Ficha do Proponente
Proponente
- Ana Maria Antunes Monteiro (UFSCar)
Minicurrículo
- Ana Maria Antunes Monteiro é graduada em Comunicação Social (Habilitação em Jornalismo) pela Universidade Federal de Goiás, especialista em Cinema e Audiovisual: Linguagens e Processos de Realização pela Universidade Estadual de Goiás e atualmente discente do Programa de Pós-Graduação em Imagem e Som a nível de mestrado na Universidade Federal de São Carlos. É membro do grupo de pesquisa Cinemídia e atualmente estuda cinema sul-coreano contemporâneo e teoria de cinema feminista.
Ficha do Trabalho
Título
- A Criada: um estudo sobre a representação feminina no cinema hanryu
Resumo
- Essa comunicação visa analisar a representação e sexualidade femininas no filme A Criada (2016) dirigido por Park Chan Wook. Partindo do pressuposto da objetificação feminina como algo impregnado no cinema, busca-se compreender o olhar masculino durante a trama e a representação da mulher nas condições da sociedade patriarcal do cinema contemporâneo hanryu. Além disso, questiona-se a tentativa de romper com as expectativas de satisfação do expectador masculino através da narrativa.
Resumo expandido
- O termo hanryu, que significa Onda Coreana, foi criado por jornalistas chineses no fim da década de 1990 (JÚNIOR, 2008) para tratar da profunda transformação e expansão do cinema sul-coreano. Novos diretores estabeleceram um ritmo de produção que dominou o mercado do leste asiático e que, atualmente, domina também o ocidente: já é possível consumir produtos audiovisuais para TV e para salas de cinema na Netflix, uma das maiores plataformas de streaming. Consumir tais produções traz novas questões sobre gêneros cinematográficos, história, política e representação feminina. É possível ver personagens estereotipadas que vão de Maria à Madalena, santas ou promíscuas. Nesse quesito, o último longa-metragem do diretor Park Chan Wook, A Criada (2016) ganhou grande visibilidade ao trazer uma trama de sedução e mistério e levantando questões sobre o olhar masculino na dimensão diegética e fora dela.
Ao escrever Prazer Visual e Cinema Narrativo, Laura Mulvey (2003) procurou compreender as sensações do espectador masculino no cinema, a partir do princípio do voyeurismo e da identificação com o protagonista homem. Em A Criada, essa aproximação pode surgir com o Conde Fujiwara, um falsificador coreano que se passa por japonês, cujo objetivo é se casar com Hideko e roubar fortuna de seu tio durante o período colonial japonês na Coreia. A expectativa da conquista e da consumação sexual é o que atrai e mantém a atenção do público masculino através da escopofilia, isto é, a transferência do prazer ao próprio orgão genital a partir da observação de outros. Ann Kaplan (1995) afirma que o cinema baseado nesse instinto transforma o espectador num voyeur.
O outro lado da escopofilia é a representação da mulher. Hideko, apresentada como vítima, é forçada pelo tio, um coreano naturalizado japonês, a realizar leituras eróticas para seus convidados. Isto é, numa manutenção do sistema patriarcal na qual a mulher, segundo os estudos de Mulvey (2003) se torna presa pela ordem simbólica em que o homem exprime suas fantasias e obsessões, e é colocada como portadora de significado e não produtora de significado. A perturbação da ordem começa quando o Conde e Hideko planejam roubar a fortuna do tio e colocam uma criada, Sook Hee, como parte chave para a realização do objetivo.
Adrienne Rich (2010) aborda que o cinema reforça o controle da mulher através da maternidade, família tradicional, casamento e heterossexualidade. A orientação sexual, segundo ela, é a principal instituição política que retira o poder do sexo feminino. Ou seja, a partir da homossexualidade, Hideko seria capaz de se livrar do domínio patriarcal de um tio que explora sua exposição e sexualidade como objeto de desejo dos convidados e do Conde Fujiwara, que mais do que um parceiro de golpe também deseja manter relações com ela.
À medida que o relacionamento das jovens avança, elas veem a necessidade de romper com a influência e o domínio masculinos em suas vidas. A fortuna que o Conde combinou de dividir com Hideko e com Sook-Hee, fica completamente com o casal, enquanto o golpista é devolvido ao tio que o tortura até a morte, ameaçando até mesmo castrá-lo. Por mais que o diretor se valha do voyeurismo no começo da história (e de seu próprio olhar masculino), a expectativa de realização masculina é completamente destruída já que nenhum homem consegue possuir Hideko. Além das moças ficarem ricas, Sook-Hee destrói toda a coleção de literatura erótica do tio de sua companheira, reiterando a mensagem de que mulheres não são objetos a serem possuídos. Uma vez livres dessas imposições da sociedade patriarcal, o casal pode finalmente começar uma nova vida.
Bibliografia
- JÚNIOR, Luiz Carlos Oliveira. De volta para o futuro: a nova era do cinema sul-coreano. In: BAPTISTA M; MASCARELLO F (orgs.). Cinema Mundial Contemporâneo. Campinas, São Paulo: Papirus Editora, 2008. p 321
KAPLAN, E. Ann. A mulher e o cinema: os dois lados da câmera. Rio de Janeiro: Artemídia/ Rocco, 1995.
MELEIRO, Alessandra(org.). Cinema no Mundo: indústria, política e mercado v. 3. São Paulo: Escrituras, 2007. ROSS, Mirian. Cinema sul-corean: relação com os mercados internacionais. p 27
MULVEY, Laura. Prazer Visual e Cinema Narrativo. In. XAVIER, Ismail. A experiência no cinema. 3a Edição Rio de Janeiro : Edições Graal, 2003.
_____. Reflexões sobre “Prazer Visual e Cinema Narrativo” inspiradas por Duelo ao Sol de King Vidor (1946). In. RAMOS, Fernão Pessoa (org). Teoria contemporânea do cinema, v.1. São Paulo: SENAC SP, 2005