Trabalhos Aprovados 2019

Ficha do Proponente

Proponente

    Silvia Okumura Hayashi (FAAP)

Minicurrículo

    Silvia Hayashi é doutora em Meios e Processos Audiovisuais (Universidade de São Paulo – Escola de Comunicações e Artes). Foi bolsista da CAPES e pesquisadora visitante na York University (Toronto, Canadá). Trabalha como montadora e realizadora de projetos audiovisuais. Foi professora temporária do Curso Superior do Audiovisual da ECA-USP. É professora de montagem do curso de Cinema da Fundação Armando Álvares Penteado.

Ficha do Trabalho

Título

    Timecodes e frame rates: uma trajetória do pulso cinematográfico

Seminário

    Montagem Audiovisual: reflexões e experiências

Resumo

    Timecode é uma sequência numérica de oito dígitos. O timecode é uma ferramenta chave do audiovisual, ele é o relógio mestre que sincroniza imagens e sons. Ele conta e indica a frequência do tempo, o frame rate. O timecode é um derivado da eletricidade e do vídeo e transita com fluidez pelo âmbito digital: ele pode tomar a forma do som, texto, imagem, metadata. Com a difusão das imagem estereoscópicas, estamos na emergência do surgimento de um novo frame rate e um novo timecode.

Resumo expandido

    Timecode é uma sequência numérica de oito dígitos. Ele é o relógio mestre da produção audiovisual. As formas e usos do timecode podem ser abrangentes e variadas: ele é uma ferramenta de contagem, indexação, uma metadata (RATCLIF, 1993). O timecode pode ser gravado sob a forma de som, imagem, dados. Ele pode se esconder entre intervalos verticais de fitas de vídeo ou ser visualizado como um item de menu em softwares de edição não-linear. O timecode é também uma informação que pode ser obtida através do processamentos de uma gravação de áudio. As decisões técnicas e padronizações do timecode são definidas pela SMPTE – Society of Motion Pictures and Television Engineers. Trata-se de um instrumento de alta precisão, atualmente quantificada com o número de uma parte por milhão. Apesar de invisível nas imagens que chegam às telas, o timecode está incrustado na produção audiovisual. Não por coincidência, o filme Timecode, dirigido por Mike Figgis em 2000 narra uma história em tempo real na qual personagens transitam por uma tela dividida em quatro quadrantes sincronizados no tempo.

    O timecode é um derivado do vídeo e da eletricidade. Ele possui portanto frequências regionais que decorrem da quantidade de ciclos da corrente elétrica em cada região geográfica. A chegada da cor na transmissão televisiva acarretou uma mudança de velocidade no padrão de transmissão da televisão no sistema NTSC (National Television System Comitee) . Os números assim começam a se proliferar: 25fps, 30fps, 29.97fps. Como todo aparato eletrônico, o timecode está sujeito a falhas, quebras, derivas. Existe toda uma literatura técnica dedicada às patologias do timecode, sejam elas de natureza tecnológica ou semântica, uma vez que a terminologia do timecode incluem termos tão surpreendentes ou reveladores quanto master e slave (PEMMARAJU, 2011).

    O cinema em sua existência em celuloide passou ao largo das flutuações do timecode, mas não da eletricidade. No cinema sonoro, era de 16 a quantidade de frames registrada a cada segundo. Com a chegada do som, este número passa a 24 quadros por segundo, uma quantidade de amostras suficiente para reproduzir o movimento e o áudio com fidelidade. Em Montage, mon beau souci, texto publicado na revista Cahiers du Cinema em dezembro de 1956, Jean-Luc Godard especula que se a imagem o olho do cinema, a montagem é pulso ou a batida do coração cinematográfico (GODARD, 1956). O movimento na imagem cinematográfica se dá pela sucessão de quadros estáticos capturados na frequência de 24 amostras por segundo (DOANE, 2003). Numa analogia podemos dizer que o pulso cinematográfico, desde o advento do cinema sonoro em 1933, palpita na frequência de 24 batimentos por segundo.

    A substituição do celuloide pela imagem digital trouxe para a produção cinematográfica todas as questões de frequência e contagem enfrentadas pelo vídeo. Timecodes, frame rates, eletricidade, números e mais números, uma precisão ímpar na contagem e na sincronização entre dispositivos de produção audiovisual e a hora padrão. Uma obra audiovisual como The Clock (2010), de Christian Marclay, uma instalação audiovisual que nos mostra um filme de 24 horas que corre em sincronia absolta com o relógio é ao mesmo tempo uma obra tecnicamente monumental e uma reflexão sobre a natureza tecnológica do tempo cinematográfico (KRAUSS, 2011).

    Com o surgimento da projeção estereoscópica o frame rate da produção audiovisual está prestes a adotar uma nova frequência. Os 24 quadros por segundo da imagem monoscópica não atendem mais às necessidades de fidelidade da estereoscopia. A decisão por um número específico passará invevitavelmente por questões de engenharia de vídeo, qualidade da imagem e interesses econômicos dos agentes envolvidos em toda a cadeia de produção audiovisual. Um novo frame rate e um novo timecode em breve serão definidos, mudando um padrão definido em 1933 e assim batida do coração cinematográfico ganhará uma nova frequência padrão.

Bibliografia

    BISHOP, C. “Digital Divide: Contemporary Art and the New Media” in Artforum Vol. 51. No. 1 September 2012.
    DOANE, M. A. The emergence of cinematic time: modernity, contingency and the archive: Cambridge: Harvard University Press, 2003.
    GODARD, J.L. “Montage, mon beau souci”. Cahiers du Cinema, n.65, p. 30-31, dez. 1956.
    GROOM, A. (org) Time. Cambridge: MIT Press, 2013.
    JAMESON, F. Postmodernism, or the Cultural Logic of Late Capitalism: Durham, Duke University Press, 1991.
    KRAUSS, R. E. Clock Time. October No. 136, Spring 2011 p.213-217
    PEMMARAJU, G. “Misbehaving Clocks: A Primary Pathology of Timecode Troubles” in http://www.3quarksdaily.com/3quarksdaily/2011/05/misbehaving-clocks-a-primarypathology-of-timecode-troubles.html
    RATCLIF, J. Timecode a user’s guide. New York: Focal Press, 1993.
    SCHIVELBUSCH, W. The Railway Journey: The Industrialization of Time and Space in the 19th Century: Berkley, University of California Press, 1986