Ficha do Proponente
Proponente
- Ivan Ferrer Maia (USJT; FAM)
Minicurrículo
- Doutor e Mestre pela Universidade Estadual de Campinas, UNICAMP; Graduado em Artes Visuais pela UFPel; atua como Diretor de Arte, Artista Visual, Professor e Pesquisador.
Ficha do Trabalho
Título
- A DIREÇÃO DE ARTE NO CINEMA DE RISCO: O COLETIVO ATOS DA MOOCA
Resumo
- Pretendemos com esse trabalho, apresentar como a Direção de Arte foi trabalhada nos filmes do coletivo Atos da Mooca – “Ressuscita-me” e “A Luta Vive”, apresentando o processo de criação e como os elementos cenografia, figurino, objetos e maquiagem foram integradas nas imagens poéticas e simbólicas dos filmes, caracterizados como cinema de risco.
Resumo expandido
- O cinema de risco utiliza-se de feituras arriscadas, do improviso mesclado com o planejamento. De outra maneira, o cinema de risco está na dimensão gerada pela incerteza, pela “probabilidade” de ocorrer perdas e ganhos (BERNSTEIN, 1997).
Nos filmes do coletivo Atos da Mooca “Ressuscita-me” (2016) e “A Luta Vive” (2017), o risco está no fazer, no discurso e na estética visual e sonora. Priorizou-se o granulado da película e o preto-branco. O dispositivo é o Super 8, que possibilita algumas técnicas como a chamada frame único ou single frame, explorada pioneiramente pelos cineastas subterrâneos como Marie Menken (1909-1970) e Jonas Mekas (1922-2019) (BETTIM, 2014; SCHLEMOWITZ, 2019).
As imagens dos filmes do Atos da Mooca foram captadas em uma única tomada, montagem linear, com referências nos cinemas de vanguarda do início do século XX. As trilhas sonoras dos filmes foram criadas ao vivo, no momento da exibição, com performances sonoras capazes de compartilhar experiências sensíveis com os músicos, realizadores e público.
Entre os discursos está presente o corpo político (FOUCAULT, 1996) e a dobra do espaço-tempo com imagens representativas de um passado de conflito do indivíduo faber com o Estado (AGAMBEM, 2009), que se intercalam com imagens reais do tempo presente, de conflitos e manifestações populares. Cinema arriscado, cinema do improviso.
Assim sendo, o foco dessa apresentação é discorrer sobre os elementos da Direção de Arte (cenografia, figurino, objetos e maquiagem) nos cinema de risco do coletivo Atos da Mooca, levando em consideração o processo de criação da direção de arte e a relação com as três categorias de Direção de Arte (MAIA, 2017).
O coletivo é formado por um grupo multidisciplinar de profissionais da imagem, artistas e professores, que também envolviam os estudantes nos projetos. Sobre o processo de criação realizado pelo coletivo, pautou-se na relação afetiva entre os membros, na memória, nas imagens poéticas e nas trocas de ideias não coercitivas. Enquanto registros do processo de criação para análise há anotações sobre as discussões e levantamentos de ideias com os membros do coletivo, imagens de referências estéticas, esboços, concept art, storyboard e fotos da produção.
Em “Ressuscita-me” e “A Luta Vive”, os elementos plásticos aludem, pelo menos, a três tipos de categorias: o funcional; o belo; e o simbólico/conceitual. Essa classificação tem como principal referência os estudos da imagem de Rancière (2009). O filósofo francês estabelece três regimes para a imagem: o ético; o poético; e o estético.
A categoria funcional é caracterizada pelos aspectos representativos, miméticos. Na categoria do belo, a Direção de Arte ganha forte destaque pela qualificação formal (pontos, linhas, planos, volumes, textura, luz e sombra). A categoria conceitual apresenta elementos da Direção de Arte de maneira simbólica, ou seja, o significado não está vinculado à natureza funcional ou representacional dos elementos plásticos visíveis.
Em “Ressuscita-me” e “A Luta Vive”, essas três categorias da Direção de Arte são contempladas, contudo, existe a predominância da categoria “simbólica”. Com elementos dispostos de maneira não representativa ou naturalista, estabelecendo uma relação com o conceito de “pós-dramático” de Lehmann (2002). Para esse autor, a ausência do drama e a quebra da ilusão da realidade compõem a ruptura entre o dramático e o pós-dramático.
Contudo, pretendemos com esse trabalho, apresentar como a Direção de Arte foi trabalhada nos filmes do coletivo Atos da Mooca – “Ressuscita-me” e “A Luta Vive”, apresentando o processo de criação e como os elementos cenografia, figurino, objetos e maquiagem foram integradas nas imagens poéticas e simbólicas dos filmes.
Bibliografia
- AGAMBEN, G. O que é um dispositivo. In: O que é o contemporâneo? E outros ensaios. Trad. Vinícius Nicastro Honesko. Chapecó: Argos, 2009, p. 27-51.
BERNSTEIN, P. O desfio aos deuses: A fascinante história do risco. Rio de Janeiro: Campus, 1997.
BETTIM, P. O cinema de Jonas Mekas. Dissertação de mestrado defendido em 2014. Pós-Graduação do Instituto de Artes da UNICAMP. Disponível em http://repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/285329/1/Bettim_Priscyla_M.pdf. Acessado em 19/04/2019.
FOUCAULT, M. Vigiar e punir: nascimento da prisão. Petrópolis: Vozes, 1996.
LEHMANN, H. T. Teatro pós-dramático. São Paulo: Cosac&Naify, 2002.
MAIA, I. F. Três estágios da direção de arte: representativo, belo e simbólico. SOCINE, 2017. Disponível em https://www.socine.org/encontros/aprovados-2017/?id=16885. Acessado em 19/04/2019.
PERNIOLA, M. Do sentir. Lisboa: Editorial Presença, 1993.
RANCIÈRE, J. A partilha do sensível. São Paulo: Ed. 34, 2005.