Ficha do Proponente
Proponente
- Lívia Perez de Paula (ECAUSP)
Minicurrículo
- Doutoranda em Meios e Processos Audiovisuais (ECAUSP), mestra em Multimeios e graduada em Midialogia pela Unicamp. É pesquisadora do Laboratório de Investigação e Crítica Audiovisual (LAICA), do Mirada – Estudos de Gênero e Audiovisual e membro do conselho editorial da Revista Movimento. Dirigiu os documentários ‘Lampião da Esquina’ e ‘Quem Matou Eloá?’. Atua como organizadora do Cineclube das Outras e curadora de festivais.
Ficha do Trabalho
Título
- COMULHER: A experiência do vídeo feminista na redemocratização
Seminário
- Mulheres no cinema e audiovisual
Resumo
- Entre 1985 e 1998 o COMULHER produziu trinta e seis audiovisuais de diferentes durações, estéticas e autorias. O conjunto de vídeos assume uma estética documental e na maioria das vezes de registro de eventos específicos ou campanhas relacionados às mulheres. O objetivo desta comunicação é apresentar o acervo dos vídeo e aventar possibilidades de analise deste material considerando o panorama político, econômico e social do período.
Resumo expandido
- A partir dos anos 1980 surgem publicações da imprensa alternativa mais atentas à noção das diferenças e questões de interseccionalidade como o Mulherio (1981-87), e especialmente o Chanacomchana (1981-87) , que diferentemente das publicações dos anos 1970, se pautavam em especificidades femininas e pautavam as invisibilidades e opressões dentro do próprio feminismo discussão praticamente inexistente na imprensa feminista da década anterior. É também neste período que acontece a popularização do vídeo no Brasil. Há neste momento uma conjuntura que faz com que a realização audiovisual se vincule aos movimentos sociais produzindo ‘vídeos populares’ atreladas à agenda política e utilizados na difusão de informações, conscientização e mobilização de pautas de grupos específicos.
A partir de 1985, Márcia Meireles, Maria Angélica Lemos e Shuma Shumaher, que vinham do grupo Mulher Dá Vida, fundam o COMULHER – Comunicação Mulher em 1985. Atuante até os dias atuais o coletivo COMULHER define suas produções como vídeos com temáticas relacionadas às mulheres e aos direitos humanos: saúde, sexualidade, direitos LGBT, educação, ativismos, negritude, lesbianidades, tecnologias, violência, participação política, cultura, comunicação, meio ambiente, feminismos.
Entre 1985 e 1998 o COMULHER produziu trinta e seis audiovisuais em U.matic de diferentes durações e com alternância de mulheres assumindo a direção. O conjunto de vídeos assume uma estética documental e na maioria das vezes de registro de eventos específicos ou campanhas relacionados às mulheres como em Márcia Presente (Márcia Meireles e Maria Angelica Lemos, 1991) em que as diretoras documentam as manifestações na cidade de Santos em torno do julgamento do caso de Márcia Leopoldi, cruelmente assassinada pelo ex-namorado, ou Gênero (Márcia Meireles, 1996) que documenta o seminário realizado no Coletivo Feminista Sexualidade e Saúde com a Professora Margareth Rago sobre o conceito de gênero. Entretanto outros temáticas e abordagens tem espaços no grupo como em Grafite, Arte Urbana (Maria Angélica Lemos, 1989), uma homenagem aos grafiteiros de São Paulo, que fizeram dos muros da cidade, uma verdadeira galeria de arte, Osvald, um homem de profissão (Márcia Meireles, 1991) sobre a vida e obra do escritor, ou ainda Missa Fêmea (Márcia Meireles e Maria Angelica Lemos, 1993), uma vídeo adaptação da peça teatral “Missa Fêmea” de Maria Lúcia Vidal com o Grupo Teatral Feminista Maria Vai com as outras.
A produção audiovisual feminista no contexto do vídeo popular, trazia reivindicações dos grupos de mulheres e suas intersecções, por isso segundo uma das diretoras atuantes no período, Jacira Melo, a abordagem da maioria dos vídeo era didática com objetivo de politizar e propagandear as questões do grupo. Além de temas em voga nas campanhas como ligados à saúde da mulher ou alertando para a violência contra a mulher, os vídeos buscam promover uma outra imagem da mulher, destacando características alternativas àquelas da imagem padrão da mulher que imperava nos meios de comunicação hegemônicos e tradicionais. Essa preocupação tinha objetivo de desconstruir a imagem da mulher como mercadoria ou objeto sexual. Assim, as narrativas dos vídeos feministas priorizavam a ênfase à subjetividade de corpos e etnias diversas que pudessem romper com os padrões de beleza estabelecidos.
Esta comunicação busca apresentar parte do acervo do COMULHER e discutir as pautas e escolhas estéticas e formatos de produção destes vídeos levando em consideração o contexto histórico, político e econômico do período de produção dos vídeos.
Bibliografia
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