imagens a partir das tecnologias eletrônicas e digitais. Podemos perceber que o interesse do cineasta é descrever teoricamente de que maneira as imagens se repetem em diferentes meios de produção e distribuição técnica, quais são suas permanências e suas latências, e estabelecer suas regularidades epistêmicas (FOUCAULT, 2010) em diferentes meios de expressão.
Farocki explora os aspectos visuais das novas tecnologias e as condições de representação e perspectiva da imagem digital como um dispositivo performático. Ou seja, uma função estruturante do método arqueológico de Farocki é justamente apreender momentos de performatividade das imagens. Essa perspectiva representacional é explorada pelo caráter operacional das imagens em que a representação nos games ultrapassa um caráter de mimese, comum ao cinema. Christa Blumlinger (2010) denomina o método analítico e arqueológico de Farocki como uma pedagogia performática, um mecanismo teórico e didático interessado na performance e na operacionalidade das imagens. Em Parallel, Farocki convida o espectador a seguir um processo de análise comparativa com foco especulativo entre as imagens dos games e do cinema. Uma questão colocada na obra é: até que ponto os jogos de computador atuais buscam acompanhar e até mesmo transcender a experiência estética do cinema? Em uma ampla discussão sobre a natureza e os limites da superfície plana dos mundos criados por computador, Farocki identifica uma essência normativa dos possíveis mundos computadorizados que cria dispositivos de controle exatamente como em nossa realidade. Os games seriam uma ampliação do mundo real? Desta forma reproduzem as fronteiras e limites deste mundo? Afinal de contas, onde este mundo termina? Farocki tenta demonstrar também as características de operação dos objetos virtuais em função da ação da câmera, determinada pelo sujeito que a manipula nos games. Há, por exemplo, a possibilidade de fazer crateras em um pedestal, conforme a realidade, mas há também a possibilidade de atravessar esse pedestal com a simulação de uma câmera de cinema. Aqui, há uma espécie de pensamento ontológico sobre as condições de visibilidade do universo dos games. Como a imagem pode ser criada, definida e processada no interior particular da linguagem dos games em seus próprios regimes técnicos e estéticos?
Este trabalho é fruto de uma investigação mais ampla sobre a obra de Harun Farocki, que tem sido apresentada em processo nos últimos encontros da Socine, em torno de temas como a montagem de tempos heterogêneos e descontínuos a partir das imagens de arquivo; os limites do visível e do enunciável nas diversas camadas da imagem; a relação entre cinema e videoinstalação; e no uso da imagem como mecanismo fundamental dos aparatos de guerra. Trata-se de uma investigação que agora se debruça sobre o caráter teórico e minucioso de análise das imagens digitais, o que podemos caracterizar como uma arqueologia da cultura visual contemporânea a partir de seu pensamento moldado pelas teorias do cinema.
Bibliografia
- BLÜMLINGER, Christa. Harun Farocki: estratégias críticas. In: MOURÃO et al. (orgs.). Harun Farocki: por uma politização do olhar. São Paulo: Cinemateca Brasileira, 2010, pp. 148-161.
DOANE, Mary Ann. La emergencia del tiempo cinemático: la modernidade, la contingencia y el archivo. Murcia: Cendeac, 2012.
ELSAESSER, Thomas. Cinema como arqueologia das mídias. São Paulo: Edições Sesc São Paulo, 2018.
FAROCKI, Harun. Desconfiar de las imágenes. Buenos Aires, Argentina: Caja Negra, 2013.
FAROCKI, Harun. Influências transversais / montagem flexível. In: YOEL, Gerardo. Pensar o cinema: imagem, ética e filosofia. São Paulo: Cosac Naify, 2015, pp. 227-234.
FERNÁNDEZ, Diego (Org.). Sobre Harun Farocki: la continuidade de la guerra a través de las imágenes. Santiago: Metales Pesados, 2014.
FOUCAULT, Michel. A arqueologia do saber. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2010.
RUBENTISCH, Juliane. Estética de la instalación. Buenos Aires: Caja Negra, 2018.