Trabalhos Aprovados 2019

Ficha do Proponente

Proponente

    Carlos Eduardo da Silva Ribeiro (UFRGS)

Minicurrículo

    Doutorando junto ao Programa de Pós-Graduação em Comunicação (UFRGS) Mestre em Sociologia (UFPEL), tendo desenvolvido dissertação como bolsista CAPES acerca do cinema de Adirley Queirós. Participa do grupo de pesquisa Processos Audiovisuais (PROAv/UFRS). Participou dos grupos “Interseccinalidades” (UFPEL) e “Diferenças, mídia e sociedade” (UFSM). Atuou como professor para cursos de pós-graduação do Grupo Verbo Educacional, em Porto Alegre/RS.

Ficha do Trabalho

Título

    Brasília no longa-metragem “Branco Sai, Preto Fica” de Adirley Queirós

Seminário

    Cinemas pós-coloniais e periféricos

Resumo

    Adirley Queirós é um diretor de cinema da Ceilândia/DF. A presente análise indaga como o seu penúltimo longa-metragem, Branco Sai, Preto Fica (2014), representa Brasília em suas relações com a citada cidade-satélite. Ao lançar mão de elementos documentais articulados com outros de ficção-científica, o filme tematiza os limites epistemológicos e geográficos do projeto modernista que conduziu a construção da Capital Federal, propondo a sua releitura a partir das vozes e experiências de sujeitos física e simbolicamente violentados a partir desse processo segregacionista: os ceilandenses, o “Outro” de Brasília.

Resumo expandido

    A presente pesquisa, apoiada pela Capes, é resultado e desenvolvimento da minha dissertação de mestrado em Sociologia na Universidade Federal de Pelotas, onde analisei a representação da Ceilândia no cinema de Adirley Queirós. A análise aqui proposta se centra na representação de Brasília em Branco Sai, Preto Fica (Adirley Queirós, 2014); cidade que se encontra na narrativa do longa-metragem reiteradamente em uma relação de diferenciação com Ceilândia. A Capital Federal, quase ausente do conjunto de imagens do filme, se faz presente no universo diegético através de múltiplos dispositivos impessoais de controle, bem como dos relatos e experiências dos sujeitos ceilandenses; elementos os quais analisaremos.
    A invasão do baile do Quarentão pela polícia – braço do Estado e, portanto, da vizinha Brasília – e a falta de reparação estatal para essas vítimas figuram no proposto pelo filme como manifestações de um racismo de Estado operante no Brasil pós-redemocratização, desacreditando a explicação da “democracia racial” já desacreditada por Antônio Sérgio Guimarães (2002). Os relatos e experiências dos sujeitos no filme sugerem que o controle policial/estatal, no caso do Distrito Federal, se volta enfaticamente contra aqueles marcados como “outros” a Brasília.
    O discurso oficial durante a construção de Brasília fomentava o “nacionalismo brasileiro”, a modernização, um espaço diferente da então Capital Federal Rio de Janeiro, marcada já na época pela clara segregação social (GOUVÊA, 1998; HOLSTON, 1993). Ironicamente, Ceilândia é fruto de um dos consecutivos processos que removeram população pobre/não-branca do Plano Piloto logo após a construção da nova capital. Esse processo de exclusão territorial se costura na narrativa à referida ação policial, simbolizando a continuidade de uma relação violenta e hierárquica entre as cidades.
    Branco Sai, Preto Fica refere constantemente a Brasília, apresentada como um espaço inacessível tanto à câmera quanto aos personagens. As imagens da Capital são rarefeitas. Para a construção da Ceilândia, lança mão de elementos de ficção-científica que apresentam a cidade-satélite como distópica e sitiada pelo controle estatal – através da “policia do bem estar social”, mecanismo impessoal de controle do centro sobre a periferia -, acentuação paródica que simultaneamente nos afasta da “realidade social” e, por sua ênfase, nos aproxima das subjetividades e experiências dos sujeitos que participam criativamente da obra. Os recursos ficcionais também permitem-lhes reconstruir na narrativa as relações de poder e de diferenciação pelas quais são constituídos.

Bibliografia

    GOUVÊA, L. A capital do controle e da segregação Social. In PAVIANI, Aldo. A conquista da cidade. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1998. (pp. 75-96).
    GUIMARÃES, Antônio Sérgio Alfredo. Classes, Raças e Democracia. São Paulo: Editora 34, 2002.
    HOLSTON, James. A cidade modernista: uma crítica de Brasília e sua utopia. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.
    SINHORETTO, Jacqueline; et al. A filtragem racial na seleção policial de suspeitos: segurança pública e relações raciais. In: LIMA, Cristiane Pereira; BAPTISTA, Gustavo Camilo; FIGUEIREDO, Isabel Seixas. Segurança pública e direitos humanos: temas transversais. Brasília: Ministério da Justiça, Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP), 2014. (pp. 121-160).