Ficha do Proponente
Proponente
- Ana Carolina Roure Malta de Sá (UnB)
Minicurrículo
- Doutoranda em Comunicação Social, na linha Imagem, Som e Escrita, pela UnB. Possui mestrado em Comunicação Social, na mesma linha, pela UnB (2014), especialização em Filosofia da Arte, pelo Instituto de Filosofia e Teologia do Estado de Goiás (2008) e graduação em Letras (português/inglês), pela PUC Goiás (2007). Ministrou as disciplinas Análise Fílmica e História da Arte e do Cinema I e II, no Instituto Mauá de Pesquisa e Educação.
Ficha do Trabalho
Título
- Sombras e deformação na direção de fotografia de Walter Carvalho
Seminário
- Teorias e análises da direção de fotografia
Resumo
- Guiado pelo método associativo de Aby Warburg e pelo conceito de anacronismo, este estudo investiga na direção de fotografia de Walter Carvalho o diálogo com diferentes momentos da história da arte na construção de sombras que dilaceram as formas e o modo como essa laceração pode evidenciar as deformações do universo interior dos personagens. A sombra enquanto transgressora das formas será investigada, a partir do entendimento de Didi-Huberman acerca do conceito de informe proposto por Bataille.
Resumo expandido
- Walter Carvalho é um diretor de fotografia do cinema brasileiro que busca desenvolver, a partir da reinvenção da linguagem cinematográfica, formalizações estéticas que geralmente tornam a direção de fotografia um elemento de destaque nas produções em que ele colabora. Grande parte das experimentações estéticas realizadas por ele ocorre a partir do diálogo intermidiático com a história da arte. Essa influência termina por se materializar em uma imagem que evoca efeitos pictográficos dentro das especificidades midiáticas do cinema. A impressão de qualidades próprias à pintura e à gravura é recorrente no trabalho que desenvolve com luz e sombra, aliás, o modo com que trabalha a relação/o embate desses elementos, produzindo fortes contrastes, muitas vezes subverte a forma naturalista de representação no cinema, como ocorre em produções como Lavoura Arcaica (2001), Crime delicado (2005), Veneno da Madrugada (2006), A erva do rato (2008). Nesses filmes, luz e sombra tornam-se personagens importantes, já que participam de modo enfático na construção de sentidos da narrativa, constituindo-se como elementos estruturantes. Neste trabalho, daremos ênfase ao papel transgressor da sombra nas narrativas mencionadas anteriormente; transgressor no sentido de dilacerar as semelhanças, de deformar. A respeito do próprio entendimento de Walter Carvalho sobre esse elemento, para ele a sombra serve para proteger a cena, já que possibilita os mistérios.
Guiado pelo método de pensar por e com imagens de Aby Warburg (2010, 2012, 2015), bem como por suas reflexões e também as de Georges Didi-Huberman (2015) acerca do conceito de anacronismo, este estudo busca evidenciar na direção de fotografia de Walter Carvalho os reencontros de temporalidades da história da arte na construção de sombras que dilaceram as formas. Além disso, este estudo também objetiva entender de que modo essa laceração, que é ao mesmo tempo uma transgressão da forma, pode metaforizar as deformações do universo interior dos personagens, possibilitando, assim, reflexões à respeito da importância do plano de expressão na construção do plano do conteúdo.
Para identificar as sobrevivências na imagem, ou seja, verificar os traços do passado que permanecem no presente das narrativas cinematográficas em questão utiliza-se o método associativo do Atlas Mnemosyne (2010) de Aby Warburg, “que se constitui como instrumento de estudo ao colocar, lado a lado, as fotografias das imagens para relacioná-las, compará-las e ordená-las segundo hipóteses levantadas ao longo da pesquisa” (KERN, 2010, p.16). É desse modo que se pretende estabelecer as articulações e as associações entre as sombras produzidas por Walter Carvalho nos filmes em que assina a direção de fotografia e as sombras de artistas pertencentes a diferentes momentos da história da arte, como Goya, Rembrandt, Caravaggio, Goeldi, Kollwitz. As reflexões acerca da sombra enquanto transgressora das formas serão trabalhadas a partir do entendimento de Georges Didi-Huberman do conceito de informe, proposto por Georges Bataille, na revista Documents, e serão fundamentais para pensar as transgressões do próprio personagem nas narrativas. Para corroborar essas reflexões, o trabalho também conta com as ideias de deformação de Jacques Aumont (2011) e de faculdade desfiguradora da luz de Fabrice D’allones (2008).
Bibliografia
- AUMONT, J. O olho interminável: cinema e pintura. São Paulo: Cosac & Naify, 2011.
D’ALLONES, F. R. La luz en el cine. Madrid: Cátedra, 2008.
DIDI-HUBERMAN, G. Diante do tempo: história da arte e anacronismo das imagens. Belo Horizonte: UFMG, 2015.
_____. A semelhança informe: ou o gaio saber visual segundo Georges Bataille. Rio de Janeiro: Contraponto, 2015.
KERN, M. L. B. Imagem, historiografia, memória e tempo. ArtCultura, Uberlândia, v. 12, n. 21, p. 9-21, jul.-dez. 2010.
OLIVEIRA, R. L. S. Direção de fotografia e pintura: da analogia à deformação. In: ENCONTRO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ESTUDOS DE CINEMA E AUDIOVISUAL – SOCINE, 21, 2018, João Pessoa. Anais… São Paulo, 2018. p. 637-644.
WARBURG, A. Atlas Mnemosyne. Madri: Akal, 2010.
_____. O nascimento de Vénus e A primavera de Sandro Botticelli. Lisboa: KKYM, 2012.
_____. Histórias de fantasma para gente grande: escritos, esboços e conferências. São
Paulo: Companhia das Letras, 2015.