Ficha do Proponente
Proponente
- Andreson Silva de Carvalho (ESPM-RJ)
Minicurrículo
- Doutor pelo PPGCOM da Universidade Federal Fluminense, na linha de pesquisa de Estudos de Cinema e Audiovisual. Já atuou como professor nos cursos de cinema da UFF e da Escola de Cinema Darcy Ribeiro. É atual professor de produção e edição de som nos cursos de cinema, jornalismo e design da Escola Superior de Propaganda e Marketing do Rio de Janeiro.
Coautor
- Talitha Gomes Ferraz (ESPM-Rio/PPGCine-UFF)
Ficha do Trabalho
Título
- Acessibilidades em cinemas: entre novas estruturações e experiências.
Seminário
- Exibição cinematográfica, espectatorialidades e artes da projeção no Brasil
Resumo
- Analisamos as condições de acesso de pessoas com deficiência à sala de cinema, no que se refere principalmente à inserção da audiodescrição de acordo com demandas trazidas pela Instrução Normativa 128/2016 regulamentada pela ANCINE. Investigamos como as ambiências e as estruturações da sala de cinema podem ser impactadas em vista de alterações que se sobrepõe ao caráter coletivo da experiência de espectatorialidade em prol do atendimento a demandas particulares de deficientes.
Resumo expandido
- A sala de cinema é um dispositivo técnico-midiático e sociocultural destinado à exibição, recepção e fruição coletiva de filmes, cujas configurações e modelos são historicamente afetados por constantes rearranjos das tecnologias de projeção de imagem e som, e cernes sociais, culturais, econômicos/mercadológicos, políticos, urbanos e geográficos, locais e globais, que se agenciam aos seus usos e consumos. Portanto, uma reflexão sobre as condições de acesso a este equipamento deve estar atenta às formas como o público se engaja tanto nas experiências de espectatorialidade e recepção (ambiência, percepção, sensorialidades no que diz respeito ao “estar no espaço”, e inteligibilidade, participação emocional e identificação no que se refere ao filme) como na experiência de ida ao cinema (cinemagoing).
Neste trabalho temos o interesse em especificar tais condições de acesso por meio de uma análise dedicada às acessibilidades. Pretendemos nos filiar, num primeiro momento, a uma noção mais ampla de acessibilidade, que compreende igualmente a existência da figura de explicadores de filmes, cartelas, músicos, sonoplastas, cantores e atores localizados à frente ou atrás das telas (elementos muito comuns em exibições de películas na época do cinema silencioso), legendagens e dublagens (necessárias após o advento do som), lanterninhas (para o auxílio à locomoção dentro das salas) etc.
Essas particularidades ingressam nos modos como caracterizamos e padronizamos o dispositivo cinema e, da mesma forma, as categorias identitárias espectador e público cinematográficos. De certa maneira, aqui nos referimos a toda uma lista de arquétipos que, agenciados, ajudaram a sedimentar ao longo do tempo um conceito de sala de exibição mais vernacular, vinculado a um paradigma que vem sendo amiúde debatido (e reorientado) diante das rupturas, dessacralizações, desmaterializações e “transubstanciação” dos elementos da “instituição-cinema” a partir da entrada do digital e de novos meios de difusão audiovisual, tal como o VOD (GAUDREAULT e MARION, 2016).
No mesmo cenário de mudanças, assistimos também, em outro plano, a uma recontextualização sociocultural e política de maior visibilidade e inclusão de minorias, até então relegadas ao silenciamento e à marginalidade. A participação de grupos minoritários na agenda de acesso à educação e cultura irá descortinar urgências na reformulação de como até hoje se tem organizado os espaços construídos das cidades e as práticas de sociabilidade e lazer.
A Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Lei 13.146/2015) e os seus desdobramentos, que especificamente no âmbito do cinema se traduzem na Instrução Normativa 128/2016 regulamentada pela ANCINE, são um gatilho para fomentar novas formas de modelação das salas, tendo em vista as necessidades de adequação do dispositivo para atender a essa nova demanda.
Com a chegada das acessibilidades voltadas para pessoas com deficiência, novas estruturas serão disponibilizadas, entre elas, a audiodescrição (AD). Até então, o que havia nos cinemas relacionado à percepção sonora eram a dublagem e a legendagem de filmes. Sugerimos que as alternativas de acessibilidade suscitam o embate entre a fruição/espectatorialidade individual de pessoas com deficiência (onde localizamos a AD) e o modelo canônico de sala de cinema que pressupõe a experiência coletiva. Até que ponto podemos perceber mais uma mutação no seio da instituição-cinema com a inserção das acessibilidades entre as ambiências e estruturações da sala de cinema? Quais alterações isso traz para as sociabilidades e estatutos de espectatorialidade? Há uma aposta na individualização do público e do sentido coletivo da experiência do cinema? Longe de propor respostas, este trabalho se põe no encalço de pistas que aprofundem o tema da acessibilidade em salas de cinema e os critérios que caracterizam este equipamento e seus públicos.
Bibliografia
- BRASIL. Agência Nacional do Cinema. Dispõe sobre as normas gerais e critérios básicos de acessibilidade visual e auditiva a serem observados nos segmentos de distribuição e exibição cinematográfica. Instrução Normativa nº. 128, de 13 de setembro de 2016. Disponível em: . Acesso em: 19 abr. 2019.
GAUDREAULT, A., MARION, P. O fim do cinema? Uma mídia em crise na era digital. Campinas, São Paulo: Papirus, 2016.
ROGERS, M; MATAMALA, A; ORERO, P. Researching Audio Description: New Approaches. Barcelona: Palgrave Macmillan, 2016.
SOUZA, C. R; FREIRE, R. de L. A chegada do cinema sonoro ao Brasil. In RAMOS F. P; SCHVARZMAN S.(Org.). Nova História do Cinema Brasileiro – Vol. 1. São Paulo: Edições Sesc, 2018.