Trabalhos Aprovados 2019

Ficha do Proponente

Proponente

    Ana Paula Nunes (UFRB)

Minicurrículo

    Doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas – UFBA (2016), tendo realizado Doutorado Sanduíche na Universidade do Algarve, Portugal (2014). Mestre e graduada em Comunicação/ Cinema pela UFF. Atualmente é Professora Adjunta do Curso de Cinema e Audiovisual da UFRB, onde também é tutora do PET Cinema e líder do Grupo de Pesquisa Quadro a Quadro – projetando ideias, refletindo imagens. É idealizadora e coordenadora da Mostra de Cinema Infantojuvenil de Cachoeira – ManduCA.

Ficha do Trabalho

Título

    Experiência e memória cinematográficas na partilha de uma curadoria

Seminário

    Cinema e Educação

Resumo

    Sob a perspectiva da pesquisa e extensão universitária, a interface cinema e educação atua como importante mobilizador de uma atuação ética frente aos desafios de uma reconquista do espaço público e da histórica dificuldade de preservação da memória, que enfrentamos também no campo cinematográfico. Neste sentido, esta comunicação visa refletir sobre a experiência do Programa de Educação Tutorial – PET Cinema UFRB: pesquisa e curadoria; Mostra de Cinema Infantojuvenil de Cachoeira – ManduCA.

Resumo expandido

    Assim como ocorreu com a atividade de leitura, que foi muito praticada de forma oral e coletiva nas apropriações criativas da cultura letrada, antes de se constituir de forma individualizada e silenciosa, a recepção cinematográfica passa a ser cada vez mais individual (os filmes são vistos em home theatre, computadores, tablets, celulares), e se assiste a mais filmes do que em qualquer época anterior. Mas além da dimensão coletiva que se transformou em individual, gerou-se uma nova forma de se relacionar com as imagens, em que predominam a instantaneidade, simultaneidade e fragmentação.
    Atualmente, vivencia-se um resgate das práticas coletivas de leitura (como em programas educativos de museus ou projetos de rodas de leitura) e de visionamento de filmes (sobretudo através da reativação do cineclubismo). Na contramão da individualização da experiência cinematográfica, amplia-se a consciência da importância da ocupação do espaço público. Segundo Canclini:

    Só através da reconquista criativa dos espaços públicos, do interesse pelo público, o consumo poderá ser um lugar de valor cognitivo, útil para pensar e agir significativa e renovadoramente na vida social. Vincular o consumo com a cidadania requer ensaiar um reposicionamento do mercado na sociedade, tentar a reconquista imaginativa dos espaços públicos, do interesse pelo público. (2006, p. 72)

    Em geral, a luta pela reconquista imaginativa do interesse pelo público tem sido um esforço do campo cinema e educação, como um todo. Outra dimensão relevante da literacia fílmica é a construção de uma memória cinematográfica, como um patrimônio cultural que deve ser valorizado e preservado.
    Contudo, Laurent Jullier (2012) aponta uma contradição na cultura francesa de cinefilia (um grande referencial de saberes e práticas em prol da literacia fílmica), transferindo para o ensino cinematográfico a exigência de originalidade e criatividade, além de privilegiar cânones como uma nova aristocracia de artistas. Para Jullier, a intolerância é particularmente forte no campo cinematográfico, e onde se cultiva a distinção, cultiva-se a exclusão (2012). Jullier reafirma, então, a defesa de um encontro com a diferença, quando designa que educar significa, por um lado, desenvolver a capacidade de viver com pessoas que não têm a mesma origem, visões de mundo ou o mesmo ponto de vista artístico; por outro lado, oportunizar a escrita de si (em uma perspectiva foucaultiana), através da experiência cinematográfica, que nos permite vivenciar várias formas de empatia com relação a personagens e mundos muito diferentes de nós, narrando tanto como nós somos, quanto o que podemos ser (JULLIER, 2012, p. 3).
    Atendendo às duas facetas de sua definição de ensino de cinema, Jullier (2012) propõe que se faça uma abordagem multi ou interdisciplinar, que contextualize o filme e atente para a recepção, pois é a emoção humana que permite a partilha. O autor está interessado em compreender as relações do filme com a vida cotidiana, com o que o espectador “faz com o filme”, priorizando o diálogo, o compartilhamento e a transdisciplinaridade.
    Neste sentido, buscamos refletir sobre a memória cinematográfica que queremos preservar e de que maneiras poderíamos atuar no ensino de cinema com esse horizonte em vista. Sob a perspectiva da pesquisa e extensão universitária, cremos na interface cinema e educação atuando como importante mobilizadora de uma atuação ética frente aos desafios da histórica dificuldade de preservação da memória, que enfrentamos no campo cinematográfico.
    Esta comunicação visa apresentar a experiência do Programa de Educação Tutorial – PET Cinema UFRB, que conjuga ensino, pesquisa e extensão – na tentativa de reconquistar o interesse pelo espaço público e de construir uma memória cinematográfica coletiva e afetiva, sem hierarquizações e valorizando a transdisciplinaridade. Tomaremos como base duas atividades: 1) pesquisa e curadoria; 2) Mostra de Cinema Infantojuvenil de Cachoeira – ManduCA.

Bibliografia

    BOURDIEU, Pierre. A economia das trocas simbólicas. 6. ed. SP: Perspectiva, 2007.
    ______. O poder simbólico. 2.ed. RJ: Bertrand Brasil, 1998.
    CANCLINI, Néstor García. Diferentes, desiguais e desconectados. 2 ed. RJ: UFRJ, 2007.
    ______. Consumidores e Cidadãos: conflitor multiculturais da globalização. RJ: Editora UFRJ, 2006.
    FOUCAULT, Michel. A escrita de si. In: O que é um autor? Lisboa: Passagens, 1992. p.129-160.
    JULLIER, Laurent. Analyser un film: De l’émotion à l’interprétation. Paris: Flammarion, 2012.
    ______. Qu’est-ce qu’un bon film ? 2 ed. (remaniée et actualisée) Paris: La Dispute, 2012.
    RANCIÈRE, Jacques. O mestre ignorante: cinco lições sobre a emancipação intelectual. BH: Autêntica, 2005.
    ______. A revolução estética e seus resultados. New LeftReview14, Março-Abril 2002, pp. 133-15.
    SODRÉ, Muniz. Reinventando a educação: diversidade, descolonização e redes. Petrópolis: Vozes, 2012.